O drama da história de Maria da Penha foi traduzido em peça teatral de autoria de Consuelo de Castro, em exibição no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Existe hoje uma lei de nome “Maria da Penha” nascida de uma situação verdadeira e, por todos os títulos, lamentável: as agressões contra ela Maria da Penha, por seu marido, de que resultou sua permanência em cadeira de rodas, depois de um relacionamento abusivo e violento, por 23 anos. Símbolo de determinação, a farmacêutica cearense é tema de uma página de lembrança permanente e obrigatória quando se fala em violência e, ao mesmo tempo, em proteção da mulher, casada ou solteira. Instituída em 2006 a Lei (recente, porém) é um verdadeiro testemunho legal de proteção e combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. Escrita pela saudosa Consuelo de Castro a peça teatral está sendo apresentada com merecido sucesso ao público paulista e brasileiro, eis que trata de um caso concreto de desrespeito à companheira, tratada aqui como simples objeto. Assim é “Uma Lei Chamada Mulher”, narrativa que nos exibe verdadeiro drama familiar centrado na figura de uma espécie de “mártir” de um truculento marido, submetida a dois atentados domésticos ficando paraplégica a partir do primeiro. A história de Maria da Penha com a dramaticidade natural de fato concreto e a revolta que provoca talvez esteja servindo de exemplo para tantos casais desajustados. Mas que não precisam chegar ao extremo de uma animalesca relação de descompasso no seu relacionamento diário e permanente, especialmente partindo do marido, o “macho” que se imagina senhor absoluto da situação. Como diz o folheto do Sesc sobre a peça é a partir de distintos matizes de violência que se poderá atingir o máximo de animalidade até alcançar seu último estágio no feminicídio. Até porque, “a partir da metade do século XX, a intensificação da luta de mulheres demonstrou que tanto as leis como as maneiras de nos relacionarmos e estarmos em sociedade não são – e nem devem ser – estanques”, diz o folheto distribuído que acompanha o texto sobre a peça. E um comentarista completa: “O fato de o homem ser agressivo e violento imprime uma imagem de que é impotente em vários sentidos, por isso não lhe desperta compaixão o homem violento, mas sim a sua condição”.
Nessa história verdadeira de violência doméstica que a peça destaca, duas cenas de tentativa de homicídio estão presentes, não fosse a resistência de três mulheres, funcionárias da casa de Maria da Penha que a ajudaram a criar verdadeira célula para enfrentar a brutalidade de um marido doentio ameaçado de perder a virilidade. Uma ameaça que torna o homem uma besta–fera capaz de todas as covardias para iludir e, mesmo disfarçar sua vergonha frente à impotência.