Opinião

Dê a si o presente

A gente vai embora e fica tudo aí. As dívidas do banco, as parcelas do veículo novo, as contas a pagar… a gente vai embora sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, nem as roupas do varal a gente tira, e toda importância que pensávamos que tínhamos, desaparece. A vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas… a gente vai embora e todos os grandes problemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio.
Não existem problemas externos: Eles moram dentro de nós. As coisas têm a energia que colocamos nelas, na qual exercem em nós a influência que permitimos. A gente vai embora e o mundo continua caótico, como se nossa presença ou ausência não fizessem a mínima diferença. E não faz! Somos pequenos e prepotentes.
O cachorro é doado e se apega aos novos donos. Os viúvos se casam novamente, andam de mão dadas e vão ao cinema. A gente vai embora e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos. As coisas que usávamos são doadas ou jogadas fora.
Se esperássemos pela morte, talvez vivêssemos melhor. Talvez vestíssemos a melhor roupa hoje! Falássemos ‘eu te amo’ hoje! Chamássemos nossas esposas e família para jantar hoje! Talvez, até comêssemos a sobremesa antes do almoço. Talvez esperássemos menos dos outros.
Se esperássemos pela morte, talvez a gente perdoava mais, ria mais, se divertia mais, saía para ver o mar e talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro. Quem sabe a gente pudesse entender que não vale a pena se entristecer com coisas banais, ouvisse mais música, dançasse mais mesmo sem saber?
O tempo voa e, a partir do momento que a gente nasce, começa uma viagem veloz com destino à linha de chegada. E ainda há aqueles que vivem com pressa, sem ao menos se dar o Presente de perceber que cada dia a mais é, na verdade, um dia a menos… pois a gente vai embora.

“É o tempo que você perde com as rosas, que faz elas serem tão importantes.” Antoine de Saint-Exupéry – piloto e escritor francês, (1900-1944).