
   Procurando por alcachofras no início da estação, me dei conta da importância das feiras livres para a cidade. São espaços a céu aberto, muitas pessoas comprando e outras vendendo mercadorias frescas, cheirosas, num burburinho significativo que só elas têm. Fui até uma delas numa terça-feira, na Rua Santos Dumont, no Centro de São Bernardo e me recordei das antigas feiras dos anos de 1950 .
   Quando criança ficava olhando o dono de um tambor enorme, extraindo óleo de cozinha lá de dentro, lentamente, usando uma alavanca e enchendo, aos poucos, a garrafa de um freguês. O óleo de cozinha era vendido na feira por litro, meio litro… Na banca de laticínios, os embutidos ficavam todos pendurados, e a balança Filizzolla lá estava para pesar a banha retirada da lata, o bacalhau, os queijos.
   Ao lado, havia uma barraca, tipo armazém, com todos os grãos imagináveis, a granel, que vendia tudo acondicionado em sacos de papel. Uma vez, vim segurando um saco com um quilo de grão de bico e ele se rompeu. Eu não tinha levado minha sacola de lona na feira e perdi a mercadoria, além de levar uma bronca da minha mãe. As embalagens plásticas ainda não existiam.
   Na banca de peixe, as pedras de gelo enormes eram quebradas ali mesmo para a conservação improvisada e o peixe escolhido era embrulhado em jornal, assim, sem cerimônia, como muitas outras mercadorias vendidas na feira. Sem os sacos plásticos, o grande embrulho de jornal ficava úmido muito rápido e nada cheiroso.
   Creio que por isso, até hoje, essa banca fica na extremidade da feira. É a última a ser visitada! As cebolas e batatas ficavam à mostra em sacos de estopa com a borda enrolada para serem vendidas.
   Já as frutas, tubérculos e legumes iam diretamente para a sacola do freguês e as verduras enroladas num papel poroso, que chamávamos de papel de pão, pois era muito usado nas padarias. Tudo isso acontecia embalado pelo som do velho realejo, cujo dono subia e descia a feira com seu periquito da sorte, distribuindo mensagens positivas, em troca de centavos.
   No final da feira, a garotada de 10 a 14 anos estava sempre a postos com carrinhos quadrados de madeira impulsionados por rodinhas de rolimã, feitos por eles próprios, afim de levar a mercadoria de quem lhes prometesse alguns trocados. A feira livre é um hábito enraizado na população mundial há mais de mil anos. Se alguém lhe disser que elas estão acabando, não acredite.
   Conforme o número de habitantes aumenta, mais feiras surgem. Aqui em São Bernardo já são 47 delas, espalhadas nos bairros e no centro da cidade. Duas delas são noturnas e todas estão sob o olhar da vigilância sanitária.
   Então, vamos para a feira, comprar nossos produtos prediletos ou então comer aquele pastel gostoso e concorrido, um verdadeiro programa paulista de toda a região da Grande São Paulo, a qual pertencemos, e que tem até prêmio para essa categoria.
Elexina N. Medeiros D’Angelo – integrante da AME (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo).

















 
			 
			 
			 
			     			 
			     			 
			     			
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