Fluxo de crédito 11% maior, renda média com crescimento de 2,3%, alta de 11,9% na corrente de comércio exterior e criação de empregos industriais pela primeira vez desde 2011 indicam que o ABC encerrou a recente recessão que assolou o País. Mas o fim desse ciclo não permite baixar a guarda.
“O ajuste das contas públicas sem dúvida será o principal desafio do novo governo que se inicia em 2019. Há de se lembrar que crises fiscais têm forte potencial para deflagrar crises econômicas. Só nos últimos 12 meses, o setor público brasileiro pagou o equivalente a 5,55% do PIB em juros. Isso afeta a capacidade de investimento do governo”, alertou o economista Sandro Maskio, do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, ao divulgar hoje o 18º Boletim EconomiABC, que traz um balanço das atividades das sete cidades da região até outubro contextualizadas no cenário nacional.
Para uma projeção de crescimento da economia brasileira de 1,3% em 2018 feita pelo Banco Central, inferior à expectativa do início do ano de alta de até 3,5%, o ABC registrou volume de operações de crédito cerca de 11% maior. A soma atingiu R$ 37 bilhões nos últimos 12 meses encerrados em agosto deste ano, o maior valor desde novembro de 2016. Os depósitos em poupança aumentaram 5,78%, registrando R$ 17 bilhões, o mais alto volume desde dezembro de 2015. “Os dois indicadores são positivos em relação à trajetória de retomada da atividade econômica”, pontua o professor da Metodista.
Desemprego e importações
Na outra ponta, porém, a taxa de desemprego chegou a 18,8% da PEA (População Economicamente Ativa) em setembro segundo a Fundação SEADE — o índice mais elevado de 2018 no ABC. No Brasil, o desemprego está em 11,7% da PEA. “Nos últimos meses não há evidências sólidas de redução do desemprego no ABC tendo em vista a flutuação apresentada no período”, disse Maskio, apontando a vulnerabilidade sobretudo do setor industrial.
Um exemplo está na balança comercial. No acumulado de janeiro a novembro deste ano, o fluxo internacional do ABC registrou superávit de US$ 417,4 milhões, 63,5% menor do que em igual período de 2017. A queda é resultado do aumento de 3% nas exportações, que somaram US$ 5,02 bilhões, frente ao crescimento de 23% das importações, que registram US$ 4,6 bilhões. Isso porque o setor produtivo do ABC tornou-se importador de insumos industriais, levando a duas consequências: exposição às altas frequentes do dólar e ao aumento de custos, além do enfraquecimento da cadeia de fornecedores locais, impedindo que a economia regional se dinamize.
De qualquer forma, o período 2017-2018 registrou alta de 11,9% na corrente de comércio exterior, o que demonstra maior relação da economia local com a economia internacional.
Ao mesmo tempo, o ABC voltou a apresentar saldo positivo na geração de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho. Foram mais de 10 mil empregos formais nos 10 primeiros meses do ano, puxados por serviços e construção civil. Um destaque se refere aos mais de 1.200 empregos formais gerados no setor industrial da região, o que não ocorria desde 2011. Lembre-se, porém, que ABC perdeu mais de 68 mil postos de trabalho entre 2012 e 2017.
A lenta recuperação do emprego reflete na renda local. Segundo o CAGED e RAIS do Ministério do Trabalho, a massa de renda dos trabalhadores formais do ABC somou R$ 2,3 bilhões em outubro deste ano, 2,3% maior do que em outubro de 2017. Outubro último registrou renda média de R$ 3.164,79 por trabalhador em emprego formal na região, 6,13% acima do que em igual mês de 2017.