Editorial

Arquitetura

Estamos prestando, neste espaço destinado ao Editorial, uma homenagem ao professor Nelson Zanotti (já falecido), que durante anos escreveu artigos para este jornal na página dois. Assim, abrimos o espaço do Editorial para homenageá-lo, que, quando vivo, não teve oportunidade. Um grande abraço, professor..

Uma das minhas seduções como profissional do estudo da história das civilizações e também do meio-ambiente das populações primitivas é a arquitetura. Gosto de pensar, analisar e relacionar em todos os sentidos, todos os meandros de uma construção, no rebatimento antropológico e sociológico.

Arquitetura tem como fundamento nominal o prefixo “arqui”, de dupla significação; a primeira, no sentido de topo, elevação principal, teto, cobertura e a segunda, diz respeito a fato ou elemento antigo. Outro ângulo da classificação das construções é o seu uso e funções, muitas vezes relacionados com fatos históricos. De maneira geral e fundamental, é de uma importância para o ser humano a proteção contra as intempéries naturais, e isto é possível graças às casas, abrigos e muitas vezes até uma simples tenda, como nas populações indígenas.
Outra característica da mais alta transcendência é a revelação de inúmeros traços culturais pela arquitetura correspondente a determinado povo. Arquitetura sempre foi – hoje não mais – um símbolo da nacionalidade.
Na pré-história, talvez, a primeira construção trabalhada para ser domicílio foi a caverna, seja ela natural ou escavada artificialmente. Outro traço da arquitetura merece destaque: ela reflete, nas casas, construções e palácios, os índices e características geográficas, principalmente relativas ao clima e às estações do ano.
A história da civilização mostra períodos onde até motivações religiosas determinam uma arquitetura, como no caso de igrejas e de cidades fortificadas por muralhas defensivas. Assim, a Idade Média é uma continuação na arquitetura de fatos históricos e sociais. As lutas históricas entre povos e religiões determinam certos tipos de arquitetura, como é o caso das construções árabes, ou maometanas, na península ibérica.
O pensamento político, indiretamente, intimou o surgimento de bairros operá-rios típicos, como suas vilas proletárias. Apenas para concluir esta introdução ao assunto, digamos, que todo panorama do mundo atual tem uma marca constante, cujo símbolo é o arranha-céu. Dentro desse capítulo, surgem realidades deturpativas, como é o grave erro, em minha opinião, que é a construção de Brasília. A discussão, porém, deste fato, fica para depois. Por enquanto fiquemos tristes com os modernos edifícios de apartamentos, totalmente envidraçados, azuis, cor de rosa, amarelos, verdes – verdadeiras estufas sem janelas, mas gastando fortunas com ar condicionado que causa ou propicia resfriados e pneumonias.