Eleições

Morando: “Se a população não aprovasse o governo, não teria levado para o 2º turno quem participou da gestão”

Orlando Morando: prefeito de São Bernardo

O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), em entrevista exclusiva à Folha, disse que o que pesou para sua candidata Flávia não ter ido para o segundo turno, foi a “falta de estrada política, não de experiência”. Afirmou que seu governo foi pautado por entregas e resultados e que a população entendeu que o candidato Marcelo Lima representou isso junto com ele. Também falou sobre o seu futuro político e disse que vai deixar o PSDB. Confira. 

FOLHA DO ABC- Nestas eleições, o sr. fez um movimento político ousado, escolhendo para a sucessão, sua sobrinha Flávia, que não passou para o segundo turno. Na sua avaliação, o que faltou? Pesou o fato de ela ser uma candidata jovem e mulher?

Orlando Morando – Tenho uma trajetória de sucesso, já participei diretamente de 12 eleições, vencemos 10. Não tive êxito em 2008 e agora, em 2024. É um movimento que precisamos, realmente, reavaliar, porque mesmo após a eleição, mantenho 70% de aprovação que, para mim, é o mais importante.

Não me tornei prefeito pra ficar ganhando uma eleição atrás da outra. Tornei-me prefeito para mudar a vida da cidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas. O movimento político, é verdade, foi ousado, mas o nosso grupo político entendeu que o que melhor significava, naquele momento, para a continuidade do meu trabalho, seria alguém com o nosso DNA, com a nossa certeza de continuidade e a Flávia aceitou esse desafio. Fez uma belíssima eleição. Uma mulher, na primeira campanha, disputou só com deputados e chegou a 21%, quase 90 mil votos. O que pesou foi a falta de estrada política dela, não a falta de experiência.

Ela tem experiência administrativa ampla, agora, a ausência dela em outras eleições, disputando com recall de campanha maior, foi o que fez a diferença, mas fizemos um bom combate. Na vida, ganhamos e perdemos desde que estejamos do lado certo da história e todos nós que estivemos com a Flávia tínhamos a certeza de que ela representava a continuidade da nossa gestão.

Ela não indo, optamos por alguém que já conhecemos, com quem trabalhei junto, que tem mais experiência e que me ajudou a transformar a cidade, que é o Marcelo Lima, o que nos deixa muito confortável.

FOLHA- A população levou para o segundo turno, o Marcelo Lima, alguém com experiência no seu governo, que compôs como vice-prefeito desde 2016 e que foi secretário de Serviços Urbanos. O que faltou para o sr. apoiá-lo no primeiro turno?

Morando- Isso me deixa feliz, porque foi alguém que fez parte da minha gestão. Óbvio, em primeiro colocado, o que mostra claramente, e referenda o que falei. A população aprova o meu governo. Se a população não aprovasse o meu governo, não teria levado para o segundo turno alguém que tivesse participado diretamente da minha gestão, das minhas eleições, inclusive fazendo dobrada com a Carla Morando. Está claro que, o que faltou para a Flávia, foram algumas eleições disputadas anteriormente.

Ter levado o Marcelo para o segundo turno, em primeiro lugar, mostra, claramente, que, juntos, entregamos uma administração com melhores resultados, com entregas e sem conversa. O meu governo foi pautado por entregas e resultados e o Marcelo, a população entendeu que representou isso, junto comigo.

FOLHA- Em 2020, após 16 anos de rivalidade política, o sr. recebeu o deputado federal Alex Manente, em seu gabinete. Na ocasião, ele destinou uma emenda para São Bernardo, e foi dito em vídeo: “a cidade precisa de união” e “vamos deixar as divergências de lado”. Em 2020, o Alex também o apoiou para a reeleição. Agora em 2024, por que não houve essa união?

Morando- Primeiro, política é feita de escolhas, que a democracia nos permite claramente. Além das escolhas, tem a questão da confiança. Parto sempre de uma política de resultado, sempre gostei disso.

Não tenho nada contra ele pessoalmente, não é esse o propósito. Entendo e reconheço que vieram algumas ajudas, muito menos do que imaginava, pelo poder que tem um deputado federal e pelas próprias emendas que são destinadas. Mas, não sou persona non grata. Vieram emendas, mas acho que pelo perfil eleitoral que ele tem com a cidade, pelos votos que ele teve com a cidade, entendo que poderiam ter sido mais robustas na mesma envergadura que a Carla manda para São Bernardo.

Então, essa foi a razão sobre esse posicionamento político. Sobre o posicionamento de não apoio, insisto que a minha candidata foi a Flávia Morando. Estamos discutindo o segundo turno. E no segundo turno, pela convivência, pelos resultados, pela confiança, optei pelo Marcelo Lima. E foi a decisão que nós tomamos.

FOLHA- Como o sr., a Flávia, a deputada Carla, irão contribuir com o governo do Marcelo Lima, caso ele seja eleito? E como vocês vão atuar caso o Alex seja eleito? Haverá diálogo?

Morando- Olha, suposição de resultado da eleição só depois da urna. O nosso candidato é o Marcelo Lima. O Marcelo disse que quando precisar vai me chamar para aconselhá-lo. Não farei parte do governo, então, já estou afirmando.

Eu não farei parte do governo. A Carla já afirmou que vai continuar enviando recursos, como manda no meu mandato, que é obrigação de quem foi eleito por São Bernardo. A Carla foi a deputada mais votada da história de São Bernardo.

Então, esse vai ser o trabalho que nós teremos. Eu, quando chamado, se servir para dar algum aconselhamento, estaria à disposição, bem como a Carla vai continuar com o mandato dela voltado para São Bernardo e o ABC, sem dúvida. A Flávia também não tem nenhuma intenção em participar do governo.

FOLHA- O sr. tem pouco mais de dois meses até o final do governo. Será possível entregar todas as intervenções, as obras que estão em andamento e quais são os expoentes desta reta final?

Morando- Primeiro, vou deixar claro que já entreguei muito. Então, não é nos dois meses que vou entregar o meu trabalho. Meu trabalho já foi entregue, o que me dá uma aprovação de 70%, algumas pesquisas até mais um pouco.

Temos ainda obras que a gente está focado em entregar, ainda pretendo entregar a Clínica do Autista no meu mandato, a primeira do Estado. Ainda vou entregar o H.Olhos. Estou otimista em entregar o terceiro Bom Prato, lembrando que fiz dois, estou entregando o terceiro.

Tem mais obras de recapeamento asfáltico para entregar, o novo trevo do Km 31 da Anchieta, o novo acesso ao Rudge Ramos, no Km 16 da Anchieta, também iremos entregar.

Devo entregar ainda, o novo acesso da Piraporinha ligando também ao corredor ABD.

FOLHA- E a partir de janeiro de 2025, como o sr. irá continuar contribuindo para São Bernardo? O sr. vai direcionar sua trajetória política rumo ao Governo do Estado ou à Brasília?

Morando- Olha, primeiro, em janeiro eu vou pegar férias. Isso já está decidido. Prometi para os meus filhos e para a minha mulher, não um mês inteiro, nunca tirei um mês de férias, mas vou pegar uns dias sabáticos.

Isso é a única decisão que tenho. Sobre pensamentos políticos futuro, não decidi ainda o que fazer, mas vou continuar trabalhando voluntário, gosto de muitas entidades filantrópicas, o que puder servir, voluntariamente, para a cidade, para as pessoas, estarei à disposição, a partir de janeiro.

Vou manter um escritório político na cidade, mas encerro o meu mandato sem novas pretensões de ocupação de cargo, de fazer algo e a definição política vou tomar mais adiante, não há definição tomada por enquanto.

FOLHA- A Flávia, na primeira disputa nas urnas, obteve 89.276 votos, o que representa um grande potencial político. O que sr., ela, o grupo político, pensam sobre esse potencial para 2026?

Morando– Não, não pensamos sobre isso ainda. O grupo está pensando, agora, em eleger o Marcelo Lima. Esse é o único pensamento, não tem pensamento pós. Isso é um assunto a ser deliberado posteriormente.

FOLHA- O sr. está no PSDB desde 2005, mas a sua movimentação política tem se posicionado mais à direita do que na social democracia. O sr. também apoiou uma candidata de outro partido, a Flávia, que é do União Brasil. Essa movimentação sugere um distanciamento do partido. O sr. irá mudar de sigla?

Morando- Primeiro, sou de centro-direita, só deixar isso claro. Nunca fui de centro-esquerda, meu posicionamento é de centro-direita.

O apoio a uma candidata do União ao Brasil, claramente porque não vejo mais inspiração e nem futuro para o PSDB. E mais do que as minhas palavras são os resultados. O PSDB teve o pior resultado histórico em eleições municipais no Estado de São Paulo e no Brasil.

Tentei salvar o PSDB, fiz tudo o que foi possível, mas infelizmente o partido passou a ter direções estaduais e nacionais, frutos de golpe, não fruto de uma democracia da militância.

Vou encerrar meu mandato no PSDB. Por decisão própria, poderia já ter mudado de partido, não tem impedimento legal, mas pretendo migrar sim do PSDB, não vou permanecer na legenda. A minha preocupação, agora, é terminar o mandato cuidando bem de São Bernardo. Vou ter um ano e meio para escolher outro partido.

FOLHA- Qual análise o sr. faz do desempenho do PSDB neste primeiro turno? O partido não venceu em nenhuma capital, caiu de 525 prefeitos eleitos em 2020, para 239 em 2024, e no ABC, só terá um prefeito e 6 vereadores do total de 150 de todo a região.

Morando- A direção estadual e a direção nacional acabaram com o partido. O PSDB passou a ser um partido de um dono. Isso não é partido, isso é um cartório.

Então, uma decepção total, onde deixaram o partido que reconstruiu a economia do Brasil, reconstruiu o Estado de São Paulo com o Mário Covas, o Brasil com o Fernando Henrique, ser levado. O partido foi levado, inicialmente, a uma recuperação judicial e agora, claramente, a sua falência.