Editorial

Mudança repentina

No final de maio último, os prefeitos do ABC, por meio do Consórcio Intermunicipal, haviam encaminhado, ao governador João Doria, um pedido de reclassificação da região, para o início da reabertura do comércio. Na ocasião, Doria não cedeu às pressões, afirmando que os prefeitos não iriam “transformar a reabertura em celebração, em uma festa da reabertura”.
O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, chegou a comentar, em uma de suas lives, sobre a decisão do governador. “O município vai seguir a ciência e que a ciência siga São Bernardo também. Se é para abrir a Capital, abra o ABC também. Não queremos pessoas de São Paulo vindo infectar o nosso ABC e, nem que os moradores do ABC vão para a Capital se infectar. Se o governador abrir a Capital, vamos abrir em São Bernardo, mesmo sem ele deixar”, disse. O prefeito de Santo André, Paulo Serra, acompanhou Morando: “pouco importa se o governador anunciar ou não a flexibilização para o ABC. Já estamos preparados para a fase laranja. Foi uma grande injustiça com a nossa região. Temos índices bem melhores que a Capital. Independente da avaliação do Governo do Estado, dos critérios científicos, temos os nosso planejamento, Santo André tem índices para reabrir e vamos reabrir em 15 de junho”, enfatizou. Apenas o prefeito José Auricchio, de São Caetano, em tom mais sereno, avaliou: “frente a indicadores de outros municípios do ABC, devemos ser prudentes. Faço coro a essa prudência de ainda não liberar a região para a fase 2 (laranja)”, disse. Pouco tempo depois, o ABC foi reclassificado e, iniciou a reabertura do comércio no dia 15 de junho último.
Porém, toda essa preocupação, esse discurso dos prefeitos, de que a reabertura na região, deveria acontecer alinhada, ou seja, ao mesmo tempo em que a Capital, por conta da proximidade e do alto risco do ABC receber pessoas infectadas, caso fosse feita a reabertura de algum setor antecipadamente nesses municípios e não em São Paulo, caiu por terra.
No último dia 3 de julho, o Estado anunciou a reclassificação do ABC, para a fase 3 (amarela). Então, foi liberada a reabertura de bares, restaurantes, salões de beleza, com restrições. E, ate academias e parques, que antes só estavam previstos para a fase 4 (verde), além de cinemas, museus, bibliotecas, teatros, salas de espetáculos, também, todos, com restrições.
Com isso, os prefeitos não mais se preocuparam com o risco de infecção de visitantes da Capital e, estenderam horários de funcionamentos de parques e bares, por exemplo, em horários maiores do que na Capital.
Enquanto que em São Paulo foi liberado o funcionamento dos parques apenas de segundas às sextas-feiras, das 10h às 16h, com exceção do Parque Ibirapuera, das 6h às 16h; em São Bernardo, Morando liberou o funcionamento dos cinco principais parques do município, das 6h às 22h. Já em Santo André, Serra liberou o funcionamento dos bares, diariamente, até às 23h30. Foi o único município do Estado de São Paulo a permitir que esses estabelecimentos tenham horário de funcionamento até tarde da noite. Na Capital, por exemplo, o limite de horário é até às 17h.
A mudança repentina de avaliações e condutas por parte dos prefeitos acabou deixando muitas pessoas sem entender. Afinal, a pandemia já estaria mesmo sob controle? Ou, seria estaria a proximidade das eleições, falando mais alto? Vale lembrar que no início da reabertura, no dia 15 de junho, os sete municípios contabilizaram, ao todo, 14.995 casos confirmados e 884 óbitos. Um mês depois, no dia 15 de julho, a região já chegou a marca dos 32.348 casos e 1.454 mortes, segundo dados do Governo do Estado.