15/09/12
Chegamos neste mundo sem saber à hora em que partiremos.
Cabe a nós termos uma vida feliz ou a transformarmos num inferno.
A força de vontade em vencermos os obstáculos que encontramos pelos caminhos nos dá cada vez mais uma força interior e uma alegria de viver.
As doenças atravessam nossa vida. Com nossa força quase sempre podemos driblá-las. Quando isso acontece… Vamos envelhecendo. Agradecendo a Deus por podermos continuar neste mundo com nossa família ao nosso redor, direcionando os filhos e netos para melhorar nosso planeta. Agradecendo os amigos que nos rodeiam, lógico que como plantinhas, nós tenhamos que não perder o contato, colocando sempre uma água, um carinho.
Muitas pessoas não aceitam o envelhecer. Temos que pensar que tivemos o problema da gravidez e hoje temos o problema da gravidade. Tudo tem seu tempo se estamos vivos.
Já escrevi aqui uma vez que na minha idade não posso mais doar meus órgãos. Sei de pessoas que aos 80 anos, ao falecerem ainda puderam doar suas córneas, por estarem em ótimo estado. Assim, vou doar meu corpo à Faculdade de Medicina.
Nossa maior preocupação é que estamos envelhecendo e que não queremos ser um peso para nossos queridos.
E se ficarmos em uma cama, dependente de outras pessoas? Acho que veio em boa hora a lei em que nós podemos resolver a hora em que partiremos se não temos mais qualidade de vida.
Meu pai Alberto faleceu em casa. Essa era a vontade de minha mãe Odette. Depois de ela ter um enfarte e ficar por duas semanas em casa, indo definhando aos poucos, com todo o apoio da família, médicos e enfermeiras, um médico que não era ligado a nós, disse que teríamos que interná-la, pois ela estava desidratada. Na verdade ela percebeu que a vida estava se esvaindo e, ativa como era, estava apressando sua despedida. Internada, se debatia sendo amarrada na cama. Incubada, suas mãos revelavam seu nervosismo. Numa de minhas visitas na UTI, ela não mostrava perceber que eu estava ali. Perguntei à médica sobre seu estado. Ela me disse que durante a noite minha mãe havia tido três hemorragiases-tomacais. Eu então disse que ela nunca havia tido nenhum problema no estomago. Ela respondeu que isso era estresse de UTI. Perguntei por que não a deixaram partir. A resposta foi que ela não era uma doente terminal… Não tinha um câncer… Respondi: Sim… Ela só em 80 anos.
Quase disse que dois cânceres tinha tido eu, e que, apesar de um médico ter dito que eu tinha seis meses de vida, eu estava ali, anos depois.
No dia seguinte ela teve uma parada cardíaca e faleceu. Agradecemos a Deus por não ter prolongado mais sua agonia.
Agora o Conselho Federal de Medicina aprovou a determinação pelo paciente sobre seu destino. Assim, devemos deixar um documento registrado de como queremos ser tratados no caso de uma doença realmente terminal, ou se não queremos que prolonguem nossa vida ficando internados numa UTI, às vezes por meses, sem perspectiva de um final feliz. É uma coisa que magoa o paciente assim como seus familiares e amigos. Finalmente uma luz no final do túnel. Temos o tempo de viver, e quando a vida perde seu sentido, o tempo de morrer.
Temos que enfrentar essa nova lei sem traumas, pois ela só vem contribuir para uma melhor qualidade de vida. É uma decisão difícil para o médico e a família, mas que tem que ser enfrentada.
Hoje o assunto foi pesado, mas eu tinha que dividi-lo com vocês…
Um abraço, Didi
Divanir Bellinghausen Coppini (Didi) é escritora e voluntária em São Bernardo – e-mail: dibcoppini@uol.com.br