Nome completo: Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas é como se chamava essa consagrada escritora de Goiás Cora Coralina, tema desta minha crônica, a última do ano de 2019. O livro dessa notável poetisa contendo uma seleção de seus poemas feita por Darcy França Denófrio foi-me dado como presente de Natal por uma neta. Deliciei-me com a beleza dos poemas dessa goiana ilustre colhidos e escolhidos por esse escritor, também goiano, que faz interessante introdução dessa edição (Ed. Global, 2019), de cujo texto destaco: “Não depende dela e nem de nós: Cora dos Goiases agora, não mais na solidão de seu `aquém Paranaiba´. Isto já não lhe basta. Ela resplandece no universo dilatado da poesia brasileira, e já força passagem. Não se pode mais dizer: este é o seu lugar”.
A primeira parte desta edição trata dos “Reinos de Goiás”; vem depois “Canto de Aninha”; segue-se o “Criança do meu tempo”; em seguida “Entre pedras e flores”; depois “Canto Solitário” e, ainda “Celebrações”.
Ela foi considerada uma jovem especial. Preterida entre as suas irmãs, destaca o texto introdutório que ela se transformou depois, em certo sentido, num cisne e com seu próprio porte vestiu suas penas que assumiram em sua vida um duplo sentido: saber-se mulher e colecionando as agruras que a vida lhe reservara. Mas ela enfrentou a vida e os obstáculos próprios que se lhe antepuseram pelo que declarou: “A minha maior angústia foi superar a minha ignorância”, que ela enfrentou e venceu. Há um vetor erótico em seus textos, segundo observa a introdução, pelo fato de a terem como assexuada, mas Eros é uma força presente em seus textos que o autor dessa nota introdutória destaca.
Não é fácil ao cronista destacar os melhores textos de sua autoria, pois ela mesma observa que “passei pelas minas e não soube mineirar/daí a cascalheira das minhas frustrações”.
Cuidando das coisas simples da vida ela faz a “Canção do Milho”, assim: “Milho plantado, dormindo no chão aconchegados/seis grãos na cova/Quatro na regra, dois de quebra/Vida inerte que a terra vai multiplicar”.
Homenageando Pablo Neruda, o poeta do mundo, ela dispara: “Grande poeta/Teu corpo gélido vai se desintegrando/molécula após molécula/na terra fria de Temuco/e vai se integrando de novo/no grande todo universal/E eu o vejo comandando/no etéreo todos os potros/indomados da Terra”.
Do prefácio vale destacar esta observação: “Não vamos concluir que possa existir em parte alguma uma obra que seja puramente lírica, épica ou dramática, pois qualquer obra autêntica participa, em diferentes graus e modos dos três gêneros literários”. Assim é este livro de Cora Coralina: é ao mesmo tempo liricamente intrigante e, sobretudo emocionante, na medida em que canta louvores à sua terra e revela a sensibilidade de uma poeta ao louvar sua gente simples com a simplicidade com que ela viveu e escreveu coisas belas do seu mundo, que é também o nosso mundo.