O livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, é um relato honesto de criaturas concretas, que enfrentam dificuldades, mas que têm noção de sua dignidade e de suas potencialidades. Isso não impede enfrentem problemas reais, suportados de forma contínua pela raça negra.
Aquela constante de ser barrado por policiais, a espécie de temor dos que vêm se aproximar um rapazinho negro, o estranhamento quando em ambientes que não seriam os habitualmente frequentáveis, tudo isso é narrado com fidedignidade.
O que me impressionou mais, foi o relato da experiência do professor em sala do EJA –Educação de Jovens e Adultos, numa fase em que esse projeto já não atende mais os maduros que perderam a oportunidade de uma educação formal na época adequada, mas acolhem uma juventude de certa forma desnorteada. São os “nem-nem”, que não se interessam pelas aulas, que debocham do professor, que não tomam conhecimento dele em sala de aula.
A situação reflete a epopeia do magistério que vai enfrentar a crise dos “Ps”: a falência dos Pais, Professores, Padres, Pastores, ou uma patologia que enfraquece qualquer forma de autoridade.
O drama do professor é comparado com aqueles edificantes filmes americanos, tipo “Ao mestre com carinho”, do inesquecível e já pranteado Sidney Poitiers, com final feliz e súbita conversão de toda a classe.
Não é assim no Brasil de hoje. Com professores mal-amados, mal remunerados, desrespeitados, sem condições de uma atualização que pudesse fornecer instrumento pedagógico hábil à quase utópica motivação de um alunado que já se considera perdedor e fracassado.
É um retrato sem retoques de uma sala de aula de escola pública da periferia, palco do drama em que todos os personagens são igualmente vítimas. Enquanto Estado, família e sociedade não se unirem para oferecer à infância e juventude uma educação de qualidade, o Brasil não terá futuro alvissareiro. A leitura de “O avesso da pele” de Jeferson Tenório já vale por esse testemunho do professor do EJA, cujo destino, por sinal, é trágico.