José Renato Nalini Opinião

Pare a destruição

   Os indígenas quase desapareceram, muito embora ocupassem o território que veio a se chamar Brasil quando da chegada dos portugueses. Foram praticamente exterminados e continuam a sê-lo, com a falaciosa concepção de que a cultura deles é primitiva, enquanto a nossa é superior, sofisticada e deve preponderar.

   Alguns remanescentes perseveram e mostram que têm razão quando defendem a natureza, com a qual viveram de forma pacífica durante milênios. Enquanto nós, os brancos “civilizados”, em menos de quinhentos anos poluímos a atmosfera, o solo e a água e praticamente dizimamos o verde que nos conferia a condição de nação ecológica.

   Para lembrar nossa insensatez em relação à natureza, a líder indígena mundurucu Alessandra Korap, do médio Tapajós, entre Pará e Mato Grosso, aparece a segurar um cartaz com a inscrição “Pare a destruição, mantenha suas promessas”. Isso faz parte de um enorme painel, megamural de 1.500 metros quadrados inaugurado no centro paulistano.

   Além da mensagem, a matéria-prima utilizada na pintura foram pintas fabricadas a partir de cinzas das queimadas que transformaram o Brasil numa fornalha e depois num enorme cinzeiro, durante o fatídico 2024, que já se tornou o ano mais quente da história, suplantando 2023.

   O painel foi feito por Mundano, que se autointitula artivista, ou seja, fusão de “artista” com “ativista” e cujas obras focam temas socioambientais e pesquisa de pigmentos a partir de crimes ambientais. Diz ele que a ideia foi “representar ativista viva, como a Alessandra, e levantar essa voz que não é só dela, não é só dos mundurucus, não é só dos povos originários, mas de milhões de pessoas que já são afetadas hoje por secas extremas, enchentes históricas, ondas de calor e outros fenômenos climáticos”.

   A arte é o instrumento mais eficaz para atingir a sensibilidade daqueles que ainda se preocupam com a rapidez com que a própria humanidade apressa o termo final de sua aventura por este planeta. Que ela possa atingir o coração empedernido que só pensa em lucro e dinheiro, algo que não será mais necessário, nem útil, quando a vida humana acabar.

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