Augusto, que era brasileiro, morava na Califórnia com a esposa e suas filhas de 4 e 10 anos – ele tinha uma empresa de softwares e trabalhava o dia todo. A irmã mais velha de Augusto morava no Rio de Janeiro, era chef-proprietária de um restaurante e tinha um filho de 14 que ficava em casa sozinho. O irmão mais novo de Augusto – Pedro – morava na Holanda, estudava engenharia e era noivo de uma profissional do patins no gelo.
O pai de Augusto, Seu Mário – senhor de 74 anos – morava num apartamento grande na cidade de São Paulo. O passatempo preferido de seu Mário era pegar um táxi e sair pelas ruas sem rumo vendo a cidade passar: Ele era sozinho e solitário.
O Natal do ano anterior havia sido triste para Seu Mário, pois ele apenas recebeu uma ligação de Augusto desejando-lhe feliz Natal. Sua filha – dona de restaurante – estava atarefada com as reservas de fim de ano, e apenas havia deixado uma mensagem na secretária eletrônica. Pedro, o mais novo, estava em tour com a namorada pela Europa e nem lembrou de ligar para o pai.
Porém, no dia 2 de dezembro daquele ano vigente, todos recebem um e-mail escrito pelo médico de Seu Mário: “O quadro do pai de vocês piorou. Ele perdeu os sentidos e veio a óbito ontem pela manhã. O corpo jaz em sua cama, dentro de seu quarto até que todos filhos e netos apareçam. Assinado Doutor F. Souza.” O arrependimento dos filhos por não ter falado muito com o pai foi unânime.
Reuniões adiadas. Restaurante fechado. Campeonato de patinação cancelado. Tudo por luto. E todos deram um jeito de ir a São Paulo ver o falecido pai. Augusto havia combinado com a família toda de se encontrar num hotel no dia 24 de dezembro. Plano feito, e na véspera, estava toda a família – com seus respectivos cônjuges e filhos – reunidos prestes a passar o pior Natal de suas vidas. Dali, todos se dirigiram à casa do pai.
Ao chegarem, Augusto girou a maçaneta, abriu a porta e todos entraram, porém, qual não foi a surpresa quando se depararam com uma sala nunca antes tão enfeitada para o Natal, a mesa posta para dez lugares, toalhas novas, suplás, pratos fundos, talheres de prata, uvas, pêssegos, panetones, vinhos, espumantes e enormes travessas de assados – tudo sobre a mesa. Um grande e enfeitadíssimo pinheiro ocupava o canto ao lado da lareira, onde presentes brotavam do chão; as janelas possuíam pisca-piscas e, enfeites e bibelôs, se encontravam espalhados pela casa. Todos entreolharam-se sem nada entender e, após alguns longos segundos embasbacados, só compreenderam a situação quando um senhor a passos lentos, aparece com sorriso no rosto e brilho nos olhos de ver sua família pela primeira vez reunida.
“Perdoem-me”, desculpou-se Seu Mário. “Mas qual outra maneira de reunir todos vocês?” A neta de seu Mário apenas conhecia o avô por foto. Foi a primeira a sair correndo, pulou em seus braços, apertou-o firme e sussurrou: “Feliz Natal, Vovô!”
“Não são os pais que fazem filhos. São os filhos que fazem os pais.” – autor desconhecido