Primeiro, os da infância; depois os da juventude; agora os da velhice. Cada um que passa me entristece de saudade; agora pelo seu barulho e seu apito, marcando tempos passados carregados de lembranças. O apito vara as noites, pois estou perto da Estação; depois a recordação das partidas: do lar, para os estudos e trabalho em outras cidades; e de tudo que me traz à memória pelas durezas da saudade a recordação de partidas e chegadas e foram tantas que a memória guardou pelo significado de tristezas que ficaram e voltam com a insistência envolta em instantes de satisfação plena e de alegrias.
Primeiro, o Seminário. Pirapora, São Carlos, o Ginásio em Jaú, lembranças que o correr dos tempos insiste em machucar; para, depois, compensar com momentos de alegria e de conquistas, na dureza do curso primário, o ginásio na dureza do trabalho para os pagamentos necessários, o pai na sua pobreza e no trabalho; a mãe na sua labuta entremeada de conquistas e de sofrimento carregando o peso de uma cruz indesejada, inevitável. Porque pobre mas firme no cumprimento da sofrida maternidade.
Agora, homem feito, chefe de família, no labor profissional de vitórias e alegrias, uma felicidade de conquistas na compensação do esforço, que mais será necessário ?
Adélia Prado, poeta da vida, me socorre: “O apito rouco da Maria Fumaça é um punhal que atravessa a alma.
“É preciso ter ouvido para entender com Mario Quintana, o Poeta do amor e da saudade: “Um trem de ferro é uma coisa mecânica mas atravessa a noite, a madrugada, o dia, atravessou a minha vida, virou só sentimento. Nasci na Era da Fumaça trenzinho vagaroso com paradas vagarosas em cada estaçãozinha pobre para comprar pastéis, pés-de-moleques, sonhos – principalmente sonhos …”.
Veja, meu provável leitor: na minha saudade, passei por Torrinha, cidade onde nasci e onde estão sepultadas imorredouras lembranças de tantos amigos e familiares que se foram e que os persigo como fantasmas aos quais vou me juntar quando meu trenzinho já fatigado furar a neblina da noite final com seu apito que não mais poderei ouvir.