A 5ª edição do France Excellence também contou com conferências que proporcionaram um debate sobre temas como arte, arquitetura, gastronomia e vinhos, áreas onde a parceria franco-brasileira gerou um legado de conexões marcantes.
“O France Excellence 2025 dedicou uma parte importante as artes e aos diálogos artísticos entre França e o Brasil. No primeiro painel tivemos essa palestra, um painel com vários historiadores de arte, a segunda palestra foi sobre a restauração de Notre-Dame de Paris e acho que, neste ano, dedicamos uma parte importante do luxo ligado a arte. Claro que o France Excellence sempre lembra essa conexão entre cultura e luxo, mas esse ano particularmente colocamos foco sobre essa ligação entre arte, criação artística, moda, design e arquitetura”, revelou à Folha, Caroline Putnoki, diretora América do Sul da Atout France.
Outra tendência que foi evidenciada no evento, foi o encontro da arte com as maisons de luxo, como conta Caroline. “Uma coisa que está crescendo no universo do luxo, cada vez mais, as maisons de luxo estão conectadas com feiras de arte, com a Bienal em São Paulo, com os museus. Acabamos de ver o centenário da Pinacoteca, que foi comemorado em grande estilo junto com a Maison Chanel”, disse.
Segundo a diretora, também foi anunciado, recentemente que, o MASP também irá fazer uma comemoração com uma grande marca de moda italiana. “Então, essa conexão arte e luxo vai crescer nos próximos anos e, claro, falamos de inteligência artificial, que também vai contribuir e a definir como vai ser a criação artística do luxo, mas não sabemos ainda. Temos que esperar e o futuro dirá quais são as próximas tendências”, explicou.
Confira os painéis realizados no France Excellence.
“O legado cultural como fonte de inspiração: os diálogos artísticos França–Brasil e sua influência no universo do luxo”

O painel proporcionou um debate entre o historiador francês, Sébastien Quéquet, do Museu de Artes Decorativas, em Paris, junto ao professor João Braga, especialista em história da moda e Filipe Assis, consultor de arte e fundador da plataforma Aberto.
Os especialistas destacaram como Art Déco, estilo de design e arte visual, que surgiu na França no início do século XX, se faz presente até hoje no imaginário do luxo francês e produziu artes icônicas, como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que é considerada a maior obra Art Déco do mundo. Outros símbolos Art Déco na França são a Villa Savoye, o Convento La Tourette e o edifício do Partido Comunista, em Paris, projetado por Oscar Niemeyer.
Sébastien falou sobre a exposição “1925-2025. Cem anos de Art Deco”, que acontecerá no Museu das Artes Decorativas, de 21 de outubro de 2025 a 29 de março de 2026 e que celebra não só o centenário deste movimento icônico, mas explora suas múltiplas facetas, desde suas origens até as releituras contemporâneas, através de cerca de 1 mil obras-primas da coleção do museu.
Já o professor João Braga frisou a conexão Brasil-França, ressaltando que o pintor francês Jean-Baptiste Debret foi o responsável por desenhar a primeira bandeira do Brasil, pouco depois da independência em 1822. Também afirmou que, em 1925, a silhueta feminina também foi influenciada pelos padrões Art Déco e a moda acompanhava essa tendência, com roupas em estilo mais cilíndrico e aspecto geométrico que não destacavam as curvas femininas.
“O legado artístico, espiritual e arquitetônico como fonte de inspiração: Notre-Dame de Paris, inspiração para os construtores de ontem e os criadores de amanhã”

A historiadora Sybille Bellamy-Brown, responsável pelas visitas da Catedral de Notre-Dame em Paris, revelou que foram investidos 850 milhões de euros para a reconstrução e recuperação da igreja, após o incêndio de 2019.
Foram necessários cinco anos para a reabertura do monumento, que ocorreu em dezembro de 2024. “O desafio de restaurá-la era torná-la idêntica ao que a Catedral era”, disse.
Sybille contou que o estado francês foi responsável pela reconstrução das paredes e do espaço físico, mas que foi a Igreja Católica que reorganizou o espaço interno, convidando artistas contemporâneos a criar mobiliários e elementos litúrgicos que dialogassem com a tradição gótica. “Tudo foi pensado para que os visitantes encontrem, na Notre-Dame, fé, história, beleza e Deus, mantendo o nosso savoir-faire”, afirmou.
Apesar da Notre-Dame já ter sido reaberta ao público, o restauro continuará até 2030, para concluir partes como a rosácea ocidental, explicou a historiadora.
“Quando a IA valoriza o luxo: como a LVMH cria a experiência do futuro sem renegar sua história”

Olivier Le Garlantezec, executivo de Inovação Digital do LVMH Group; Franck Le Moal, diretor de Tecnologia do LVMH e Guillaume Ingelaere, especialista em Inteligência de Mercado debateram sobre a influência da IA na LVMH.
“O savoir-faire está nas mãos dos nossos artesãos. A IA vem contribuir na busca pela excelência”, disse Franck Le Moal.
“O luxo é uma indústria de artesãos, com materiais delicados, mas existe proximidade forte entre as indústrias do luxo e a tecnologia vem a serviço desse artesanato, desse savoir-faire, não para substituí-la”, afirmou.
Franck disse que os algoritmos da IA proporcionam melhor experiência para os clientes, pois pode-se conhecê-los melhor, como gostos, expectativas e acompanhar seu histórico de compras para que se discuta propostas de acordo com valores desses clientes.
Além disso, o executivo mencionou que a IA auxilia na excelência operacional, no planejamento, distribuição dos produtos, nas projeções comerciais e no planejamento do volume de venda das lojas em diferentes países. A IA contribuí, também, de acordo com Franck para aprimorar o dia a dia dos funcionários, nos contratos, fichas dos produtos, e-mails, entre outros.
“Temos mais de 60 mil referências por coleção e a IA auxilia a sintetizá-los sem abrir mão dos processos éticos. A LVMH preza pelo aspecto ético, pela responsabilidade social, respeitando clientes, funcionários e as especificidades das nossas 75 maisons”, afirmou.
“A arte da haute sommellerie: em busca da harmonização perfeita com Hôtel de Crillon – Paris”

A conferência de Xavier Thuizat, conhecido como um dos grandes nomes da sommellerie internacional, atual Chefe Sommelier da Air France e do Hôtel de Crillon, em Paris, destacou a importância da vitivinícola francesa.
“O solo é uma tradução do que se é engarrafado, o vinho é fruto de uma história”, disse.
Thuizat afirmou que um grande vinho não deve ser medido pelo preço, ele deve ser o reflexo do seu terroir. “A emoção do lugar traduzida em uma taça deve ser o nosso motor para selecionar vinhos em uma carta”, frisou.
O sommelier destacou que o aspecto histórico é muito importante: “O vinho é fruto de sua história, do seu lugar, dos seus usos e costumes e das mulheres e homens que o moldam”.
Para Thuizat, a mão humana é a noção mais importante do terroir para criar um grande vinho. “O gênio do viticultor é o que permite produzir vinhos de exceção”, frisou.
Também contou que cerca de 17% dos clientes do restaurante do Hôtel de Crillon não bebem álcool no jantar, algo impensável há 10 anos e que é preciso buscar soluções e opções para todos os perfis. “Um grande sommelier é um prescritor de prazer e deve proporcionar prazer aos seus clientes. É preciso ser generoso e ter vontade de agradar. É um ato de generosidade e um esforço da parte do sommelier”, destacou.
Adicione um comentário