Editorial

Na marcha da insensatez

Com bocas cobertas por adesivos e correntes amarradas nas mãos, parlamentares da oposição ocuparam as mesas diretoras da Câmara e do Senado em protesto à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Talvez, até agora, esse seja o ponto mais lamentável da espiral de imprudências que o Brasil chegou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), abriu a sessão plenária, na noite de quarta (6), por volta das 22h30, após um longo período de obstrução e protestos por parlamentares da oposição. O objetivo é pautar a anistia geral e irrestrita aos condenados por tentativa de golpe de Estado no julgamento da trama golpista, assim como o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Na ocasião, Motta disse que os parlamentares não podem priorizar interesses pessoais ou eleitorais. “Nesta casa mora a solução das construções para o nosso país, que tem que estar sempre em primeiro lugar, e não deixarmos que projetos individuais, pessoais ou até eleitorais possam estar à frente daquilo que é maior que todos nós, que é nosso povo que tanto precisa das nossas decisões”, afirmou.
Como se isso tudo não bastasse, até um bebê de colo foi usado para provocação política no plenário da Câmara, filha da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), que foi exposta em um ambiente totalmente instável, com risco físico e envolto em enorme tensão institucional para agravar, ainda mais, o caos no local. “Fui chamada pelos colegas e tive que vir com a minha bebê. Será que vão tirar a gente à força?”, questionou a deputada, sentada na cadeira do presidente Hugo Motta.
Abusos de poder viraram comuns no território brasileiro, seja por apoiadores políticos, por ministro do STF, enfim, por todos os “lados”, inclusive com apoio e interferência internacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Nem golpismos, nem excessos do Judiciário e nem interferência externa podem ou devem ser normalizados.
O que está acontecendo no Brasil é uma verdadeira vergonha. Interesses pessoais, partidários e políticos ficaram acima da soberania do País. Ainda que tenham sido cometidos com a justificativa de serem praticados em nome da “democracia” ou coisa que o valha, esses atos não deixam de ser abusos intoleráveis à luz do Estado Democrático de Direito consagrado desde a Constituição de 1988.
Ninguém parece estar disposto a acalmar os ânimos e pensar no que é melhor para o País. Todos estão inseridos num círculo vicioso que tem paralisado o Brasil. Nunca o princípio fundamental da física, conhecido como a Terceira Lei de Newton, ou Lei da Ação e Reação, ou seja “para toda ação há uma reação” foi tão utilizado no território brasileiro, porém de maneira quase que infantil e meramente reativa.
Assim, foi criado um círculo vicioso que ora paralisa o País no sentido de impedir a discussão e a construção de consensos mínimos em torno de temas que afetam a vida de milhões de brasileiros que, muitos dos quais, “cegos”, ainda não se tocaram que são mera massa de manobra, se comportando como torcedores fanáticos e odiosos contra o “adversário”, ou seja, quem está “do outro lado”, cultuando e propagando os interesses pessoais de seus adorados.
Nessa infeliz e amarga marcha da insensatez, a qual todos os brasileiros estão inseridos, de todos os lados, a única certeza é o prejuízo e retrocesso que todos terão, colocando a nação em uma situação degradante, humilhante e vergonhosa, para figurar no cenário internacional. A única coisa que o Brasil precisa, nesta hora grave, é da serenidade de suas autoridades para escapar do nefasto ciclo de radicalização.

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