Conversas de Memória

No meu tempo era assim… Casamentos…

Participantes do encontro de Conversas de Memória

Finalizando julho, o Centro de Memória de São Bernardo, da Secretaria de Cultura, da Prefeitura de São Bernardo, promoveu na quarta (30) de julho, mais um encontro de Conversas de Memória, tendo como tema: No meu tempo era assim… Casamentos…

Hoje convivemos com outras configurações de vínculos que formam famílias, contudo, por longos séculos, o casamento foi a instituição, por excelência, que perpetuou a Família.
O tema em si, num primeiro momento, parece ser algo mais vinculado às lembranças pessoais, não contribuindo muito para a construção das memórias da cidade. No entanto, a pesquisa em História Social dos Costumes é sempre muito enriquecedora, uma vez que, naquilo que é comum a todos, residem elementos significativos para a compreensão das trajetórias da sociedade, que explicam as várias dimensões da cidade, para além da questão social.
Assim, falar dos casamentos de outrora não é saudosismo, mas, sim, construir memórias de costumes, com reflexos na economia, na questão urbana, populacional etc.
Nas memórias relatadas, tanto aquelas vivenciadas pelos participantes, quanto aquelas herdadas de pais e avós, foram aparecendo aspectos da cidade que hoje não mais existem, mas estão em sua história…
Os namoros eram sempre muito controlados pelos pais da noiva, em dias e horários pré-determinados…, muitas vezes com a presença de algum irmão mais novo no terraço da casa…
Na cidade ainda rural, numa das lembranças mais antigas relatadas, a noiva ia para a igreja num carro de boi, enfeitado com flores, pois o transporte era majoritariamente feito a cavalo ou veículos de tração animal. Porém, uma noiva da família Setti fugiu ao costume e foi com o pai a pé até a Igreja Matriz, com os convidados caminhando atrás…
Posteriormente, quando o automóvel começa a se fazer presente, mas ainda restrito a poucos, era comum o carro da noiva ser um dos táxis da cidade. Na esquina da Rua Dr. Fláquer ficava o ponto de táxi, sendo que o mais procurado era o táxi de Pedro Morassi, que era o carro mais luxuoso. No casamento, o carro ia todo enfeitado com flores brancas.
Segundo relatos, havia o costume de manter as luzes da igreja apagada, quando a noiva não era “pura”… No casamento de Giordano, faltou luz na igreja, então a noiva só entrou quando foi esta restabelecida, porque senão ia ficar falada.
Um outro costume em relação ao casamento, era de no domingo seguinte os casados irem à missa, passarem nos bancos onde estavam os sogros e dizerem: “eu te recebo como minha sogra, meu sogro…”
As festas de casamento, na maioria das vezes, eram realizadas na casa e quintal dos pais da noiva. As vizinhas e parentes eram chamadas para ajudar na cozinha.
Ainda, antes do casamento era obrigação do futuro marido a preparação da casa (alugar, comprar, construir, reformar, pintar etc.) e da esposa a compra do enxoval (que muitas já na adolescência começavam a formar).
Com a casa montada e casamento marcado, os convidados iam visitar a nova moradia e levavam os presentes, que eram dispostos sobre a cama do casal, às vezes se estendendo pelo chão. Os papéis nos quais os presentes vinham embrulhados eram colocados sob a cama, para que mais presentes chegassem… Como não havia as listas de presentes atuais, era muito comum a repetição: várias panelas de pressão, ferros elétricos…
As mudanças havidas na sociedade, a conquista de direitos, especialmente no caso das mulheres, repercutiram também nos costumes relacionados aos casamentos; muitos se perderam ou se transformaram, adaptando-se aos novos tempos e às novas formas de união que formam famílias.
Obviamente que em várias cidades, estados e no país aconteceram e acontece de forma semelhante, mas as especificidades de cada localidade – no caso São Bernardo – ajudam a compreender ainda mais a complexa formação das memórias de nossa cidade.

Jorge Magyar

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