O 7 de setembro, que deveria ser uma das datas comemorativas mais importantes do Brasil, justamente por ser o dia de um dos principais acontecimentos da história do país, a independência, se transformou em um palco de discursos inflamados pelo ódio da polarização vigente no território nacional.
Foi nesse dia, em 1822, que Dom Pedro I deu início a trajetória do Brasil como nação independente como o “Grito do Ipiranga”, que foi a proclamação da Independência do Brasil, às margens do Rio Ipiranga. Um evento crucial que marcou a separação do país de Portugal. A famosa frase dita por ele foi: “Independência ou morte!”.
Mas, nem Dom Pedro I, nem o que por ele foi dito, nem qualquer trecho dos fatos históricos foi mencionado em nenhum dos discursos das autoridades políticas nos eventos realizados para celebrar a data. Pelo contrário, o que se viu e ouviu foram ataques mútuos dos “lados” aos quais se divide o país.
Em pronunciamento, no sábado (6), em alusão ao Dia da Independência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que este é o momento de mostrar “de que lado estamos”, que o governo do Brasil “está do lado do povo brasileiro”. Destacou a importância da soberania conquistada pelo Brasil 200 anos após a independência e afirmou que o Brasil não é nem será “novamente colônia de ninguém”.
Lula disse que o Brasil mantém “relações amigáveis” com todos os países, “mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro”. Não citou as tarifas impostas pelo governo americano, nem o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas ficou evidente que as palavras mencionadas por Lula se referiam a atual situação do país.
Já nas manifestações da Av.Paulista, o 7 de setembro virou palco para ato político. O verde e amarelo nas camisas ou bandeiras não celebrou a independência da nação de Portugal, mas inflou, ainda mais, uma odiosa disputa político-eleitoral. Palavras de ataques ao governo brasileiro, a autoridades públicas, defesa de anistia aos que depredaram as sedes dos três Poderes, em Brasília, entre outros, dominaram o evento. Participantes exibiam faixas com os dizeres: “Donald Trump, thank you very much” e “SOS Trump, Bolsonaro Free”.
No momento mais crítico, uma bandeira dos Estados Unidos foi hasteada em várias faixas da Av.Paulista. O organizador do ato, o pastor Silas Malafaia, disse que não “achou legal” estender “no Dia da Independência, um bandeirão americano”, mas que se os manifestantes querem estender alguma bandeira, “a gente não impede”. O pastor também afirmou que a esquerda usou bandeira com “vermelho comunista” e afirmou: “Que moral eles têm para falar de alguma coisa de bandeira americana?”.
O jornal americano The New York Times (NYT) em reportagem publicada, na terça (9), destacou que uma bandeira americana “do tamanho de uma quadra de basquete” foi hasteada em várias faixas da principal avenida da capital paulista. “Um novo símbolo da direita brasileira: a bandeira dos EUA”, disse o jornal. Já o jornal espanhol El País disse que “os dois Brasis mediram forças nas ruas às vésperas do veredito de Bolsonaro”.
Em 2018, milhares de brasileiros comemoram o resultado das eleições aos gritos de do bordão: “A nossa bandeira jamais será vermelha”, em referência ao PT e os escândalos de corrupção que ocorreram no País. Agora, em 2025, outros milhares de brasileiros, na Av.Paulista, um dos maiores polos financeiro, cultural e comercial de São Paulo e do Brasil, escolheram a bandeira que querem erguer no país, a dos Estados Unidos, a de um país que tem retalhado o Brasil por questões políticas.
E bem no dia que se deveria celebrar a independência de Portugal, foi celebrada uma verdadeira dependência e interferência de outro país, os Estados Unidos. Tudo isso por disputa política eleitoral. Quem está realmente interessado no país ou na sua independência de Portugal? Ficou evidente que, no País, os “lados” e seus objetivos políticos eleitorais estão acima do Brasil e dos próprios brasileiros.
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