Conversas de Memória

No meu tempo era assim… Medicina Caseira

Participantes do encontro de Conversas de Memória

Considerado por muitos como um mês longo – pelo número de dias e ausência de feriados, o que não se aplica a São Bernardo, pois temos o dia 20, aniversário da cidade – agosto está chegando ao fim e, como habitualmente faz na última quarta-feira de cada mês, o Centro de Memória de São Bernardo, da Secretaria de Cultura, da Prefeitura de São Bernardo, promoveu, no dia 27, mais um encontro de Conversas de Memória, tendo como tema: No meu tempo era assim… Medicina Caseira…
Ainda hoje presente em nosso cotidiano, a chamada “medicina caseira” teve papel importante no passado de nossas cidades, quando o acesso aos médicos e hospitais era mais difícil e, até mesmo evitado, sendo considerado último recurso…
Por medicina caseira entende-se o uso de chás, garrafadas, ervas, emplastos etc., bem como benzimentos e simpatias, para alívio e cura de doenças, machucados, batidas e problemas emocionais, dentre outros. São conhecimentos tradicionais, oriundos do meio rural, transmitidos oralmente, dentro da própria família, na maioria das vezes pela linha materna (mães, avós, bisavós…).
Partindo de questões: Quais são os remédios caseiros que seus pais ou avós utilizavam e você ainda faz uso? Desses, quais você utiliza com mais frequência? As memórias do passado e do presente foram brotando nas falas dos presentes. Cada um tinha mais de uma indicação de chá ou um preparado para algum problema de saúde: sabugueiro para sarampo, boldo para estômago, folha de goiabeira para intestino solto, semente de mamão verde para intestino preso, arnica para batidas, carqueja para dor de cabeça, confrei para cicatrização, xarope com guaco ou agrião e açúcar queimado para tosse, tomate e aspirina para olho de peixe, limão e sal para frieira, barbatimão para cura de ferimentos e cicatrização, caldo da semente de caju para verruga, leite fervido com sal e hortelã para vermes, “banho de assento” com ervas para “problemas femininos”, etc.
Ainda, foram citados diversos outros chás: losna, hortelã, poejo, marcelinha, erva cidreira, capim santo, folha de amora, folha de pitanga…
Os benzimentos não poderiam ficar de fora, uma vez que até hoje são muito procurados… Nas lembranças, foram apontados como fundamentais para a cura de diversos problemas, hoje não tão comuns, especialmente de crianças, mas também em adultos: mal de simioto (também chamada de doença do macaco), bucho virado, vento virado, espinhela caída, erisipela…
Também benzia-se ou fazia-se simpatias para a criança andar logo, para começar a falar, para crescer, para susto, medo, entre outros…
Conforme foi falado, cada benzedor ou benzedora tinha seu modo de agir, suas orações e recursos que utilizava no benzimento: arruda, óleo, brasa, madeira, fogo, prego, água, água de chuva, telha, etc.
O benzimento envolvia e envolve um conhecimento tradicional, restrito a algumas pessoas, considerado um dom, passado através de gerações: uma mãe, uma avó, uma tia, um avô… Foram lembrados alguns nomes de benzedores e benzedoras que eram muito procurados na cidade. E, dentre eles, as mães de muitos que estavam presentes no encontro, que benziam crianças e adultos da cidade.
Até mesmo animais eram benzidos, como o caso de um cavalo mordido por cobra, que foi curado através de benzimento.
Complementando, foi enfatizado que a fé, tanto no uso dos chás e compostos, quanto de benzimentos e simpatias, era e é elemento fundamental para se obter o efeito esperado…
Produto da cultura popular, a medicina caseira está manifesta no passado e presente de várias cidades e, até mesmo, de países, sendo um patrimônio cultural riquíssimo que nos ajuda a conhecer um pouco mais das nossas origens, da nossa história.

Jorge Magyar

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