Lá pelos idos de 1967, participando de um Congresso de Municípios na cidade espanhola de Barcelona, ouvi de um dos expositores, arquiteto e urbanista, esta observação curiosa: as cidades deveriam crescer como as pessoas, ou seja, crescer até um certo ponto e parar. Imagine-se, dizia ele, um homem que não parasse de crescer, como lhe serviriam as roupas, e os sapatos ? Seria uma anomalia incontrolável.
Eis aí uma figuração meio exagerada mas que nos dá bem a idéia do perigoso absurdo a que se chega com o crescimento descontrolado das nossas cidades. Especialmente as do Grande ABC. Nem se fale da metrópole paulista cujo crescimento leva ao total descontrole do poder público e ao caos: no abastecimento de água, nos serviços essenciais como coleta de lixo, luz, telefone, transporte, saúde, educação, habitação, e por aí vai.
O jornalista Washington Novaes nos informa, com dados colhidos em diversas fontes, que não conseguimos avançar com os planejamentos das cidades e que as metas perseguidas não saem do lugar, fazendo com que os dramas das megalópoles afetem a vida das pessoas: milhares de mortos pela poluição do ar a cada ano na cidade de São Paulo; ruídos urbanos afetando o cérebro humano. Cidades como Goiania exportando cadáveres porque seu Instituto Médico Legal não dá conta, sem espaço para abrigar e identificar os mortos. Em São Bernardo, agora digo eu, vê-se a caríssima campanha publicitária da Prefeitura, inclusive nas TVs, para informar sobre o asfaltamento de ruas e outros enfeites secundários. Mas não se sabe de nenhuma providência desse “governo da inclusão” sobre planejamento, para médio e longo prazo, quanto à infra estrutura da cidade em face, por exemplo, do enorme número de novos edifícios de apartamentos já construídos e em construção: infra estrutura para serviços essenciais, ruas e avenidas para os veículos dos moradores desses favelões verticais e sua circulação pela já saturada malha viária urbana. Mas, e agora de novo Washington Novaes, lembrando o pensador basco Julio Baroja: “Na grande cidade começamos perdendo o essencial, o mais próximo, mais intimo: a visão da nossa própria sombra e o som dos nossos passos”. As cidades nos esmagam, a pretexto de abrigar-nos e servir-nos.
Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: antoniotitocosta@uol.com.br