Editorial

O impacto do governo Trump

Donald Trump foi empossado, na segunda (20), como o 47º presidente dos Estados Unidos. Fez juramento e usou a mesma Bíblia que Abraham Lincoln utilizou na posse de 1861, além de uma Bíblia pessoal. Devido ao frio extremo, com sensação de -12 °C em Washington, a cerimônia foi transferida para a parte interna do Capitólio. A última vez que isso aconteceu foi em 1985, na segunda posse de Ronald Reagan.
Após o juramento, Trump fez um discurso, que serve como base para o que pode ser esperado para os próximos anos. O presidente afirmou que começou nos Estados Unidos “a era de ouro”, que construirá uma nação que é “orgulhosa, próspera e livre” e que “a partir deste momento, o declínio da América acabou”.
O republicano abordou diversos temas, tais como a liberdade de expressão, dizendo que irá “imediatamente parar toda a censura do governo e trazer de volta a liberdade de expressão” para o país; tarifas e imigração, anunciando que irá decretar emergência nacional na fronteira com o México. Também destacou que vai “encerrar a política do governo de tentar introduzir raça e gênero em todos os aspectos da vida privada americana” e ainda anunciou que “forjaremos uma sociedade que é ‘daltônica’ e baseada em mérito. A partir de hoje, será a política oficial do go-verno dos Estados Unidos que existam apenas dois gêneros: masculino e feminino”.
Trump enfatizou que foi salvo por Deus, “para fazer a Americagreatagain” e que “para os cidadãos americanos, o dia 20 de janeiro de 2025 é o Dia da Libertação”.
A vitória eleitoral de Trump é uma demonstração de como os EUA mudou por dentro. Os americanos optaram por quem disse que resolveria as coisas mais rápido e que acabasse com sistema político, não importa como. Trump venceu o país como vítima de um declínio, que só ele seria capaz de reverter.
Porém, o que traz preocupação para a economia mundial é a sua sinalização em relação à política comercial que será adotada. O republicano disse que pretende estabelecer tarifas e impostos sobre outros países, com o objetivo de “enriquecer os cidadãos americanos”.
No Brasil, setores como petróleo e siderurgia estão em alerta. O país exporta significativamente estes produtos para os EUA, e eventuais restrições ou aumento na produção americana podem impactar negativamente as vendas brasileiras. Por outro lado, o desprezo demonstrado por Trump pela América Latina é uma boa notícia para o Brasil.
“A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós”, com este comentário, o republicano demonstrou que o Brasil e a América Latina, com exceção, da fronteira com o México e a imigração ilegal.
Sendo assim, há esperanças para que seja mantido um certo grau de normalidade nas relações comerciais e diplomáticas entre as partes, ainda que alguns temas prioritá-rios para o Brasil, como mudanças climáticas, possam não receber atenção de Trump, como recebiam de Joe Biden.
Por enquanto, o mais prudente a ser feito é manter a cautela, como alertou o jornalista William Waack em sua análise: com o narcisismo, a imprevisibilidade e desprezo pelas regras estabelecidas por Trump.
O governo brasileiro precisa evitar reações que possam ser interpretadas como hostis no início do segundo mandato de Trump e buscar possíveis pontos de convergência, a partir da compatibilidade de interesses entre os dois países. Afinal, com as palavras e as primeiras movimentações de Trump ficou evidente que o que existiu até aqui não volta mais.

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