Luiz José M. Salata

O Trovador – a história do gênero literário

A trova se trata de um poema, também chamado pelos antigos de quadra, de apenas uma estrofe, ou seja monostrófico, com quatro versos heptassílabos chamados de redondilhas maior, sem título, o qual assim se completa. Não resta dúvida alguma de que já foi incrustado na literatura brasileira, dada a sua beleza harmônica e simplicidade de seu conteúdo que dá continuidade a um poema. O trovadorismo desenvolveu-se durante o período medieval a partir do século XII, em cuja época a Europa era dividida em feudos, em grandes propriedades controladas pelos suseranos. Nessa ocasião, dava-se muito valor na posse territorial, sendo por esse motivo deixado de lado o dinheiro, e assim o cotidiano era marcado por muitas guerras, batalhas e invasões para a conquista de territórios.
Verifica-se que, nesse tempo não existiam a figura das trovas. Passado esse tempo, com a queda do Império Romano a língua então adotada era o latim vulgar e que por isso, passou a sofrer grandes modificações entre os povos dominados, oportunidade em que passaram a surgir as línguas neolatinas, como o português, dentre outras, fazendo com que surgisse a língua portuguesa e naturalmente a figura das cantigas dos trovadores, as chamadas trovas. Os ditos escritos eram feitos para serem declamados, pois na época não havia culturalmente a existência de livros e dessa maneira sendo a população praticamente analfabeta na sua maioria e daí até então não inventado o livro impresso, na grande frequência eram acompanhados por instrumentos musicais, como a lira, a flauta e a viola. Os compositores de origem eram chamados de trovadores e os músicos de menestrais, sendo comum o comparecimento deles em festas e serões para a divulgação das suas criações em troca de dinheiro e recompensas. Dessa forma, o trovadorismo transformou-se em grande movimento de ordem itinerante pelo fato desses grupos viajarem pelas cortes e feudos para apresentar as suas criações como acontecimento político e propagação de ideias, principalmente como comportamento amoroso demonstrado de um cavaleiro apaixonado.
Por isso, o tema do amor sempre foi de maneira centralizada do eixo condutor das antigas de amor e sobre as amizades. Daí surgiu a palavra coitado para descrever aquele apaixonado que sofre de dor do amor. Consequentemente, os trovadores passaram ainda a escrever dois tipos de cantigas, a do escárnio e as de maldizer, visando ridicularizar e satirizar os envolvidos. Fica salientado que, a literatura portuguesa do século XII não possuía ainda uma noção de identidade nacional plenamente instituída. Com a mudança política em Portugal estabeleceu-se uma nova língua, estabelecida a galega portuguesa, por Dom Diniz I, no final do século XIII, e sendo ele trovador, e como ele pretendia constituir Portugal como uma nação, naturalmente nasceu a identidade cultural e com ela o trovadorismo que ensejou o desenvolvimento e do idioma e da cultura portuguesa. E daí, o trovadorismo progrediu e foi sendo difundido no país todo e, ainda nas comunidades vizinhas e além mar. Sendo assim, as trovas chegaram ao Brasil através dos portugueses, cujo gênero adotado por inúmeras personalidades literatas, alcançou enorme repercussão no seio da população com fama desenvolvida pela beleza dos seus versos, cujos textos sempre de improviso ensejavam a motivação de satisfação e alegria aos seus ouvintes e admiradores.
A diferenciação da trova com a quadra é que esta compõe um poema maior, sendo que a trova se completa por si, sem aceitar mais nenhuma estrofe.
É necessário acompanhar a apresentação de grupos de trovadores com as suas obras e declamações, para se avaliar a beleza e a grandeza das autorias sob os mais diferentes aspectos sob a profundeza dos temas. Ainda vigorando pelos quatro cantos do país, percebe-se que persiste através da União Brasileira dos Trovadores (UBT), Seção de São Paulo, a qual luta bravamente com seus associados para que esse estilo literário não se extingua, com reuniões mensais participativas com os seus associados e convidados, justamente para cultivar o trovadorismo. Além do mais, através da Sra. Patricia Aparecida Peranovich Rocco, filha do saudoso e renomado Advogado Dr. Nevino Antonio Rocco, e que em vida foi um exímio trovador; passou-lhe essa missão pelo seu gosto, em vias de implantar um espaço na Sociedade Cultural Brasilitália, de um grupo destinado à formação de trovadores.
As tratativas já foram formalizadas, portanto em vias de inicio dos trabalhos para consolidação das ideias, aliás apoiadas pelo jornalista memorialista Ademir Médici, da Coluna Memória do Diário do Grande ABC, o qual ficou entusiasmado com a projeção. A Diretoria da entidade relembra as figuras dos trovadores, os saudosos Dr. Antonio Tito Costa e Dr. Antonio Vanzella, os quais herdaram da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tão festejado gênero literário. Mãos à obra, para a primeira apresentação.

Adicione um comentário

Clique aqui para adicionar um comentário