Opinião

Crônica da persistência

Era uma vez um garoto cujas ações escolares nunca eram aprovadas. No colégio suas lições eram rejeitadas, já que sua letra era ilegível e a caligrafia lhe faltava. Suas notas tampouco eram as melhores, os colegas o debochavam, nas atividades físicas não se sobressaía. Ficava isolado num canto da sala a desenhar, sendo evitado. Crítica era a única coisa que conseguia somar:
-Isso aí? desaprovavam os colegas de classe – O que é esse desenho horroroso aí? Ahaha… – Olha lá o nerd desenhando, deve estar uma beleza sua ‘obra’, sozinho naquele canto!
Eram todos os tipos de bullying e ele não tinha segurança, tampouco forças para revidar. Entrou na faculdade de arquitetura e seus desenhos continuaram diferentes, sugestivos e, ao tempo, inerentes. Em empresas não estagiou, não foi aprovado para nenhuma entrevista de trabalho e no dia da formatura faltou.
Suas criações seguiam uma linha própria, exclusiva, algo como sua marca registrada: era fora dos padrões conservadores. Porém, não conseguia convencer nenhum patrocinador ou recrutador a acreditar em seu talento. Diziam: “Esse tipo de coisa não é aceito no mercado, volte outra hora, obrigado!” Viu-se num momento em que era tudo ou nada, e um dia conseguiu uma entrevista num ateliê de um engenheiro famoso – mostrou-lhe suas obras, bem como seus variados desenhos excêntricos: -Com licença senhor, eu tenho esses projetos aqui. O que acha?  
O arquiteto foi recusado. Saiu de lá frustrado. Mas levantou a cabeça, se inspirou e se motivava. A segurança vinha aos poucos e, cada vez, mais otimista estava. O tempo passou. Ganhava a vida fazendo sites e trabalhando na internet, porém, em seu sonho apostou e seu objetivo ainda viria acontecer, já que seus projetos estavam semeados no mercado.  Um dia um empresário lhe ligou: -Olá, soube que você tem alguns projetos diferentes e eu gostaria de lhe falar. –Olá Senhor. Pode falar, por favor. -Haverá uma palestra com arquitetos estrangeiros, eles querem investir em ideias iguais às suas, você poderia estar presente?
Por amor à arte, claro que ele foi, muito embora nem sabia o que era um evento de porte internacional. Havia muitas pessoas no local e um telão enorme onde apresentou o seu ideal, o que mudaria o papel global da arquitetura conceitual artística: camas suspensas; quartos com piscinas (além de diversos quartos temáticos); barcos com mobílias medievais; restaurantes sub-aquáticos dentro de caverna ou suspensos no ar; banheiros-livrarias e até projetos de casas montadas em paredes externas de prédios.
Suas criações foram aprimoradas, seus projetos aprovados, e suas ideias compradas. Fazia trabalhos a toda hora e atravessou fronteiras planeta afora.

“Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor.” – Wolfgang Amadeus Mozart. (1756 – 1791, Áustria).