Política

Morando: “As pessoas não pedem mais base comunitária ou viatura, pedem mais câmeras do Smart Sampa”

Orlando Morando: secretário de Segurança Urbana de São Paulo

O secretário municipal de Segurança Urbana de São Paulo, Orlando Morando, em entrevista exclusiva, revelou que os índices de criminalidade da cidade caíram, desde o início do ano, destacando a efetividade do programa Smart Sampa. Revelou que, na Av.Paulista, foi reduzido 75% dos roubos e 50% dos furtos. Contou sobre as novidades para a Segurança Pública da Capital até o final do ano e falou que irá fazer uma análise e ouvir aliados para decidir se disputará a eleição em 2026. Confira.

FOLHA DO ABC- São Paulo apresenta um cenário de segurança pública complexo, com aspectos positivos e negativos para os seus mais de 11,4 milhões de habitantes. O sr.assumiu a Secretaria de Segurança Urbana de São Paulo há oito meses. Qual situação encontrada e o que foi possível avançar nesse período?

Orlando Morando- São Paulo tem dado um passo à frente, especificamente com o programa Smart Sampa. Ele é o maior e mais eficiente programa de monitoramento e controle de distúrbios sociais da América Latina. O programa chegou a 32.720 câmeras no seu total, 20 mil delas do sistema público, que foram contratadas pela prefeitura, e 12.720 através de convênios com câmeras privadas.

Já atingimos um resultado de mais de 1.700 foragidos em nove meses. Foram recapturados pela justiça, feitas essas prisões por GCMs da cidade de São Paulo. 1.700 presos equivalem a quase quatro presídios que o programa Smart Sampa e a GCM de São Paulo conseguiram lotar especificamente com esta atuação.

Tivemos mais de 3 mil flagrantes, ou seja, o programa inibiu claramente que o criminoso pudesse continuar. Foram reencontrados 85 desaparecidos. E agora, passamos a fazer leituras de placas de veículos automotores, exatamente para a gente tirar de circulação carros, motos e caminhões que foram produtos de roubos, furtos ou têm as suas placas adulteradas.

O programa ainda contempla, já cadastrados, 5.500 mulheres que são vítimas de violência doméstica ou violência contra a mulher. Elas têm um aplicativo no seu celular e, assim, temos o georreferenciamento desta mulher. Ela, ao acionar o botão de pânico, entra como prioridade máxima no Smart Sampa e a gente pode rapidamente fazer atenção é o atendimento com qualquer uma das 610 viaturas ou 220 motos da GCM que patrulham São Paulo.

O Smart Sampa vem oferecendo um índice de aceitação altíssimo. Tanto que o nosso slogan, antigamente era ‘sorria, você está sendo filmado’. Agora, é ‘sorria, você está sendo protegido’. Não queremos tirar a privacidade das pessoas, queremos, com imagem, proteger as pessoas.

Agora, estamos num passo importante, inédito no mundo, que são câmeras nas motos da PM e da GCM. A moto passou a ser uma ferramenta tão importante para o criminoso quanto a arma. Então, se o ladrão quer usar moto para praticar o crime, vamos usar moto para prender o criminoso. Também, já em fase de teste, nos ônibus que compõem a frota da SP Trans, a nossa meta é ter todos os ônibus exatamente monitorados para que a gente possa ter o controle facial de quem entra dentro dos ônibus coletivos.

Não vamos permitir que foragidos andem nas ruas de São Paulo, pessoas que têm dívidas com a Justiça e nem nos ônibus. Cada vez você vai ampliando essa corrente de proteção para que essas pessoas voltem para o sistema prisional e deixem a cidade de São Paulo em paz.

FOLHA- O Smart Sampa e o Prisômetro ganharam bastante destaque. Como esses programas e outras iniciativas têm contribuído para diminuir os índices de criminalidade e melhorar a sensação de insegurança da população?

Morando- Asensação de insegurança melhorou muito, mas ela ainda existe.Tivemos fatos extremamente importantes. Um exemplo é a ‘Operação Paulista Mais Segura’. A Av.Paulista era a avenida de São Paulo, pelo mapa de calor, com a maior estatística de roubos e furtos da cidade, de acordo com dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Então, reduzimos 75% os roubos, 50% os furtos. É óbvio que isso gera uma sensação de segurança muito melhor. Quem passa hoje na Av.Paulista percebe e diversos outros pontos. Conseguimos extinguir, pontualmente, na rua dos Protestantes o fluxo que era o conhecido Cracolândia. Não quero dizer que acabou com os usuários de crack de São Paulo, mas aquela coisa, aquela zona franca da droga que tinha ali, foi extinta.

Toda a região da Santa Efigênia se sente mais protegida. O centro histórico de São Paulo passou a ser turístico. Vejo, diariamente, que as caravanas de turistas voltaram a frequentar o local. Existe uma sensível melhora, inegável.

Agora, há enormes desafios, é uma cidade muito grande, uma cidade que infelizmente a droga ainda chega com uma certa facilidade, mesmo reconhecendo todo o esforço, e um grave problema, por vezes a leniência do Poder Judiciário.

Acabamos de ver nesta semana, no dia 25 de agosto, em Sorocaba, uma importante atuação da Polícia Militar, que prendeu dois traficantes com 220 kg de pasta base de cocaína e 90 kg de crack. O juiz da cidade liberou os dois traficantes na audiência de custódia com o argumento de que o volume de drogas apreendidos não era suficiente para mantê-lo preso.

Tem alguma coisa na contramão, porque enquanto a gente está prendendo pequenos traficantes, que vendem porções fracionadas de crack para acabar com a Cracolândia, a gente os vê saírem pela porta da frente com ordem judicial.

Então, entendo que a polícia prende bem. Quando digo a polícia, são as três polícias, a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Polícia Municipal, conhecida também como GCM, agora, o Poder Judiciário, o Código de Processo Penal Brasileiro é extremamente omisso, vencido, e, tristemente, a gente não vê nenhum esforço para mudar isso.

Não vemos isso priorizado no Congresso. Muito provável que a gente veja narrativas pré-eleitorais sobre isso, mas uma força-tarefa para mudar essa realidade, infelizmente, não existe.

O que tenho convicção é de que o Smart Sampa é percebido pelo paulistano, a população sabe que tem um programa novo, que prende criminoso, que está olhando a cidade para protegê-lo. E isso, sem dúvida nenhuma, nas últimas décadas, foi o que teve de mais inovador na segurança pública.

O que a gente percebeu? Que o aumento do efetivo, mais viatura, não gerou a sensação desejada que você coloca com propriedade. O Smart Sampa gerou. Tanto que tenho ido aos CONSEGs (Conselho Comunitário de Segurança) de São Paulo. As pessoas já não me pedem mais uma base comunitária ou uma viatura. Pedem mais câmeras do Smart Sampa no bairro.

A gente tem que trabalhar muito, ampliar o programa de câmeras, queremos chegar até o final deste ano com 40 mil câmeras em São Paulo e torcendo para que este programa possa se alastrar por todo o Estado.  Em São Caetano, a gente já teve um episódio muito favorável, o prefeito Tite esteve conosco, logo na minha chegada à secretaria, rapidamente instrumentalizou e São Caetano já tem um programa de altíssima eficiência, tanto quanto o nosso Smart Sampa de São Paulo. Vejo isso como uma tendência.

O pior é ouvir o triste comentário de que a polícia aprende mal, por isso que o juiz solta. A polícia não aprende, a polícia prende muito bem. Soltam porque existe omissão, quando não má fé.

FOLHA- Recentemente, o secretário estadual de Segurança, o Guilherme Derrite, declarou no LIDE ABC que: “o centro deixou de ser atrativo para a Cracolândia”. É possível afirmar, então, que a Cracolândia deixou de existir? Há monitoramento para que os criminosos e traficantes não se instalem em outras localidades da cidade?

Morando- Não me cabe comentar interpretações de outro secretário, mas primeiro, a facilidade que a droga chega na cidade pode propiciar usuários, mas não que existe o risco de novas concentrações. Por quê? O histórico da Cracolândia é muito mais amplo.

Ela não sumiu da noite para o dia. Primeiro, foi interrompido o tráfico na favela do Moinho, na rua dos Gusmões. Fechamos os ferrolhos, as pensões. Todo o ciclo negativo que facilitava aquele ambiente naquela situação.

Então, aquilo foi uma grande operação organizada entre um grupo de trabalho, da qual faço parte, Estado e município, liderado pelo vice-governador, o Felício Ramuth, e o vice-prefeito, o coronel Mello Araújo, que resultou num trabalho de anos, tem mais de dois anos que esse trabalho está sendo intensificado em tratar, internar, cuidar.

Esses números podem ser provados das pessoas que estão dentro de clínicas terapêuticas, CAPs, Hubs. Não é narrativa de discurso, tem dados comprovados. Aquilo existia há mais de 20 anos. Tinha mais de 4 mil usuários na estação Júlio Prestes.

 Isso foi sendo estrangulado, estrangulado. Estava num número muito menor, mas era absurdo. Quando me tornei secretário, tínhamos, em média, 300 usuários durante o dia e chegava a 800 usuários à noite. Não temos mais uma concentração dessa na cidade de São Paulo. Não tem, estou afirmando.

Temos problemas pontuais, como por exemplo, a Praça Marechal Deodoro, que há uma pequena concentração, no Parque D.Pedro, mas que a gente intensificou as ações sociais de internação e não permitir o tráfico deliberado, como acontecia na Rua dos Protestantes, que era a Cracolândia.

O que a gente tem feito é um duro acompanhamento para não permitir novas concentrações. Porque se concentra o usuário e você não faz a repressão devida para coibir o tráfico, você vai deixar. Hoje, posso afirmar que esta movimentação tem um total controle da Prefeitura, não só na observação, mas no tratamento do usuário e na repressão ao eventual traficante que ali queira atuar.

FOLHA- Alguns bairros de São Paulo, que concentram maior fluxo de pessoas, como São Matheus e Campo Limpo, ainda têm um índice de criminalidade elevado, bem como, outros, de alto poder aquisitivo, como Pinheiros e Itaim. Como o sr. tem atuado nestas localidades para atenuar esses índices?

Morando- EmPinheiros, conectamos o sistema privado de 180 câmeras ao programa Smart Sampa. As informações que colhi é de que melhorou muito depois dessa atuação.

A periferia, a gente também tem feito um trabalho da mesma ordem. A GCM de São Paulo tem 32 inspetorias. As inspetorias atuam com muita efetividade para que a gente possa ter um controle.

Agora, estamos fazendo um trabalho importante, que reduz violência, que é atuar contra os pancadões em São Paulo, que tinha uma frequência muito forte. Então, os subprefeitos, junto com a nossa GCM, têm feito um trabalho preventivo. Não vemos concentração de menor bebendo, gente usando droga, madrugada dentro. Claramente conseguimos reduzir os índices e a sensação de violência no local.

Agora, é importante lembrar que não é uma guerra vencida, é uma batalha que se vence a cada dia, mas os números oficiais apontam que tivemos queda de violência na cidade de São Paulo.

Nestes primeiros meses, onde estou atuando, roubos, menor marca no semestre, maior queda foi no Centro de São Paulo, 20%. Roubos de veículos, queda de 30%, foi a maior redução histórica. Furtos de veículos, queda de 4%. Latrocínio, chegamos à menor marca histórica da cidade de São Paulo, de acordo com os números do Estado.

Então, a gente tem certeza que estamos no caminho certo. Agora, isso não quer dizer que a gente resolveu o problema. O problema busca solução todos os dias.

Por outro lado, na Av.Paulista e todo o seu entorno, teve um destaque excepcional. Mais efetivamente, onde estive na Associação de Moradores do Jardim Europa e toda aquela região que sofria, praticamente, a reunião foi de homenagem pelo trabalho feito. A gente tem conseguido buscar resultados exitosos em muitos pontos, mas tem muito trabalho a ser feito.

FOLHA- Até o final do ano, o que está previsto?

Morando- Mais câmeras, o prefeito Ricardo Nunes, como disse, autorizou a gente a abrir um concurso para mais 1 mil GCMs, estamos falando de quase 20% a mais do efetivo da GCM de São Paulo, temos duas novas inspetorias a serem inauguradas no mês de setembro, a Inspetoria do Jardim Pantanal e a do Jardim Guaianazes. Temos em obra outras três inspetorias que vão acomodar melhor o nosso efetivo.

Para este ano ainda, teremos a renovação da frota das viaturas. Serão 370 novas viaturas, dentro do contrato. São Paulo tem uma estrutura na sua Secretaria Municipal de Segurança extremamente robusta e que a atuação tem oferecido importantes resultados à São Paulo.

FOLHA- O sr., que já foi vereador, deputado estadual e prefeito, tem intenção de disputar a eleição de 2026?

Morando- Honestamente, não pautei 2025 com prioridade eleitoral, até porque estou sem partido político. Eu me desfiliei do PSDB, em dezembro de 2024 e não fiz nova filiação. Então, não estou tratando isso como prioridade neste ano, até pelo elenco da agenda que estou cumprindo, mas estou sempreà disposição em servir a sociedade.

Gosto sempre de fazer pesquisa, fazer uma análise regional, ouvir aliados. Política não é um projeto individual, política é um projeto coletivo. A partir do ano que vem, vou começar, primeiro, a fazer pesquisa de opinião: ‘O que as pessoas esperam do Orlando?’ Tenho a minha esposa, que é deputada estadual e caminha para uma reeleição muito forte.

Então, vou analisar e se interpretar que existe uma vontade da sociedade e se aliados da política regional, como vereadores, prefeitos, entenderem que o meu nome pode servir a nosso ABC, servir a cidade de São Bernardo, posso colocar o meu nome à disposição.

Acho que na vida pública, se você oferece bons resultados, é natural você continuar na disputa. Mas, não priorizei esse tema, ainda.

FOLHA- O sr. continua morando em São Bernardo, com forte ligação na cidade. Como avalia o atual cenário e qual projeção faz para 2028?

Morando- Senão pensei nem em 2026, quanto mais em 2028. Fora do radar, fazer qualquer projeção para 2028.Em 2026, tem uma eleição importante, vou trabalhar muito, seja como candidato ou não, para mudar esse cenário, tirar o PT do poder, claramente, isso estou afirmando, seja como candidato ou cabo eleitoral.

Gostaria muito que o governador de São Paulo, o Tarcísio de Freitas, fosse o nosso candidato a presidente, entendo que ao ele aceitar esse desafio, o prefeito Ricardo Nunes já disse que se colocará à disposição para auxiliar,inclusive reafirmou isso, na terça (26), se necessário, renunciando o cargo de prefeito para ser candidato a governador, pensando num projeto nacional.

Acho que isso é a coisa mais importante. Precisamos recuperar o Brasil. Não dá para conviver com taxa de juros de 15% ao ano, um país sem capacidade de investimento, uma relação bilateral com países que sempre foram parceiros históricos, hostil como estamos. O Brasil está fora da pauta internacional. O presidente Lula conseguiu desabilitar o país.

Hoje, o presidente da Argentina se coloca como um líder da América Latina, muito melhor posicionado que o Lula. Um país que há dois anos tinha uma inflação de 70% ao ano, o Milei conseguiu recuperar a credibilidade internacional da Argentina e o Brasil perdeu a credibilidade. Não há investimentos, não há financiamento, não há um projeto de reindustrialização do Brasil. Isso me preocupa muito. Quero ser um ativista de uma boa política para o Brasil e que a gente possa manter a boa política no Estado de São Paulo.

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