Saúde

Mais de 99% dos pacientes com doenças cardiovasculares não controlam fatores de risco

O 44º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, a ser realizado, entre os dias 30 de maio e 1º de junho, no Transamerica Expo Center, na capital paulista, irá debater, pela primeira vez, o Registro Brasileiro de Doença Aterotrombótica – NEAT, com dados assustadores. Somente 0,3% dos pacientes com doença aterotrombótica seguem à risca a lista de cuidados para evitar complicações como infarto e acidente vascular cerebral. A pesquisa foi feita com mais de 2 mil portadores de Doença Arterial Coronariana (DAC) – uma das principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo – e de Doença Arterial Periférica (DAP).

 De acordo com o registro dos pacientes, o controle do colesterol ideal era feito por apenas 8,6% dos pesquisados; a prática recomendada de 150 minutos de exercícios físicos por semana estava sendo cumprida por 12,5%; 20,7% afirmaram fazer a monitoração do diabetes; 31,5% dos consultados apresentavam índice de massa corporal adequado; 40,7% tinham a pressão arterial dentro da meta e 15,7% mantinham o hábito de tabagismo, apesar da doença cardiovascular estabelecida.

O estudo evidenciou que, apesar de mais de 90% dos cardiologistas prescreverem o uso de estatinas, 55,4% não utilizavam a dose recomendada, chamada estatina de alta intensidade, que diminui o colesterol ruim em mais de 50% e é apropriada aos mais propensos à piora do quadro. 4% não tratavam com antiplaquetários e os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) e os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), que regulam a pressão arterial, só eram consumidos por 76,4% da amostragem.

O diretor Científico do Congresso, Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva, acredita que a prescrição das medicações não acontece como deveria devido a um gap na comunicação entre a prática clínica e os achados científicos. “Dessa forma, as melhores terapias não são implementadas para quem as necessita. Todos com doença aterotrombótica deveriam fazer a ‘lição de casa’ para obter o benefício completo da redução de risco cardiovascular. Porém, aqui há um duplo problema: a parte que depende do paciente e aquela sob a responsabilidade do médico”, afirma.

A falta de comprometimento, tanto dos pacientes cardiopatas como dos médicos, com as melhores estratégias de prevenção para evitar agravamento do diagnóstico, reforça a importância de uma reeducação de todos os envolvidos para amortizar fatalidades. “O risco anual de óbito e complicações graves para pacientes com Doença Arterial Coronariana e Doença Arterial Periférica é de cerca de 4% dos acometidos, mas calcula-se que esse percentual pode cair próximo a 1% com as medidas corretas”, revela o cardiologista.

Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva alerta que “as informações obtidas no Registro NEAT devem ser utilizadas no desenvolvimento de projetos de larga escala para melhorar a qualidade dos cuidados, preparando ainda mais os cardiologistas sobre a eficácia dos medicamentos para controle de cardiopatias e conscientizando a população sobre tudo que está ao alcance para uma vida mais saudável”.

O tema será debatido com lideranças nacionais e internacionais da cardiologia, durante o Congresso da SOCESP.

Doença Arterial Coronariana e Doença Arterial Periférica

A Doença Arterial Coronariana (DAC) é uma condição na qual as artérias coronárias, que fornecem sangue rico em oxigênio ao coração, tornam-se estreitas ou bloqueadas devido ao acúmulo de placas (depósitos de gordura, colesterol e outras substâncias). Isso pode levar a sintomas como angina (dor no peito), falta de ar ou até mesmo a um ataque cardíaco, quando a circulação sanguínea para uma parte do músculo cardíaco for significativamente reduzida ou interrompida. A DAC é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo.

Já a Doença Arterial Periférica (DAP) promove um estreitamento ou obstrução das artérias que fornecem sangue aos membros inferiores devido ao acúmulo de placas, resultando em menos fluxo sanguíneo para as extremidades do corpo. Os sintomas comuns da DAP são: dor ao caminhar, diminuição da sensibilidade ou temperatura nas pernas e pés, úlceras nas pernas que não cicatrizam facilmente e fraqueza muscular. Está associada a uma chance maior de complicações cardiovasculares, como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e é um importante indicador de doença arterial em outras partes do corpo.