O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), Gustavo Mesquita Galvão Bueno, acaba de ser reeleito para o triênio 2021-23, com 71% dos 1.430 votos válidos. Gustavo, que é o presidente mais jovem da ADPESP, revela que tem conseguido “reconquistar o prestígio, a credibilidade e a voz do delegado de polícia junto à sociedade” e ainda que como os baixos salários, déficit elevado, falta de investimento e infraestrutura na classe policial afetam a vida do cidadão, que é destinatário dos nossos serviços. “Essas dificuldades acabam sempre impactando e afetando a rotina e a vida do cidadão”, diz. Confira.
FOLHA DO ABC- Foi a primeira vez que a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, em 71 anos de existência, teve um presidente tão jovem. Qual o balanço que faz da sua gestão?
Gustavo Mesquita Galvão Bueno- Assumi a presidência da ADPESP aos 37 anos, sendo, de fato, seu presidente mais jovem. Naturalmente, pairava alguma dúvida sobre como a classe, tida como conservadora iria reagir. Mas logo no início da nossa gestão, pudemos perceber que poderíamos contar com a confiança e o respeito de todos os delegados. E essa confiança foi aumentando conforme nosso trabalho foi se desenvolvendo, conforme demonstramos a qualidade e a seriedade com que atuamos diariamente. Conquistamos o respeito e a confiança de todo delegado de polícia, desde o mais novo na instituição até o mais veterano. Diante de todas as dificuldades e considerando o cenário que encontramos, tanto no aspecto interno da entidade como no externo, o balanço de nossa gestão é muito positivo. Em âmbito interno, assumimos a Associação em uma situação financeira bastante delicada, e foi com muita dedicação que conseguimos alcançar a saúde financeira da ADPESP. Já no ponto de vista externo, tivemos um cenário turbulento, com três governos, além desse último ano com pandemia, o que nos exigiu a reavaliação de todo o planejamento. Ainda assim, em larga medida, conseguimos reconquistar o prestígio, a credibilidade e a voz do delegado de polícia junto à sociedade e, também, preservar as nossas prerrogativas e atribuições.
FOLHA- Quais são conquistas obtidas pela classe dos delegados de polícia, nestes últimos três anos, e como a categoria enfrenta os constantes desafios, como o desfalque efetivo, salário defasado, corrupção e até viaturas sem estrutura adequada?
Gustavo – Há o momento de semeadura e o de colheita. Acreditamos que, ao longo dos últimos três anos, fizemos um importante trabalho de semeadura, por meio da reconquista do espaço do delegado de polícia na sociedade, na mídia, no meio acadêmico, entre outros. Também recuperamos a respeitabilidade da classe política, com uma atuação intensa, sedimentando nossas necessidades e nossas propostas, buscando sempre mostrar as nossas dificuldades, os problemas que enfrentamos e como isso afeta a vida do cidadão, que é destinatário dos nossos serviços. Hoje, todas essas dificuldades – como baixos salários, déficit elevado, falta de investimento e infraestrutura – são de conhecimento geral da população. É importante reforçar que tais dificuldades acabam sempre impactando e afetando a rotina e a vida do cidadão. Por exemplo, quando falamos do salário, é um fator fundamental que precisa ser resolvido, pois além de refletir na justiça e no bem-estar do servidor, também revela uma questão de ineficiência de política pública. Os delegados de polícia de São Paulo receberem o pior salário do país, e isso faz com que a gente perca, diariamente, bons profissionais para outros estados e carreiras aumentando ainda mais o alto déficit já existente. É fundamental que essas questões sejam resolvidas e o governo passe, efetivamente, a valorizar e a investir na sua polícia, para o bem da segurança pública e da população. E esse é o nosso desafio e nosso objetivo, aperfeiçoar a segurança pública por meio do instrumento que a gente acredita, que é o fortalecimento da Polícia Judiciária.
FOLHA- Em novembro último, 885 novos policiais foram nomeados, entre aprovados e subsequentes, porém, esse número corresponde a apenas 6% do déficit da instituição. Como essa questão tem sido debatida e tratada junto ao Governo do Estado? Há a possibilidade de que os concursos sejam realizados com maior periodicidade, mesmo com as limitações da pandemia?
Gustavo- A recente nomeação foi uma medida importante e pertinente, mas que não soluciona o problema, exatamente por representar apenas 6% do déficit que temos hoje. Para solucionar essa questão, precisamos de bons salários, para que os policiais ingressem e permaneçam na Polícia Civil, caso contrário vamos continuar enxugando gelo. Também se faz necessário a regularidade na realização dos concursos, que devem ser anuais, com processos inteiros, contratação e formação ágeis. Só assim, gradualmente, esse déficit começará a ser sanado. Com relação às limitações da pandemia, é importante frisar que o Governo Federal editou a Lei Complementar 173/2020, de auxílio aos estados, vedando a criação de novos cargos, o que não se relaciona com a problemática enfrentada hoje pela Polícia Civil. O que defendemos é a reposição de cargos já existentes, e isso não está vedado pela LC 173. Ademais, o próprio Governo Federal já nomeou diversos policiais federais e rodoviários federais, e o governo de São Paulo nomeou esses 885 novos policiais. Acreditamos e defendemos que o Governo do Estado não só pode, como deve, investir na contratação de novos policiais, especialmente no período da pandemia, de modo que a polícia civil continue com capacidade de operação, podendo, assim, garantir o bom funcionamento da sociedade.
FOLHA- Nos últimos anos, tem aumentado a representatividade feminina nas carreiras policiais. Do total de delegados no Estado, qual o número de mulheres e quantas são policiais civis?
Gustavo – A Polícia Civil de São Paulo tem hoje 2.646 delegados de polícia na ativa, sendo, aproximadamente, 20% de mulheres. Nós vemos com muito bons olhos a ocupação do espaço dentro da polícia pelas mulheres, pois, seja em qualquer carreira policial, elas sempre demonstram muita coragem. Além disso, temos a convicção de que os atributos que definem um bom policiais – como a competência, a coragem e a honestidade – independem do gênero. Definitivamente, as mulheres têm plena capacidade de ocupar esses espaços com maestria.