Opinião

O empreendedor

Como todo adulto em fase inicial, Marcelo não era diferente. Iniciou seus estudos na faculdade aos 18 anos, e era cheio de sonhos. Já havia trabalhado como entregador de folhetos, numa gráfica do amigo de seu pai, mas nada formal. O objetivo de Marcelo era estagiar numa empresa, trabalhar nela durante um bom tempo e, em dez anos obter um cargo de respeito dentro da mesma.
Existem pessoas e empresas que enxergam sinceridade como uma desvantagem, logo, o jovem tinha essa característica, e seu argumento às empresas era: -desculpe, mas não tenho currículo, nunca trabalhei, só estudo.
E como ninguém lhe dava emprego pela inexperiência ficou assim, no último ano da faculdade, Marcelo conseguiu uma entrevista promissora numa multinacional e o departamento de RH disse: -desculpe, mas para estagiários preferimos recrutar quem está no primeiro ou segundo ano da faculdade.
Aos vinte e quatro anos ele nunca havia trabalhado numa empresa. Morava com os pais, tinha um bom relacionamento, e foi fazer curso de design para sites, já que o mundo da internet estava em polvorosa. Marcelo tinha muitas expectativas para com o universo corporativo que estava recheado de ótimas oportunidades a quem intenciona alçar vôos cada vez mais longevos, assim como Marcelo – pois ele era esforçado e comprometido, mas mesmo com muitas características vantajosas a seu favor, sequer, ele se dava bem nas entrevistas.
A gráfica do pai de seu amigo estava a crescer muito, pois o gerente agora era um jovem de trinta anos. Chamou Marcelo para trabalhar no departamento de computação gráfica. Essa foi a primeira porta, mas Marcelo não sabia trabalhar. O dono da empresa foi ter com o gerente que o contratou:  
-Mas como assim esse rapaz está trabalhando aqui? Ele não sabe nada. Como ele veio parar aqui?
– Foi indicação de um amigo, senhor. Ele demonstrou interesse, e como é de confiança, então podemos ensiná-lo.
– E quem vai ensinar? Você acha que temos tempo para isso?
– Já planejei tudo, e o negócio é o seguinte. Quem vai ensinar sou eu mesmo, e na posição de gerente da gráfica trabalharei doze horas por dia, sendo seis horas a ensinar o rapaz e mais seis dedicado à empresa. Entenda que, se não o ensinarmos, ele nunca aprenderá, e se ele não aprender será recusado por empresas que têm comportamento conservador e, como o Sr. sabe, nossa empresa sempre se diferenciou da concorrência, né… e é mais rentável ensinar uma pessoa sem vícios que respeite nossa visão, a contratar alguém cheio de manias, que não está de acordo com nossa missão.
Marcelo começou lá no dia primeiro de fevereiro e, após duas semanas, o gerente falou:
– Marcelo, nós havíamos combinado que eu te passaria tudo até o final do mês, mas minhas férias foram antecipadas, de modo que te deixarei a cargo de nosso coordenador, ele deve te passar muita coisa aqui. Ao que ele respondeu:
– Não precisa se preocupar senhor, muito obrigado. Até aqui já aprendi muito nessas duas semanas, eu tenho estudado o mercado nas horas vagas em casa, além do que a empresa terá que disponibilizar alguém que faria hora extra só para mim. O senhor vai me desculpar, mas, se me permite, dispenso quaisquer tutorias, de modo que se eu tiver alguma duvida, questionarei a coordenação. Sou muito grato pelo que o Senhor tem me passado até aqui.
Marcelo era apenas três anos mais novo que seu superior e, após muitos anos na empresa, antes mesmo de completar 40 anos, ele conquistou cargo de executivo. Com Marcelo na participação do Conselho Diretivo, a gráfica cresceu mais que todas as concorrentes no período de 18 meses, tornou-se a melhor empresa para se trabalhar daquele ano e até tiveram que abrir uma filial no ramo de Logística para dar conta da demanda.

“Com a força da sua mente, seu instinto e, também com sua experiência você pode voar alto.”
 Ayrton Senna. (21/3/1960, São Paulo, SP – 1/5/1994, Bolonha, Itália.)