Opinião

Giardelli: “Somos o país mais conectado. E daí?”

“Não podemos proclamar que o Brasil é o país mais conectado do mundo e achar que isso é bacana. É preciso se conectar menos e conviver mais”, afirma o professor Gil Giardelli, em sua palestra “Empresas do século 20, pessoas do século 21”, no CIAB Febraban, nesta quarta-feira, 7 de junho. Sobre a necessidade de termos pessoas menos conectadas, alertou que é fundamental que elas interajam mais entre si em prol da criatividade coletiva.
Especialista em cultura digital e sobre o impacto das novas tecnologias na sociedade, Giardelli lembrou que vivemos em um mundo hiperconectado, profundamente transformado pelas tecnologias digitais, que afeta toda a economia e a sociedade.
E pergunta: “Como adaptar o seu negócio a este admirável novo mundo de maneira assertiva e aproveitar ao máximo os recursos e possibilidades inovadoras que este cenário oferece?” Sua resposta: “Trabalhar em sintonia com o mundo ao seu redor é fundamental.”
“É preciso passar dias offline para incubar e deslanchar o processo criativo”, diz Giardelli, pois “quando um raciocínio é interrompido, o ser humano leva de 20 a 40 segundos para retomá-lo”.
Segundo o especialista, em tempos de Pensamento Matemático (Mathematical Thinking), nos quais se pensam possibilidades para o futuro em ritmo acelerado, para qualquer ideia que uma pessoa tenha hoje, em média, outras 430 pensarão a mesma coisa. “Mas apenas três dessas pessoas colocarão a ideia em prática”, disse. “O brasileiro é criativo, mas pouco empreendedor”, complementou.
Na visão do professor, estamos vivendo a era da Destruição Criativa exponencial, em que tudo o que conhecemos já foi – ou durará muito pouco tempo – e será destruído para ser reinventado.
Passar muito tempo conectado a redes sociais e outros conteúdos pouco – ou nada – adiantará, se, entre outros incontáveis fatores, falta ao brasileiro iniciativa e criação.
A contestação dos paradigmas e dos padrões pode ser uma grande virtude, pois a inovação e o avanço científico precisam de pessoas desobedientes, que busquem respostas além dos limites impostos pela sociedade.
Esta é uma condição típica da 4a Revolução Industrial, na qual as instituições passam também pela mudança de hierarquia e de perfil dos líderes nas empresas.”Líderes inovadores são 26% mais lucrativos do que os pares de seu setor”, observou. A hierarquia também precisa mudar, segundo o especialista.
No mundo empresarial, Giardelli destaca o fato de muitas grandes empresas estarem hoje acabando com o cargo de Executivo Chefe ou CEO pois, em sua opinião, ele dirigente trava a inovação. “No século de 21, já não importa a hierarquia, mas a forma como as equipes estão trabalhando como equipes”, concluiu.