AME Memórias de São Bernardo

O primeiro Fusca ninguém esquece!

Linha de produção do Fusca em 1964, da VW de São Bernardo (Acervo: Centro de Memória de S. Bernardo/Coleção Odália Ferreira dos Santos)

O carro mais vendido no Brasil, por vinte e quatro anos, foi o querido Fusca, fabricado em São Bernardo desde que a Volkswagen começou a produzí-lo, em suas instalações no KM 23,5 da Via Anchieta, no dia 20 de janeiro de 1959. Foram 3,3 milhões produzidos lá. Quem já não teve um? Foi o primeiro automóvel da maioria dos brasileiros, que puderam comprar um veículo popular com valor mais acessível, ganhando mobilidade e liberdade. Por este motivo, o fusca se transformou, nas décadas de 1960 e 70, num ícone cultural associando-se aos movimentos de contracultura.
Na sua simplicidade, o Sedan VW foi o primeiro carro da família e um grande parceiro de aventuras, determinando um novo estilo de vida. A fabricação dele incrementou o parque industrial da cidade e incluía a estampa do brasão de São Bernardo bem no centro da direção do veículo, motivo de orgulho dos são-bernardenses até hoje. O sucesso foi imediato – a fama de carro indestrutível, o preço razoável, a mecânica simples e com peças de reposição disponíveis – começou a se espalhar. A grande novidade era o carro refrigerado a ar, que diminuía o custo da manutenção. Todos queriam um Fusca e a fábrica de São Bernardo foi aumentando a produção a cada dia, enviando carretas cegonhas repletas deles, de norte a sul deste país. A Av. Maria Servidei Demarchi, no bairro Demarchi, vivia congestionada com tantas cegonhas entrando e saindo da fábrica e a Rota dos Restaurantes Frango com Polenta, na mesma avenida, recebia centenas de funcionários que por lá almoçavam.
A Volks, necessitando mão de obra qualificada, fez um convênio com a FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), aceitando estágio de estudantes de engenharia cursando seu último ano. Foi lá que meu marido, Vicente D’Angelo, estagiou, percorrendo todos os setores da Volks e aprendendo sobre a fabricação do Fusca. Em São Bernardo, foram lançados os modelos de 1200 cc, 1300 cc e o de 1500 cc ou Fuscão e o 1.600-L, o Besourão. O valor de um fusca 1.300cc em 1980 era equivalente hoje a R$ 39.500 (não considerando a inflação), permitindo que a população tivesse acesso ao seu próprio transporte. Os novos proprietários paulistanos e do ABC adoravam fazer sua viagem inicial para a Baixada Santista, levando a família para a beira mar. Uma verdadeira procissão de Fuscas descia a Estrada Velha de Santos ou a Via Anchieta, bem cedinho, nos finais de semana. No retorno, eu mesma testemunhei, muitos automóveis, de outras marcas mais caras e maiores que o Fusca, parados e com o capô levantado, aguardando a água do radiador esfriar, pois ela aquecia muito na subida da serra obrigando a parada forçada.
Nessa hora era um orgulho possuir um Fusquinha. Passávamos incólumes e felizes com nosso Fusca refrigerado a ar não nos incomodando com a bagagem dentro do carro, pois nunca reclamamos do exíguo porta malas na frente dele. E o carro era bom mesmo: enfrentava estradas com as mais difíceis condições. Meu coração ainda bate forte quando vejo um Fusquinha bem conservado passar. Um deles me levou para trabalhar, estudar e esteve presente em muitos momentos da minha juventude. Conheci meu marido, porque meu Fusca me levou a uma festa onde nos vimos pela primeira vez. Ele também teve um Fusca caramelo 1962. Eu tenho saudades do meu Fusca 1300cc, ano 1969, verde bandeira, muito valente. E o seu, como era?

Elexina Neri de Medeiros D’Angelo – integrante da AME (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo)

Trânsito na Av. José Fornari, próximo à Volks, em 1977 (Acervo: Centro de Memória de S. Bernardo

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