Eleições

Luiz Fernando: “Reconstruir São Bernardo  é o nosso maior foco”

Luiz Fernando Teixeira: deputado estadual e candidato a prefeito de São Bernardo

O deputado estadual e candidato a prefeito de São Bernardo, Luiz Fernando (PT), em visita à Folha, falou sobre o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do processo de reconstrução do PT e admitiu que o partido teve uma “falha muito grande na questão da renovação, de projetar novas lideranças”. Luiz Fernando também falou sobre suas propostas, sobre os adversários de umas e como pretende “reconstruir” São Bernardo. Confira.

Folha do ABC – Em 2022, os então candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva, para presente, e Fernando Haddad para governador, foram os mais votados em São Bernardo. Nestas eleições municipais, por que o PT não figura em primeiro lugar nas pesquisas para encerrar a disputa no primeiro turno?

Luiz Fernando – A eleição municipal é distinta das eleições para presidente, que atingem todo o cenário nacional. Em 2022, era de um lado os lulistas, petistas e do outro os bolsonaristas. Tínhamos que lembrar que o adver-sário era o Bolsonaro, era o candidato a governador do Bolsonaro, candidato a senador do Bolsonaro. Agora não, as eleições são municipais, é mais próxima do eleitor.

   É como um time, você torce para o time mais próximo do teu. Então, tem uma eleição de vereadores que influencia na campanha majoritária, e São Bernardo, hoje, está partici-pando da eleição mais disputada da história. Nunca tivemos uma eleição com quatro players fortes em São Bernardo. E cremos que o PT estará no segundo turno.

   Eles que têm que disputar para saber quem estará conosco. Agora, são eleições distintas. O que está se discutindo não é o petismo, o lulismo. O que está sendo discutido é o processo de cidade. Tem gente que aprova o governo do Orlando Morando e vai votar na Flávia. Tem gente que não conhece os problemas do Alex e do Marcelo Lima, e, portanto, fazem a opção.

   Creio que o PT, ao final, dará uma res-posta majoritária. Por exemplo, acho que o PT ganha em São Bernardo, ganha em Diadema, em Mauá. Está numa disputa importante, segundo as pesquisas, em Santo André. Pode ser que vá para o segundo turno contra o candidato do Paulinho. Segundo as pesquisas, a briga está entre ele, a Bete Siraque e o Eduardo Leite.

   Então, o PT sairá muito maior do que entrou nessa campanha. Reflexo de 2022, reflexo de que o povo comparou o PT com o Bolsonaro, com os prefeitos, as administrações petistas com as dos outros prefeitos, e que o povo aprova o nosso partido.

Folha – O presidente Lula havia dito que São Bernardo é uma das suas prioridades nestas eleições. Desde a sua convenção, em 20 de julho, Lula não voltou mais ao ABC. Nesta reta final, ele não virá para a região? Qual a estratégia?

Luiz Fernando – Esperamos o Lula ainda no primeiro turno. O presidente tem uma ação muito grande com São Bernardo. Ao mesmo tempo, o Brasil está sendo remontado. O ex-presidente destruiu o país e o presidente Lula está tendo a missão, não só de reconstruir as políticas internas, mas reconstruir o Brasil internacionalmente, porque dependemos muito do mundo, das exportações e importações.

   Precisávamos do Lula na nossa convenção e o trouxemos. O Lula tem perguntado: “É necessário eu ir? Porque se for necessário, eu paro e vou”. O Lula vem ainda no primeiro turno para São Bernardo, ele, inclusive, vota na cidade. Sou o candidato a prefeito que terei o voto pessoal do presidente Lula, dentro de tantos outros são bernardenses. Então, assim, o Lula está metido até o pescoço nas eleições de São Bernardo.

Folha – O José Dirceu, em entrevista para a Folha de S.Paulo, afirmou: “Assim como estamos reconstruindo o Brasil, temos que reconstruir o PT”. Esse processo de reconstrução pode beneficiar ou atrapalhar o resultado desse pleito?

Luiz Fernando – Quando ele disse sobre a reconstrução do PT, foi porque o partido teve uma falha muito grande na questão da renovação, de projetar novas lideranças. E assim, vivemos num momento onde o mundo, sobretudo o país, onde as forças da direita conseguiram desgastar o PT com algumas operações que depois se mostraram dirigidas, direcionadas, como a Operação Lava Jato, como a Operação Mensalão.

   Inclusive, houve uma participação muito forte do Judiciário, da grande imprensa, que participou ativamente no desgaste do PT. O PT nunca propôs ideologia de gênero, nunca fechou igrejas. Falam que Lula ia liberar o aborto, não liberou. Isso tudo desgastou muito o PT.

   Então, temos dois desgastes. Primei-ro, a sucessão geracional, porque nos pegou nesse momento e não criamos novas lideranças. Segundo, no momento de guerra não tivemos condições de preparar novas lideranças e esse desgaste em cima de fake news.

   Então, isso precisa ser reconstruí-do, agora. A marca PT sempre foi uma marca muito positiva. O PT, hoje, ocupa uma posição que não existe no mundo, só no Brasil. O PT representa um quarto mandato da classe proletária, representa o trabalhador. Isso não existe no mundo.

Folha – O seu Plano de Governo contempla todas as áreas, mas qual ou quais terão prioridade, tendo em vis-ta a atual situação da cidade e qual é o projeto de maior destaque?

Luiz Fernando – Olha, a reconstrução da cidade, esse é o foco maior. A atual gestão, em oito anos, conseguiu acabar com a potência que São Bernardo era economicamente. São Bernardo sempre foi um dos maiores PIBs em cidades no Brasil, sempre foi uma das cidades mais ricas. Hoje, é a segunda cidade que mais deve no Brasil. São Bernardo perdeu grandes empresas, duas montadoras, empresas de autopeças, de outros setores, por exemplo, perdeu a Atento, com 10 mil funcionários, para São Caetano, porque não reduziu o seu ISS. Perdeu a Procter & Gamble, empresa americana, que era uma potência, empregava muita gente e várias outras.

   Então, vamos ter que recons-truir aquela potência que era. Vamos precisar muito do presidente Lula para nos ajudar a trazer novas indústrias, novos empregos.

  Vamos ter que reconstruir a Saúde da cidade. Saúde, que é uma área que gera vida, gera qualidade de vida, hoje está gerando mortes em São Bernardo, seja por falta de médicos, por erros médicos ou por falta de estrutura.

   Vamos ter que voltar todos os programas que cuidam das crianças e jovens. Desde o projeto Tigrinho, que era um projeto meu, pessoal, e todos os demais projetos. A Fundação Criança foi fechada. Todos os demais projetos foram desestruturados, como o rotativo da cidade, com jovens, o projeto Jovem Cidadão. Tínhamos um trabalho de formação da juventude muito forte, o PEAT, que formava os nossos jovens para o primeiro trabalho, para saírem para o mercado de trabalho. Foi parado.

   É uma verdadeira reconstrução de São Bernardo, não sobrou pedra sobre pedra. Vamos ter que fazer uma grande reconstrução. Eu e o doutor Dib nos juntamos sabendo desse cenário e nos juntamos por conta desse cenário. O doutor Dib sempre foi uma pessoa que tem posições à direita, mas ao mesmo tempo tem posições de centro, e sempre fui uma pessoa de esquerda. Então, nos juntamos.

Folha – O sr. disse que os seus adversários “são sócios”. Para um eventual segundo turno com o sr., avalia que as três candidaturas irão se unir em uma só?

Luiz Fernando – Não tenho dúvida nenhuma que os três são sócios. Eu e o doutor Dib temos falado e insistido que, hoje, São Bernardo é governado por um consórcio, por três forças diferenciadas que estão governando juntos. Cada qual tem um grupo de secretarias, que eles tocam e, na campanha, estão de forma dissimulada, lutando como se fossem adversários.

Não tenho dúvida nenhuma que a lógica é, no segundo turno, eles se unirem, mas a base não se une. As pessoas ligadas a cada um deles, não suportam os outros.

   Não tenho dúvida que a base, tanto do Alex como do Marcelo, seguem comigo, por não suportarem o prefeito. A forma que eles estão agindo nessa eleição pode, inclusive, desfazer esse “casamento” que eles têm.