Editorial

As perspectivas do mercado imobiliário

   O sonho da casa própria faz parte, não só do imaginário coletivo brasileiro, mas de toda a população mundial. Porém, o cenário econômico, agravado no pós-pandemia, não se apresenta mais tão favorável a conquistar essa meta.
   Na Europa, a crise imobiliária está se alastrando por quase todos os países. Os preços das casas subiram, em média, 47% entre 2010 e 2022, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), e os preços dos aluguéis subiram 18% nos 27 estados-membros.
   Na Holanda, por exemplo, a moradia estava entre as principais preocupações da população, porém, os preços das casas dobraram na última década, e os aluguéis dispararam: o aluguel de um apartamento pode custar quase 1.000 euros (R$ 5.578 reais) e uma casa de três quartos pode custar 3.500 euros (R$ 19.523 reais) por mês, de acordo com o jornal The Guardian. Há escassez de moradias. São necessárias cerca de 400 mil casas para atender à demanda, contudo esses preços são inacessíveis em relação à renda média da população.
   Nos Estados Unidos, a situação não é diferente. Há crise no mercado imobiliário. Realizar o sonho da casa própria, ou mesmo vender a casa e mudar para outra, está cada vez mais difícil. A alta dos juros encareceu tanto os imóveis que muitos desistiram de comprar a casa própria. Com isso, os aluguéis dispararam. Em 2023, as vendas de casas e apartamentos nos Estados Unidos atingiram o menor nível desde 1995, segundo a Associação Nacional de Corretores. A situação foi iniciada em 2022, ainda na pandemia, quando o banco central norte-americano passou a aumentar os juros para controlar a inflação. As taxas dos bancos para financiar um imóvel mais do que dobraram e permanecem altas. Uma pesquisa mostrou que 57% dos locatários acham que nunca vão alcançar o sonho de ter a casa própria. Já 62% dizem que mal conseguem pagar as contas na localidade onde residem.
   Na China, a realidade do setor imobiliário continua desafiadora. Os preços de novos imóveis caíram pelo décimo mês consecutivo em abril, e os investimentos no setor imobiliário caíram 9,8% nos primeiros quatro meses de 2024. As vendas de imóveis também registraram uma queda de 20,2% em comparação com o ano anterior.
   No Brasil, a queda dos juros, a inflação sob controle e desemprego menor, tem colaborado para a recuperação do mercado imobiliário, ainda que não tão rapidamente. No mês de abril foi registrado um aumento na venda de imóveis em mais de 50 cidades no Brasil em 0,66%. O município que liderou as vendas em abril foi Curitiba (PR), que também registrou a maior alta nos preços do mercado imobiliário, 2,18%.
   A Grande São Paulo tem se destacado. A região recebeu 83 novos condomínios, com o total de 15,5 mil moradias e um valor geral de vendas (VGV) de R$ 7,7 bilhões. Santo André liderou o lançamento de imóveis novos em 2023, de acordo com a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Empraesp), seguida por Osasco e Cotia, em matéria publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo.
   Santo André disponibilizou 2.888 apartamentos, em 13 empreendimentos; seguida de Osasco, com 2.769 unidades, em 16 empreendimentos e Cotia, com 816 unidades em 9 condomínios. Santo André tem o segundo maior preço médio (R$ 8,8 mil/m²), só perde para Osasco (R$ 9,5 mil/m²). Em dezembro último, o prefeito Paulo Serra havia revelado em entrevista à Folha, que de cada 10 lançamentos imobiliários no ABC, 7 eram de Santo André.
   O cenário parece promissor, no entanto, segue com entraves, ainda sem perspectiva de melhora. Um deles é o alto índice de endividamento da população brasileira. Em março último, 78,1% das famílias afirmaram ter dívidas a vencer. Além disso, os brasileiros perderam quase metade do poder de compra nos últimos dez anos. Na última década, a inflação oficial do país, o IPCA, subiu 88,05%. No mesmo período, o ganho real do trabalhador, considerando décimo terceiro e férias, subiu apenas 3%, segundo o IBGE.