Ainda é recorrente o “complexo de vira-lata” do brasileiro que só elogia o que é estrangeiro. Só que, em termos de energia verde, a solução para a humanidade encurralada pelas emergências climáticas, estamos bem. O relatório anual do Fórum Econômico Mundial sobre transição energética situa o Brasil em 15ª posição num ranking de cento e dezoito países. Ficamos na frente dos demais países latino-americanos e de grandes nações como o Reino Unido e os Estados Unidos.
Isso porque metade da matriz-energética brasileira provém de fontes renováveis. Isso significa estarmos três vezes à frente da média global, que não atinge quinze por cento. O Brasil dispõe de recursos naturais, hidrelétricas de grande porte, biomassa diversificada e vasto potencial em hidrogênio verde e biocombustíveis. Não é pouca coisa termos o etanol desde a década de setenta, a solução para o mundo imerso na crise do petróleo que aturdiu os dependentes desse insumo que já foi bom, mas agora – diante do uso excessivo – tornou-se um veneno que tem condições de acabar com qualquer espécie de vida sobre a Terra.
É urgente cuidar melhor do nosso patrimônio ambiental, não só a Amazônia, mas todos os biomas, igualmente sacrificados pelo desmatamento, mau uso do solo e especulação imobiliária. Os problemas advêm daquela nossa praxe: ousadia na normatização, miséria na prática. Há desafios estruturais de grande monta. Gargalos na infraestrutura de transmissão e distribuição. Acelerar o ritmo da eletrificação da frota da capital paulista, por exemplo, aguarda conexão à rede elétrica. O excesso de burocracia sufoca a eficiência do sistema. A insegurança regulatória e o vício da litigância em juízo afastam os investidores internacionais.
É preciso enfrentar o desmatamento, sendo ridículo e pueril dizer que o “desmatamento ilegal” tem prazo até 2030 ou 2040. Então, até lá, significa abolir o Código Penal e a fazer do Brasil uma terra sem lei?
Não basta o ufanismo de celebrar nossa colocação no ranking das perspectivas de transição energética. É preciso muito mais de realismo, pragmatismo e enfrentamento concreto dos problemas, em vez de discursos, de emendas impositivas, emendas pix, emenda de comissão, emendas que comprometem a economia tupiniquim e nos mantêm no limbo ético. Um limbo que é o inferno do verdadeiro desenvolvimento moral.
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