Opinião

Não importa quantas batidas seu coração vai dar, mas por quais motivos ele vai bater

-Está tudo bem? a mão pergunta à Luca, 12 anos, logo quando ele chega da escola. -Mais ou menos, responde a criança ao sentar à mesa do almoço semi-posta. -O que houve? quis saber a mãe -O professor. Ele disse que as pessoas tem uma média de dois bilhões e meio de batimento cardíaco ao longa da vida. -Sei… a mãe bebe um gole de vinho. -Continua, sugeriu ela. -Cada batida que sinto é como se fosse uma contagem regressiva, confessou o menino em tom de desânimo. A mãe apenas ficou pensativa, tomou outro gole de vinho e sorriu como quem tivesse arrumado a solução para algo.
No dia seguinte – ao chegar da escola – Luca encontra uma caixa sobre sua cama. Ao abri-la viu que era uma camiseta branca. Vestiu-a. Era tão grande que não lhe servia. O menino vê que a mãe está ao lado da porta recostada com o ombro: -Essa camiseta é pra mim ou pro papai? -Pra você, filho! Então eles sentam na cama e começam a conversar.
A vida passa. Doze anos depois aquele garoto de outrora se forma na faculdade, vive uma vida plena, feliz, tem seu trabalho, ajuda as pessoas, começa a namorar, casa-se e tem uma filha.
-Oi filha, cumprimenta a esposa de Luca que preparava o almoço. -Oi. ela passa direto pela cozinha sem nem olhar par os pais. -Sabe o que foi? pergunta Luca à esposa. -O menino da escola, responde a mãe, -Não deixa a Isabela jogar bola, só porque é menina. Naquela noite, Luca, pai de Isabela deitou-se na cama tão pensativo quanto um cientista que acabara de concluir seu invento mas não conseguia saber para o que servia. Não dormiu à noite toda, e, ao dirigir-se para ao quarto da filha a fim de acordá-la para ir à escola, a percebe, cabisbaixa, sentada na cama. Bate à porta e a entreabre -Posso entrar? pede permissão ao portar uma caia azul nas mãos -Claro, pai. Sentou-se ao lado dela. Isabela olha com atenção uma camiseta branca que ele trajava. A roupa estava cheia de frases aleatórias, ora com esferográfica azul, ora com tinta preta em dizeres que Isabela começou a ler: “nasceu minha filha”. “passei na faculdade”. “a briga foi ruim, mas fiz as pazes”. “tirei a carta de motorista”. “minha esposa ficou grávida”. “consegui uma promoção na empresa”.
Quando Luca tinha 12 anos, ao presenteá-lo com uma camiseta branca maior que seu número, a mãe, na ocasião, havia-lhe aconselhado: -Luca meu filho, ela sorria -Todas as vezes que você viver algo especial; todas vezes que você fizer algo de bom pra alguém, você vai escrever nessa camiseta, e quando você crescer, vai entender que não importa quantas batidas seu coração vai dar, mas por quais motivos ele vai bater.
De modo que aquele presente que perdurou anos, Isabela fez questão de continuar a ler: “a menina que gosto sorriu pra mim”. “mudei de cidade”. “vou ser pai”. E então Luca entrega a caixa azul à filha, ela abre e uma camiseta branca maior que o número dela lhe é presenteada.
Brincadeiras, namoro, festas, faculdade, formatura, casamento, gravidez, mudanças, trabalho, promoções, ser pai, vê-los crescer, envelhecer…: os momentos mais simples serão sempre os mais especiais.

“A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego” autor desconhecido.