Os Correios completaram 361 anos em janeiro deste ano. A estatal com mais de 30 agências no ABC, faz parte da vida dos brasileiros, promovendo integração nacional, conectando pessoas, empresas e instituições. Referência em logística, os Correios se destacaram na atuação frente ao desastre no Rio Grande do Sul, promovendo a maior campanha de doação já realizada no Brasil e uma das maiores campanhas de solidariedade feitas no mundo.
Em um mês, os Correios arrecadaram cerca de 30 mil toneladas de donativos. O presidente da estatal, Fabiano dos Santos, em entrevista à Folha, comenta sobre o atual movimento global com declínio da carga postal e quais seriam as alternativas para que a receita dos Correios não seja afetada. Fabiano ainda comenta sobre o processo de modernização e inaugurações no ABC. A seguir, trechos da entrevista.
Folha do ABC – Como está sendo a atuação dos Correios frente ao desastre no Rio Grande do Sul?
Fabiano dos Santos – Por orientação do presidente Lula, nossa estatal desde o primeiro dia esteve à disposição para ajudar a população do Rio Grande do Sul. Temos hoje uma campanha que tomou corpo nacionalmente e posso afirmar com toda a tranquilidade que é a maior campanha de doação já realizada no Brasil e uma das maiores campanhas de solidariedade feitas no mundo. Em um mês de campanha, arrecadamos cerca de 30 mil toneladas de donativos e entregamos mais de 6,5 mil para a Defesa Civil, no estado gaúcho.
Hoje, todas as nossas mais de 10 mil agências espalhadas pelo Brasil estão recebendo donativos. Fazemos toda a operação logística das doações: recebemos, triamos, estocamos e liberamos para o RS conforme solicitação da Defesa Civil. É importante destacar que somente uma empresa pública e forte, presente em todo o Brasil, tem capacidade para conduzir uma operação logística deste tamanho.
Folha – Em entrevista recente ao Jornal O Estado de S. Paulo, o senhor comentou sobre o declínio da carga postal no mundo todo. Quais seriam as alternativas para que a receita dos Correios não seja afetada?
Fabiano – Realmente, esse é um movimento global. O serviço postal no mundo todo vem registrando queda de volume de correspondência tradicional. Para se ter ideia, nos últimos 20 anos, o envio de mensagens caiu mais de 70%. Por outro lado, o de encomendas cresceu mais de 200%. Ainda assim, é sempre bom destacar que os Correios no Brasil continuam entregando mais de 2 bilhões de mensagens impressas por ano, o que demonstra a importância de se ter uma empresa pública, presente em todo o País, para atender essa demanda. Nenhuma empresa privada leva uma mensagem impressa de canto a canto do Brasil por apenas R$ 2,55, que é o preço de balcão da carta comercial até 20g.
Mas, o fato é que, diante da mudança do perfil da carga, precisamos nos modernizar para garantir sustentabilidade e oferecer serviços mais adequados para as pessoas e as empresas. Por isso, estamos diversificando as atividades da empresa, por meio de parcerias que vão nos permitir ter novos negócios nos segmentos de comércio eletrônico, telefonia celular e financeiro. Um exemplo é o marketplace dos Correios, que vamos colocar na rua ainda este ano.
Neste ano, já passamos a oferecer, em todas as nossas agências, a venda de seguros por preços acessíveis, em parceria com a CNP Seguradora. Também fechamos parceria com a Caixa e com o INSS, para oferta de serviços.
O ano de 2024 será o da virada de chave dos Correios e, para isso, estamos investindo nas pessoas e na estrutura da estatal. No ano passado, fechamos um acordo coletivo em mesa de trabalho, sem intermediação da Justiça do Trabalho, algo que não acontecia há sete anos. Ele garantiu um reajuste que chegou a 12% para grande parte do nosso efetivo e trouxe de volta mais de 40 cláusulas que haviam sido retiradas pelo governo anterior. Estamos realizando um grande concurso público nacional e teremos a primeira contratação de pessoal ainda neste ano.
Conseguimos autorização para captar no exterior R$ 3,8 bilhões, com carência de cinco anos, para investimentos. E também fomos incluídos no Novo PAC, que irá destinar, até 2026, R$ 856 milhões para construirmos cinco complexos operacionais e modernizarmos outros dez.
Folha – Os Correios completaram 361 anos em janeiro deste ano. A empresa, que está presente na memória de todos os brasileiros, foi se modernizando ao longo dos anos. O senhor acredita que ainda há algo a melhorar?
Fabiano – Somos a empresa mais querida e respeitada pela população brasileira, apesar de todo o processo de sucateamento que a estatal enfrentou no governo anterior, que queria privatizar os Correios. Foi o presidente Lula, que em seu primeiro dia de governo, retirou a estatal da lista de privatizações e nos deu a missão de recuperar a empresa.
Como a empresa ia ser vendida, a gestão anterior suspendeu os investimentos, especialmente em tecnologia, retirou direitos dos trabalhadores, abandonou os imóveis, muitos deles inclusive históricos e não se preparou para o futuro. Em 2020 e 2021, por exemplo, por conta da pandemia, o volume de entrega de encomendas nos Correios aumentou muito e o lucro também, mas essa receita não foi investida na empresa, como deveria ter sido, para que diversificasse suas atividades e se modernizasse. Conseguimos muitos avanços em 2023, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para recuperar o tempo perdido.
Folha – O senhor esteve no Riacho Grande, em São Bernardo, em fevereiro deste ano, para reinaugurar a nova Agência dos Correios. Estão previstas mais inaugurações no ABC?
Fabiano – Foi uma imensa felicidade inaugurar uma agência que, aliás, tinha sido fechada pelo governo anterior em 2020. Nossa gestão entende que a presença do serviço postal leva muito mais do que encomendas; leva cidadania para a população. Além de ter acesso aos serviços de Correios, os moradores passam a contar com a representação do governo federal perto de casa e uma gama de serviços que ofertamos em parceria com outros órgãos públicos, como a Caixa e o INSS. E vamos seguir ampliando essa presença, também na região do ABC. Hoje temos em andamento as obras para a instalação de mais uma unidade também em São Bernardo, na região da Vila São Pedro, e realizando estudos para novas implantações.
Folha – Nas sete cidades do ABC, hoje, há quantas agências próprias e quantas são franquias?
Fabiano – Na região do ABC, temos 11 agências próprias, 24 franqueadas e uma agência comunitária. E temos ainda outros cinco pontos de atendimento, de outros modelos, como o Correios Empresas, que tem serviços diferenciados exclusivos para clientes com contrato, e os pontos de coleta, que são abertos em parceria com empresários locais para receber e entregar encomendas em suas lojas. Nossa rede operacional conta com 19 unidades na região, para fazer a entrega de encomendas e documentos.
Foto: O presidente dos Correios, Fabiano Silva, em viagem à China, em abril de 2023 (crédito: Divulgação Cainiao).
Por Nicole Floret – 08/06/2024