Política

“O Brasil deve ser respeitado e essa é a hora de a gente mostrar isso”, diz Lula

Lula: “Tudo no Brasil se resolve com diálogo, e não ‘na pressão’. O Brasil tem que ser respeitado” (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, na quinta (10) de julho, em entrevistas ao Jornal da Record e ao Jornal Nacional, da TV Globo, que o Brasil deve ser respeitado e que há coisas que um governo não pode admitir, como a ingerência de um país na soberania de outro. A defesa, em conversas com as jornalistas Cristina Lemos e Delis Ortiz, se conecta ao anúncio da aplicação de taxas de importação de 50% sobre os produtos brasileiros, nos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, feito pelo presidente Donald Trump, por meio de carta enviada a Lula na quarta (9).

Lula garantiu que pretende negociar com o governo norte-americano um acordo que evite essa medida. “Tudo no Brasil se resolve com diálogo e não ‘na base da pressão’, afinal o Brasil não tem contencioso com ninguém. O Brasil deve ser respeitado e essa é a hora de a gente mostrar isso. Exigimos isso. A relação entre dois Estados deve ser respeitosa”.

NEGOCIAÇÃO  

Para isso, a estratégia do governo brasileiro será atuar nas áreas diplomática, política e econômica. Lula afirmou que pretende criar uma comissão de negociação com a participação de empresários e do Governo Federal. Uma das funções seria repensar a política comercial brasileira com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) já vêm conversando com os Estados Unidos desde a taxação de 10% aplicada anteriormente, no início do atual Governo Trump.

“Primeiro, pretendo reunir todos os empresários que têm exportação para os Estados Unidos. Sobretudo aqueles que têm maior volume de exportação: suco de laranja, aço, a Embraer  (Empresa Brasileira de Aeronáutica), que exporta muito para os Estados Unidos. Para ver qual é a situação deles. Vamos tentar fazer todo o processo de negociação. O Brasil gosta de negociar, não gosta de contencioso. E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a reciprocidade”, disse. “Vamos, enfim, ver quais as decisões que deverão ser tomadas, quem será afetado, como a gente pode articular novos mercados. Eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros. Esse é o meu papel”, explicou Lula.

OMC

O presidente garantiu que o Brasil vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). “A gente pode cobrar coerência dos Estados Unidos em relação à aplicação de taxas sobre os produtos de outros países. Podemos, com a OMC, encontrar países que foram taxados pelos Estados Unidos e, juntos, entrar com recursos. Há toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos acionar a Lei da Reciprocidade. E vamos ter que procurar outros parceiros para comprar nossos produtos. O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos representa apenas 1,7% do nosso PIB. Não é essa coisa que a gente não pode sobreviver sem os Estados Unidos. Não é assim”, disse.

RECIPROCIDADE  

De acordo com Lula, a Lei da Reciprocidade, aprovada no Congresso Nacional, é uma opção se as negociações não avançarem. “Primeiro, vamos tentar negociar. Se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nossos produtos, vamos cobrar 50% dos produtos norte-americanos. “E aí, espero que os empresários estejam aliados ao governo brasileiro”, afirmou.

RELAÇÃO DIPLOMÁTICA

Lula afirmou, ainda, que se Donald Trump conhecesse um pouquinho do Brasil ele teria mais respeito pelo país, afinal são 201 anos de relação com os Estados Unidos. “Uma relação diplomática, virtuosa e de benefício para ambos os lados. Eu me dei bem com todos os presidentes norte-americanos, eu me dei bem com (Bill) Clinton, eu me dei bem com (George) Bush, eu me dei bem com (Barack) Obama, eu me dei bem com (Joe) Biden”, ressaltou.

O presidente criticou, ainda, o que chamou de desconhecimento de Trump em relação à balança comercial entre os dois países. “Ele acha que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil? Não é verdade. Se você pegar o ano passado, exportamos 40 bilhões de dólares e importamos 47 bilhões de dólares, foi um déficit para nós de 7 bilhões de dólares. Se pegarmos os últimos 15 anos, em importação e serviços, temos um déficit de 410 bilhões de dólares com os Estados Unidos. Será que a assessoria dele não tem sabedoria para explicar e evitar que ele faça uma afronta dessas?”, indagou.

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