José Renato Nalini Opinião

Ambiente é saúde

A crescente preocupação com o clima não é expressão de apego à ecologia, senão consciência de que ele afeta a saúde humana. É legítimo o amor à natureza, o respeito às árvores, o culto à água. Porém, o que motiva a ciência a procurar estratégias de adaptação das cidades para o enfrentamento dos fenômenos extremos é a vida dos seres racionais.
São Paulo está muito bem servida de cientistas que se devotam a essa causa. Hoje, o alvo de nossa reflexão é o respeitado médico Professor Paulo Saldiva. Estudioso das vicissitudes que acometem o ser humano, especializou-se no trato das enfermidades climáticas.
Ele comprovou que as ondas de calor em São Paulo causam mais mortes do que as ondas de frio. Tem plena consciência de que as mudanças climáticas resultam do consumo humano. E como a vítima preferencial dos eventos resultantes das emergências climáticas é o vulnerável, o mais carente, o despossuído, propõe que colocar a saúde humana no centro das discussões ambientais pode trazer a conscientização que o discurso cientista não conseguiu. É urgente que a humanidade altere, profundamente, o seu comportamento.
Ele indaga, de forma a nos fazer pensar: “Vamos conseguir adaptar a biologia do nosso corpo e a estrutura urbana na mesma velocidade que as mudanças ambientais estão ocorrendo?”. O enfrentamento dos graves e seríssimos desafios contemporâneos não depende apenas da ciência ou da tecnologia. Estas já foram explicitadas durante décadas. Agora, quem está com a palavra é a natureza.
Os cientistas recorrem à incorporação, aos alertas que já emitiram, de valores das ciências humanas. Faltam solidariedade, compaixão e dignidade. Quem está correndo perigo não é o planeta. É a humanidade e para salvá-la, são necessárias políticas públicas mais humanas e colaborativas. O momento é crítico e há quem sustente que já ultrapassamos o ponto de inflexão, após o qual a aventura dos racionais sobre a Terra já não será possível.
Paulo Saldiva conclama os seres de boa vontade a se arregimentarem: “Se a gente olhar, vamos ver que o estoque dos produtos ‘solidariedade e compaixão’, esse espírito colaborativo está rareando no almoxarifado das políticas globais. É o momento de a gente passar de uma situação de paciente, aquilo com que ele atua na medicina, para a criação de novos vínculos e dar condições para que políticas virtuosas prosperem no único planeta de que dispomos e confiram qualidade acrescida em nossas existências”.

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