Opinião

Irmãos de garra

Eu tenho que fazer um esforço muito grande para saber quem – de todos meus conhecidos – tem três filhos. Ninguém seria tão louco. Os mais conservadores diriam: – Tá vendo, não pensou antes de fazer, agora aguenta. A maioria elogia: -Parabéns! Nossa que lindos… Os mais transparentes tentam amenizar: -Puxa, que coragem, hein?  Porém, os mais honestos e amigos mesmo dizem: -Bem feito, tá lascado.
É fato que concordo com todas as afirmações acima.  
Minha esposa e eu não gostamos muito de ver a casa bagunçada, de modo que todo os dias investimos muito tempo em organizá-la. É uma anarquia geral, não dá pra vencer os filhos. O jeito é deixá-los desorganizar tudo e, quando estiverem cansados, é a deixa para colocar os brinquedos no armário, varrer o chão, tirar as roupas do caminho.
 Os três se educam ao mesmo tempo, eles brincam uns com os outros de pega-pega, esconde-esconde, carrinho, boneca, televisão, gibis, até colher de pau e vasilhas plásticas se transformam em peças lúdicas.
Lembro-me que fui ao mercado com todos, porém no meio do caminho deixei Pedro, o mais velho na escola. Quando parei o carro na frente do portão, Pedro começou a chorar. Ele pensou:
-Por que meus irmão vão ficar aí no carro com papai e mamãe e eu tenho que ir pra escola? Eles irão num lugar mais legal que eu, e quero ir junto. Vou chorar pra ver se funciona.
Irmãos que se criam juntos, choram na mesma hora, e foi o que aconteceu. Lara pensou:
 -Por que Pedro vai entrar aí e eu tenho que ficar no carro? Ele está num lugar mais legal que eu, e quero ir junto, vou chorar pra ver se dá certo.
Tudo resolvido depois de um tempo, o Pedro entrou feliz e até saiu a correr pela quadra.
Quando Pedro chegou da escola, lá pelas seis da tarde, Lara o abraçou como não se viam há anos, e Pedro falou:
-Mamãe, vou cuidar dela.
Quando cheguei do trabalho às dez da noite, somente minha esposa estava acordada e chegamos conclusão que, pra falar a verdade, eles não queriam ter se desgrudado.

A vida é a espera da morte. Faça da vida um bom passaporte.” – Vinícius de Moraes