Editorial

O peso dos padrinhos políticos

O apadrinhamento político sempre fez parte do universo político brasileiro. Dependendo do peso do padrinho, ou da madrinha, o “afilhado” chega ao poder sem muito esforço. Basta seguir os passos percorridos ou sugeridos por aqueles que o orientam e o sucesso eleitoral estará praticamente garantido.
Os exemplos de casos bem sucedidos são diversos, seja presidente da República indicando sucessora, indicando candidato a governador, prefeito recomendando votos para a esposa ser deputada, para os filhos, enfim.
Em ano eleitoral, se torna acirrada a busca por um padrinho político de peso. No ABC, além dos atuais prefeitos, que não podem se reeleger, tais como o de Santo André, Paulo Serra, São Bernardo, Orlando Morando, e São Caetano, José Auricchio Júnior, pois estão em vias de terminar o segundo mandato consecutivo, se tornarem padrinhos naturais de seus escolhidos para a sucessão, há os diversos pré-candidatos a prefeito que já escolheram seus padrinhos, mesmo que eles, ainda, não tenham aparecido fisicamente ao lado deles em eventos da pré-campanha, nem declarado, oficialmente, apoio a eles.
Vale mostrar selfies, vídeos gravados durante reuniões sobre outros temas, enfim, qualquer material audiovisual que demonstre proximidade com o padrinho escolhido pelo pré-candidato.
Evidentemente que, os padrinhos escolhidos são os que estão no poder, para demonstrar força, sintonia, e grandes chances de vitória ao pré-candidato. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são os mais disputados, junto ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Contudo, em tempos de polarização política no cenário nacional, os padrinhos políticos realmente ajudam ou chegam até a atrapalhar os pré-candidatos?
Segundo pesquisa Datafolha, pouco mais da metade dos eleitores admite mudar o voto para a prefeitura da cidade em caso de candidatura apoiada por um político rejeitado por eles. Dos 56% dos eleitores que admitiram a possibilidade de troca de voto, 37% afirmaram que mudariam com certeza e 19% que talvez mudassem. Do total, 41% não mudariam o voto, enquanto 2% não souberam responder.
O Datafolha mediu a influência de quatro padrinhos políticos: o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre eles, Bolsonaro é o que mais afasta os eleitores: 65% afirmaram que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por ele. O apoio do ex-presidente influencia apenas 16% dos eleitores a escolher, com certeza, o seu indicado.
O apoio de Lula afasta 45% dos eleitores, enquanto que outros 23% votariam com certeza em um candidato apadrinhado pelo presidente. Já o apoio de Alckmin é rejeitado por 47% e valorizado por 49% dos eleitores. Já o apoio de Tarcísio de Freitas é rejeitado por 48% e valorizado por 47% dos eleitores.
Quanto ao apadrinhamento dos atuais prefeitos, principalmente dos que foram reeleitos e possuem índices bastante satisfatórios de aprovação, é esperado fidelidade, caso o sucessor indicado seja eleito. E mesmo que haja a busca de voos mais altos, não ocorra o que já alertara o ex-ministro de Estado da França, Cardeal Richelieu (1585-1642): “traição em política é questão de tempo”.

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