Opinião

O mundo do amanhã

“- Pai, conta aquela história do vírus, de novo, daí eu vou pra cama”.“- Ok, vamos lá!” se convenceu o pai, embora cansado:
“-Era uma vez, há muito tempo, antes da pandemia, um mundo onde havia desperdício e abundância; pobreza e riqueza”. O pai, sentado na cadeira ao lado da cama continuou:
“-Muitas pessoas com seus cargos nas empresas eram soberbas e, sem humildade, elas tinham o ego inflado. As pessoas nunca estavam felizes com que tinham e sempre desejavam mais. E podiam conseguir essas coisas em um clique. Com a tecnologia vendendo muito, famílias pararam de conversar, os olhos das crianças cresciam quadrados e as pessoas começaram a se sentirem sozinhas, o céu era poluído e as estradas com muito trânsito. Já não cuidávamos mais de nossos verdes e, a cada dia que íamos pescar, os peixes já vinham embalados em plásticos. Não tínhamos saúde, fumávamos, bebíamos e apostávamos. Nossos líderes falavam que era melhor não confrontar as pressões políticas, e quem o fizesse, seria assassinado.”O pai suspirou, o filho estava atento, e a historia continuou:
“-Daí veio 2020. Um novo vírus apareceu, os governos reagiram e nos disseram para recolhermos.Enquanto estávamos em casa com medo, as pessoas lembraram de seus instintos mais naturais: sorrir, aplaudir e agradecer. Qualquer foto de pôr do sol, já era suficiente para postarem mensagens em redes sociais, como: ‘só agradeço!’ E começaram a ligar para suas mães, parentes distantes, entes queridos… Algumas pessoas até começaram a dançar, mesmo sem saber; outras cantavam em suas janelas ou até mesmo em lives na tevê. Crianças aprenderam a cozinhar e adultos que não sabiam nem fazer ovo, começaram a se virar.As chaves dos carros apodreciam, já que era proibido sair. Os céus já não eram mais poluídos, a Terra começava a respirar, as praias trouxeram mais vidas, o oceano agora era mar.’ O pai vira a página, pisca os olhos, o menino quase a dormir e o pai continua:
-Estávamos mal acostumados com notícias ruins sobre vírus, sendo fake ou não, até que surgiu a notícia boa, pois haviam achado a cura. Logo, nos foi permitido sair e qual não foi nossa surpresa quando encontramos um ar mais puro para respirar; um rio mais limpo para nadar e uma consciência mais evoluída para pensar? Quando o isolamento acabou, queríamos que aquele mundo novo fosse assim para sempre, com as pessoas se esforçando para viver num ambiente melhor. Velhos hábitos foram deixados para trás, abrindo-se caminho para o novo, e todo simples ato de bondade tornou-se um hábito feliz e valorizado para sempre.”A história foi concluída e o menino quis saber:
“-Mas pai, por que precisou de um vírus para tornar as pessoas mais humanas?”
“- Porque, meu filho…” Disse o pai ao fechar o livro, olhando para a criança.–“…porque o mundo precisa ficar doente antes de começar a se sentir melhor”.

 “Quanto mais é elevado o espírito, mais ele sofre” –  Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) filósofo alemão