O prefeito de Santo André, Paulo Serra, que elegeu seu candidato à sucessão, Gilvan, com 60,9% dos votos, revelou, em entrevista exclusiva à Folha, que durante a campanha, o seu grupo político não tentou desconstruir os adversários e foi para uma linha propositiva.
Falou sobre sua alta aprovação de governo e sobre o seu futuro político. Como presidente estadual do PSDB, ainda fez uma análise do partido no cenário político nacional, em São Paulo e no ABC e disse: “Santo André acabou se tornando a maior cidade tucana do Brasil”. Além disso, Serra também classificou a atual polarização do País como “estéril”. Confira.
FOLHA DO ABC- O sr. quebrou três paradigmas em Santo André. O da reeleição, em 2020, sendo que os dois últimos prefeitos não haviam conseguido esse feito. Em 2022, o sr. elegeu a primeira-dama, Ana Carolina, deputada estadual, sendo que a cidade passava por um jejum de mais de dez anos, sem deputado próprio e, agora, o de eleger sucessor. Desde 1972, nenhum prefeito conseguiu e seu sucessor. O sr. conseguiu eleger o Gilvan, com mais de 60,9% dos votos. Como é quebrar esse paradigma e até que ponto isso é fruto do trabalho da gestão ou da sua habilidade política?
Paulo Serra- Acredito que a quebra desses paradigmas que recolocaram o Santo André com protagonismo político, essas quebras são frutos, não tenho nenhuma dúvida, da qualidade do trabalho da nossa equipe e que conseguiu não só implementar um modelo de gestão diferente, inovador, mas principalmente fazer com que esse modelo, com que esse estilo de gestão, com que as políticas públicas, as obras, os programas,tudo que a gente tirou do papel e a gente conseguiu, através de vocês também, divulgar.
Essa equipe conseguiu fazer com que isso chegasse na vida das pessoas. E quando você consegue impactar a vida das pessoas para melhor na cidade,o resultado e a retribuição que as pessoas dão para nós é esse reconhecimento, através do voto, através da permanência do time, através de ter novamente uma representante na esfera estadual.
Isso já foi na nossa reeleição em 2020. Claro, a gente ficou muito feliz de ter aquela reeleição com quase 77%, mas muito mais por a gente ver que isso é a materialização do sentimento do morador e da moradora de Santo André.
O que nos disseram naquela oportunidade era ‘queremos que o senhor continue’, mesmo sabendo dos desafios, dos problemas. Uma cidade como a nossa vai sempre ter desafios pela frente, qualquer um que chegar e dizer que está tudo resolvido vai estar mentindo, até porque os problemas são dinâmicos, eles se renovam, os desafios se renovam.
E, agora, foi a mesma coisa. Estou no meu segundo mandato, não poderia ser o candidato, nem a Ana Carolina, é bom esclarecer, porque a esposa também seria terceiro mandato.
E aí, a equipe escolheu o Gilvan, por ter sido secretário em cinco pastas, por ser jovem, capacitado, disposto a querer manter esse modelo.
As pessoas entenderam isso mandando o mesmo recado, de que a cidade tem um caminho, tem um modelo de gestão que está funcionando, que está pouco a pouco melhorando a vida das pessoas. Esse sentimento materializado na votação deixa a gente muito feliz com a quebra, como você disse, desses paradigmas.
A continuidade, baseada num programa de governo, num plano de metas, num modelo de gestão, que dá muito resultado mesmo. Vemos cidades, por exemplo, como Curitiba, que tem mais de 24 anos o mesmo grupo.
Curitiba é referência em tantas áreas, desde o Jaime Lerner, não só na questão urbanística, mas em várias áreas, e reputo isso muito a essa continuidade, porque tem muitas políticas que você precisa pensar a longo prazo. Não dá para você resolver em quatro nem em oito anos, para você ter melhorias estruturantes.
Estamos muito felizes, porque, agora, a gente vai já para 12 anos com esse mesmo modelo. Não tenho dúvida que o Gilvan tem toda a capacidade e vai continuar esse modelo de gestão.
E a cidade só vai melhorar. Como ele mesmo, o Gilvan, já dizia, hoje está melhor que ontem e amanhã tem que ser melhor que hoje. E é assim que conseguimos, como você disse, quebrar vários paradigmas e a gente fica muito feliz.
FOLHA- Como o senhor avalia que foi essa campanha? Era esperado pelo grupo político encerrá-la no primeiro turno?
Serra- Tínhamos um bom sentimento nas ruas. Só que foi uma campanha da nossa parte 100% propositiva. Você pode pegar as páginas do Gilvan, as minhas, da Ana Carolina, de toda a campanha.
Não tem nenhum ataque, a gente não tentou desconstruir ninguém, fomos pra uma linha propositiva, defender o modelo que a gente acredita. As pessoas também identificaram isso, mas da parte dos nossos adversários teve muita baixaria, muita crítica de quem tava junto a meu ver, alguns exageros, algumas inverdades, que as pessoas não caem mais nessa, no oportunista eleitoral, aquele cara que acha que vale tudo pelo voto, tenta enganar as pessoas, não tem mais espaço, ainda bem, ou tem espaço cada vez menor.
E a cidade mostrou isso. Então, foi uma campanha, da nossa parte 100%, propositiva, vimos alguns adversários usando de muita baixaria, sem conteúdo. Então, a gente já sabia que poderia ser vítima desse tipo de ataque. Estávamos preparados, mas tinha, sim, no nosso grupo, um sentimento muito positivo de que tínhamos uma grande possibilidade de resolver a eleição no primeiro turno, contando com esse sentimento das pessoas que acabou se materializando.
FOLHA- O Gilvan foi eleito, enfatizando a continuidade. O sr. tem um governo bem avaliado, que manteve em altos índices durante todo esses oito anos. A continuidade do Gilvan vai garantir a continuidade da aprovação do governo, também?
Serra- A gente acredita que a aprovação seja um resultado do próprio governo,das obras, dos programas. Então, acredito que sim, que é possível você manter no ritmo de trabalho, mantendo esse planejamento que a gente fez, se mantendo fiel ao Plano de Governo,ao plano de metas, a consequência de entregar programas, obras, intervenções, de entregar os eventos solidários, de entregar tudo que, hoje, acontece na cidade.
É umaaprovação alta porque as pessoas se mantêm conectadas com Santo André. Acho que esse é o grande ponto. Cada um vive a cidade de um jeito. Então, tem gente que não usa a Saúde, tem gente que usa a Educação, tem outro que usa o asfalto,tem outro que só vem dormir. A cidade é muito diversa, mas de alguma forma a gente conseguiu impactar a vida da grande maioria dos andreenses que se reconectaram com o poder público.
Acredito na manutenção dessa herançapositiva. O Gilvan, se ele mantiver e vai manter esse ritmo de trabalho, sendo fiel a esse Plano de Governo, a esse time, e com a intensidade que ele já demonstrou como secretário, nas cincopastas que passou, não tenho dúvida que a consequência, o resultado disso, é manter esses bons níveis de aprovação que a gente tem.
FOLHA- E no governo do Gilvan, qual será o seu papel? O sr. irá atuar como um conselheiro? Ou vai já alçar voos mais altos?
Serra- Acho que uma coisa não exclui a outra. Claro, que quero me manter na vida pública, temos projetos relevantes, importantes pela frente, mas Santo André, disse muito na campanha, deixo a gestão, mas não vou deixar a cidade. A Maria nasceu na cidade, meus pais, é nossa casa e vou estar sempre à disposição para ajudar Santo André.
O governo, a partir de 1º de janeiro, tem um novo prefeito que vai tomar as decisões, que vai montar um time, que é o Gilvan e vou estar sempre à disposição da cidade e do próprio Gilvan para poder ajudar. Às vezes, numa tomada de decisão, às vezes, num planejamento mais estratégico, vou estar à disposição para continuar ajudando a cidade.

FOLHA- O sr.também é presidente estadual do PSDB. A sigla não venceu em nenhuma capital pelo Brasil, é a primeira vez que isso acontece desde 1988 da fundação do partido. Também registrou queda de 48% no número de prefeitos eleitos, passando de 525 em 2020, para 269, em 2024. Como define a situação do partido, nestas eleições?
Serra- Por incrível que pareça, apesar desses números, se você analisar o número frio, parece extremamente negativo. Mas pelo momento que o partido está passando, e a gente tinha muita clareza, que essa eleição era uma eleição de sobrevivência do partido. Perdemos o Governo de São Paulo há dois anos atrás, pela primeira vez não disputamos a eleição presidencial. Sabíamos que a consequência dessa perda de protagonismo viria agora.
Mesmo assim, ainda somos maiores que o PT. A gente é maior que muitos partidos no Brasil. Em São Paulo, e falo mais de São Paulo, porque eu sou presidente estadual, temos 22 prefeitos hoje. Fomos para o segundo turno em Piracicaba, que é uma cidade importante, com o Barjas Negri, que deve ser o nosso prefeito, e vamos ter um protagonismo de governar mais de um milhão de eleitores em Santo André, Marília, Tupã, e outras cidades do interior do Estado.
É claro que se comparar quando era um governo do PSDB, 28 anos no Estado de São Paulo, a gente chegou a eleger 200, 300 prefeitos. Mas, o fato é que, assumimos o partido no ano passado. E hoje, o partido cresceu, inclusive, em número de vereadores.
Então, é um recomeço. Nós queremos buscar voltar a ter protagonismo no cenário nacional e estadual. Pulamos esse protagonismo em 2022. As consequências viriam nessa eleição, sabíamos disso. Mas, para este recomeço, estamos mais fortes, mais unidos e até, quantitativamente, mais presentes em todas as regiões do Brasil e da cidade.
A Raquel Lyra, governadora em Pernambuco, fez um grande trabalho. O Eduardo Leite fez um grande trabalho político, não só de gestão. Elegeu 40 prefeitos no Rio Grande do Sul, elegemos 60% no Mato Grosso do Sul, onde a gente tem o Eduardo Lírio.
A Raquel elegeu mais de 30 em Pernambuco. Pela primeira vez, cidades importantes como Caruaru e outras. Minas Gerais, fizemos 60 prefeitos. E mesmo São Paulo, com 22 e mais um, agora, no segundo turno, e tem a questão ainda da federação, que tem cidades importantes, como a nossa vizinha São Bernardo, que está representada pelo Alex Manente, no Cidadania. Então, vejo, para um momento de recomeço, de reinvenção, de reposicionamento, vejo um bom reinício com esse número de prefeitos e vereadores para a gente, como disse, voltar a ter protagonismo em 2026.
FOLHA- Analisando essa questão em outro aspecto, no Brasil, o sistema partidário, entre 1994 e 2012, foi marcado por dois pólos atuantes, o PSDB e o PT e que fizeram oposição, durante todo esse tempo, até 2018, quando teve a ascensão do bolsonarismo. Atualmente, o PSDB não encabeça mais essa polarização. O partido pretende, novamente, encabeçar essa polarização ou vocês têm outro objetivo?
Serra- É difícil a gente responder. Agora, tem quadros, temos prefeituras, temos tamanho para isso. Nós somos maiores que o PT hoje, apesar do PT ter a Presidência da República. Do ponto de vista de municípios, em São Paulo, então, são 22 a 3 prefeitos. O PT só ganhou 3 prefeituras.
Está disputando mais duas na região, mas só ganhou 3 por enquanto. O que a gente quer mostrar para a sociedade, não é uma coisa que a gente consegue executar por nós mesmos. Temos que chegar nas pessoas com a seguinte mensagem, que é o que a gente precisa cada vez mais intensificar.
A importância da gente ter candidatos majoritários é justamente porque é a oportunidade que o partido tem de mostrar suas ideias nas candidaturas. Fora desse período eleitoral, a própria dinâmica da sociedade aqui no Brasil, as pessoas não prestam tanta atenção em propostas, em ideias, em discussões, por exemplo, da reforma política ou de outras reformas.
Então, se o PSDB quiser voltar a ter protagonismo, precisa fazer um planejamento para termos candidatos majoritários em 2026. Claro, onde for viável, tem que ver a questão das alianças, mas em especial no plano nacional.
Precisamos estar inseridos nessa discussão. O grande desafio, a meu ver, não é crescer numericamente. O grande desafio é voltar a seduzir as pessoas, no sentido delas voltarem a prestar atenção no PSDB, como um partido que já foi no passado, nessa época que você fez referência, na polarização com o PT, como um partido de boa gestão, de bons quadros, não só em São Paulo, mas a gente chegou a ter metade do Brasil governado por tucanos, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso. A perda de quadros, a não renovação dos quadros políticos também do próprio partido, o partido envelheceu, a questão da rede social, da internet, o partido não está presente nisso com a força que deveria.
Então, tudo isso está sendo já revisto, já foi revisto um pouco nessa eleição, e é isso que a gente quer construir, essa reconexão, as pessoas voltarem a identificar nos quadros tucanos, nos quadros desse centro moderado, mais equilibrado, mais racional, longe dessa polarização extremada que a gente vê, e ao meu ver pobre de ideias e de projetos para o Brasil, que o PSDB pode ser uma opção, uma alternativa.
Mas, é um processo de médio prazo, não é do dia para a noite. É possível, é possível, mas talvez seja para 2028, 2030, 2034. O PSDB foi criado, fundado e, três anos depois, teve a presidência da República com o Fernando Henrique.
Então, também cresceu muito rápido, e como disse, tinha grandes quadros, ministros e praticamente todos os bons quadros das políticas públicas do Brasil para o PSDB, naquele período, tanto que o Fernando Henrique fez um governo muito bom, do ponto de vista da estabilização da moeda e de todas as contribuições que colocaram o Brasil nesse rumo, pelo menos, estabilidade econômica para o mundo.
Precisamos retomar isso de alguma forma, nesse mundo diferente que a gente vive hoje, não são as mesmas fórmulas do passado. Apesar, mais uma vez, apesar de todos esses números parecerem desanimadores, encaro isso como um grande desafio. E de mostrar para as pessoas, basicamente, que existe vida inteligente longe dos extremos.
Desses extremos mesmo que, a meu ver, não estão contribuindo nada com o debate, com a evolução do país.
FOLHA- No seu entender, o PSDB deveria se posicionar, não na polarização, mas sendo outra alternativa?
Serra- Como uma terceira alternativa a essa polarização. O Fernando Henrique tem uma frase boa, que ele diz que a gente tem que ser radical de centro e acho que é isso mesmo, porque as nossas gestões são assim. Tem grandes exemplos, bons quadrosna direita, tem bons exemplos e grandes quadros na esquerda também. É a radicalização que atrapalha. Quando a gente ganha eleição, temos que convergir e governar para todos.
Não vamos separar as pessoas por nenhum critério, muito menos o critério ideológico ou partidário. Mas, temos que ter essa racionalidade, esse equilíbrio.
FOLHA- E qual análise o sr. faz do PSDB no ABC, nessas eleições?
Serra- O PSDB na região foi um pouco consequência desse processo macro que o partido diminuiu quantitativamente. Fizemos em Santo André, estamos no segundo turno com a federação. Alguns prefeitos da região, respeitamos muito,preferiram lançar e apoiar candidatos de fora do PSDB, e aí cada um tem a sua questão local, a gente respeita, mas não estão inseridos, ao meu ver, no projeto, neste projeto partidário.
Em Mauá, ficamos em quarto lugar, mas fizemos vereador, o segundo mais votado. Então, tem em Mauá já uma semente plantada, para o partido começar também a se reconstruir e nas outras cidades a gente tem presença partidária.
Agora, é trazer bons quadros, fazer esse trabalho em Santo André, que acabou se tornando a maior cidade tucana do Brasil. É a maior do Estado de São Paulo e do Brasil e, a partir daqui, vamos, não tenho dúvida, fazer com que esse sentimento, mais até do que uma sigla, esse sentimento das pessoas identificarem na social democracia um bom caminho pro desenvolvimento da qualidade de vida, vamos fazer isso no ABC também.
FOLHA- E o sr. vai se posicionando, cada vez mais, como um líder tucano?
Serra- É porque acredito. Não é uma questão de apego à sigla em si, são as ideias, é um modelo. Em Santo André deu certo, enfrentamos o PT e o PL e ganhamos no primeiro turno.
Não foi por falta de opção. A gente vê que as cidades não tinham muita alternativa. Também, era uma eleição muito dividida, principalmente em cidades menores. É um prefeito contra o ex-prefeito.
Então, em Santo André nós tínhamos candidatos do PT, PL, PSB, que é uma esquerda mais disfarçada, o PT com o PSOL na mesma chapa. Então, tinha alternativas e, mesmo assim, as pessoas não optaram. A eleição municipal é muito mais focada, claro, no dia a dia, no cotidiano, na cidade, mas isso tudo é consequência, acredito nisso, por isso que, como você falou, dessa questão da liderança no PSDB, acredito que mesmo para melhorar a vida no cotidiano nas cidades, que é onde as pessoas vivem, parte de um modelo de gestão que a social democracia prega, ensinou para São Paulo e para o Brasil e que, talvez nessa polarização, hoje, mais intensa, acabou se perdendo, de alguma forma.
A gente viu a eleição em São Paulo, na Capital, foi se discutir propostas, no último debate, quase, do primeiro turno. Quando a gente chega ao ponto de uma eleição da maior cidade do país, ter que ter segurança, ter que soldar a cadeira no chão, a gente vê que o debate já foi. Isso é consequência, a meu ver, dessa polarização estéril, que a gente vive.
É por isso que acredito e vou continuar acreditando,no planejamento, na dedicação, em levar a sério um plano de governo, em estudar política pública, gestão pública.
Você também aprende. É ciência. É claro que tem a questão humana varia, uma ciência humana não é uma ciência exata, mas você tem técnicas, diagnóstico, disposição, boa equipe, isso dá certo e Santo André está mostrando isso.
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