Opinião

Elon Musk, um cidadão Kane digital (I)

Como seria o Twitter se Musk fosse seu único proprietário? E se uma das ferramentas de informação mais importantes do mundo pertencesse a um bilionário inconstante que pudesse fazer o que quisesse com ela?
Sim, estou falando da proposta de Elon Musk de comprar o Twitter para si mesmo, que ele divulgou na quinta (14). Sua oferta chega a mais de US$ 43 bilhões, o que é muito dinheiro, mesmo para Musk, presidente-executivo da Tesla e proprietário da SpaceX. (A carta de Musk oferecendo a compra do Twitter dizia que sua compra estaria condicionada a encontrar ajuda para pagar a aquisição. Não dizia de onde o dinheiro poderia vir.)
Será que Musk realmente terá dinheiro e atenção para acompanhar sua proposta de aquisição, e o Twitter vai dizer sim? Quem sabe? A palavra “imprevisível” não faz jus a este momento. Já estamos na semana 2 do romance muito público e rochoso de Musk e Twitter, e pode haver mais estranheza por vir.
Mas imagine que Musk eventualmente compre o Twitter dos acionistas de seus atuais proprie-tários. A comparação mais próxima disso pode ser os barões dos jornais do século 19, como William Randolph Hearst, Joseph Pulitzer e o fictício Charles Foster Kane, que usavam seus jornais para perseguir suas agendas pessoais, para divulgar eventos sensacionalistas mundiais e assediar seus inimigos.
Não tivemos realmente um Cidadão Kane da era digital, mas pode ser Musk. E a influência global do Twitter é indiscutivelmente maior e mais poderosa do que a de qualquer jornal Hearst de sua época.
A compra do The Washington Post por Jeff Bezos e o império de mídia de Rupert Murdoch estão próximos, talvez, mas isso seria um marco: a compra de um barão da tecnologia do século 21 de uma plataforma digital de importância global, com o objetivo de reformulá-la em sua imagem.
“Isso seria um retrocesso aos dias de ‘Cidadão Kane’ dos barões da imprensa usando seus jornais para promover suas causas favoritas”, me disse Erik Gordon, professor da Escola de Administração da Universidade de Michigan.
A ideia favorita de Musk é um Twitter que funcione da mesma forma que ele usa o Twitter: sem restrições. Ele imagina uma rede social transformada, por ele, em um modelo de expressão sem limites teóricos. É basicamente o mesmo tom que o ex-presidente Donald J. Trump tem para seu aplicativo, Truth Social. Vários outros sites de mídia social também prometeram construir encontros na internet sem as regras arbitrárias impostas por empresas como Twitter, Google e Facebook. Mas esses sites permanecem relativamente pequenos e sem importância em comparação com o Twitter. (Continua)