Cultura & Lazer

Gabriela Duarte volta aos palcos em ‘O Papel de Parede Amarelo e Eu’ 

O Papel de Parede Amarelo, de Charlotte Perkins Gilman, foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Cenário (Foto: Divulgação/Priscila Prade)

Gabriela Duarte volta aos palcos no Teatro B32 nos dias 26, 27 e 28 de setembro, em três sessões especiais de O Papel de Parede Amarelo e EU. Dirigido por Alessandra Maestrini e Denise Stoklos, o espetáculo já passou por temporadas de sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro e recebeu indicação ao Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Cenário, assinado por Márcia Moon.

O Papel de Parede Amarelo, livro escrito por Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), inspirou e deu nome à peça, com o acréscimo de “e EU”, em referência à relação com as experiências pessoais da atriz. “Eu queria fazer algo em que eu pudesse falar um pouco de mim e da minha busca por identidade. E acho que quando uma mulher fala de si, ela acaba falando de todas. E é aí que o tema se amplia”, reflete Gabriela.

O solo entrelaça teatro essencial, performance e confissão poética. O texto original, marco da literatura feminista, trata do confinamento e da perda de identidade de uma mulher, o que faz do espetáculo um manifesto, segundo Alessandra e Denise. “Todos sonhamos com o desligamento das questões opressivas que o texto traz de formas metafóricas, mas que nós conhecemos em diferentes níveis na sociedade atual. É um espetáculo muito contemporâneo”, explicam as diretoras.

Mesmo diante de um tema tão denso, a atriz ainda celebra o fato de poder explorar seu lado cômico, trazendo uma certa leveza e muita potência para a mensagem. Gabriela Duarte ressalta que esta não é uma conversa só de mulheres, mas uma oportunidade de abrir o diálogo e convidar os homens à reflexão. A peça é política “na medida certa”, ela conta, “com toques de ternura e poesia”.

A história se desenrola através dos olhos de uma mulher diagnosticada com depressão e histeria, forçada por seu marido, um médico, a se isolar em uma casa para evitar qualquer esforço físico ou mental. Durante esse isolamento, ela desenvolve uma obsessão com o papel de parede amarelo de seu quarto, um símbolo de sua crescente confusão mental e angústia.

Duas diretoras, uma direção

Alessandra Maestrini e Denise Stoklos assinam a direção juntas, num processo em que uma complementa a outra. Alessandra acompanha o trabalho de Denise há 30 anos; sua direção se identifica com o Teatro Essencial, linguagem teatral criada por Denise e que valoriza a expressividade do ator por meio do corpo, voz e mente, com o mínimo de recursos externos possível. Segundo Denise, Alessandra tem um “olhar muito agudo”, um ritmo rápido de direção e uma escuta bastante diferenciada. Ela emprega os conceitos do Teatro Essencial de forma inovadora e acrescentadora, nos melhores sentidos.

A parceria Maestrini e Stoklos traz ao público, além do mergulho nas diversas camadas do texto e da performance, um novo conceito estético, que brota do limiar entre a instalação, a performance, a dança e o teatro.

Referências

A cenógrafa Márcia Moon criou uma prisão transparente: um ambiente minimalista e simbólico, com diferentes tipos de papel que interagem com o corpo da atriz. O cenário sugere atmosferas e sensações, representando tanto uma prisão invisível quanto um espaço de libertação, e convida o público a interpretar o espaço de maneira profunda e subjetiva. “Ele foi pensado para destacar o caráter universal do texto, tanto no tempo quanto no espaço, mostrando como ele continua relevante para diferentes gerações”, diz Moon.

Os figurinos de Leandro Castro buscam simbolizar as várias camadas de opressão sobre o corpo feminino, com referências a diversas culturas. A trilha sonora, a cargo de Thiago Gimenes, combina elementos acústicos com o universo eletrônico e dos games, remetendo à opressão contemporânea por meio das tecnologias e redes sociais. E o desenho de luz de Cesar Pivetti é pensado como mais um personagem da peça, com a capacidade de oprimir e libertar.

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