
A escassez de mão de obra qualificada é um impasse que já atinge todos os setores. A construção civil principalmente. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, que entrevistou 3,7 mil empresas de vários setores em novembro de 2024, 58,7% das empresas relataram dificuldades em contratar ta-lentos. Dentre as empresas de construção civil, mais de 60,4% já relataram o desafio.
Mas, este percentual pode ser ainda maior. Segundo o vice-presidente financeiro da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, mais de 70% das empresas têm dificuldade para contratar e quase 40% relatam muita dificuldade.
A instituição lançou a iniciativa denominada Programa Nacional de Capacitação da Construção Civil no Canteiro de Obras, com a proposta de oferecer formação gratuita e prática para trabalhadores de baixa renda nos canteiros de obras. O programa faz parte do Plano Nacional de Capacitação da Construção Civil com a metodologia “Aprendendo a Construir”, onde serão oferecidas videoaulas, livros didáticos e atividades práticas. Inicialmente, os cursos oferecidos são para as funções mais demandadas: pedreiro de alvenaria, pedreiro de acabamento, carpinteiro e armador.
“O tema da escassez de mão de obra é antigo, mas se agravou nos últimos anos. A falta de atratividade da construção civil apareceu em praticamente todas as pesquisas que realizamos em 2024. Com esse programa, queremos mudar esse cenário com ações práticas”, explicou Ricardo Michelon, vice-presidente de Política de Relações Trabalhistas da CBIC.
Segundo o superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI Nacional, Felipe Morgado, 94% das construtoras enfrentam escassez de mão de obra, 76% revisam prazos de obras por falta de trabalhadores e 60% dos profissionais nunca fizeram cursos de qualificação formal. Ainda assim, 72% das empresas citam a falta de qualificação como principal barreira e menos da metade investe em formação.
Milton Bigucci Junior, diretor técnico da MBigucci e presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC (ACIGABC), analisa que a escassez de trabalhadores na construção civil é algo que vem ocorrendo já há alguns anos e se agravou após a pandemia, com aquecimento do setor e elevada demanda por mão de obra. “A construção civil é um dos maiores geradores de emprego no Brasil. Entretanto, a carreira na construção tem se mostrado pouco atrativa, principalmente para os jovens, desde operários (pedreiros, carpinteiros, pintores, gesseiros ajudantes) até enge-nheiros”, afirma Bigucci.
O executivo defende a execução de um trabalho multissetorial de valorização das profissões relacionadas à construção civil. No ABC, a ACIGABC iniciou um trabalho de Marketing, com peças publicitárias demonstrando a valorização e o respeito das profissões ligadas ao setor e SindusCon-SP, através da Universidade SindusCon e programas como o SindusCon na Prática, tem qualificado profissionais por meio de cursos, eventos e palestras.
No caso do ‘Aprendendo a Construir’, os cursos são ministrados dentro do canteiro, com aulas práticas no local de trabalho e sem necessidade de deslocamento. “O SENAI oferece a estrutura pedagógica, os materiais e a formação de multiplicadores, enquanto as empresas organizam o ambiente e selecionam os participantes”, explica o superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI Nacional, Felipe Morgado.
A ideia é expandir o portfólio de cursos em 2026. A ação, segundo os organizadores, depende da adesão das empresas e do engajamento com o processo de qualificação.
Por agora, o setor tem adotado medidas para amenizar a escassez de mão de obra. “Temos agregado também a industrialização na obra, principalmente na parte elétrica e hidráulica, com kits prontos para as instalações, argamassas estabilizadas já prontas para a aplicação e estruturas mais padronizadas auxiliando na produtividade. São ações que amenizam e ajudam na questão do cronograma, mas ainda não resolvem”, finaliza Bigucci.
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