Política

Paulo Serra: “O que me move é poder contribuir para melhorar a vida das pessoas”

O prefeito de Santo André, Paulo Serra, em sua última entrevista do segundo mandato à Folha falou sobre as conquistas para a cidade, nestes oito anos, os principais projetos, programas desenvolvidos, sobre a continuidade do governo com seu sucessor Gilvan Júnior, do momento mais difícil do governo. Também fala sobre seu futuro político e sobre as eleições de 2026 e 2028. Confira.

FOLHA DO ABC- O sr. chega aos últimos dias de governo. Como o senhor está se sentindo e como avalia essa evolução de Santo André nesses oito anos?

Paulo Serra- Éuma mistura de sentimentos, na verdade. A gente fica muito feliz de terminar esses oito anos com tantas evoluções, conquistas, tanta coisa legal que a gente tirou do papel,o carinho das pessoas, o reconhecimento que a cidade, de maneira muito clara, expressou, não só nas pesquisas de opinião, mas principalmente na eleição, quando a cidade escolheu a continuidade, escolheu a sucessão, escolheu o mesmo time,que a partir de janeiro vai ser liderado pelo Gilvan.

Então, a gente vê aí muitas gestões, prefeitos que não conseguiram fazer o seu sucessor e a gente entende isso como uma prova inequívoca, muito forte de que a cidade está no caminho certo.

Todo esse pacote de relação com a cidade, carinho das pessoas é, sem dúvida, motivo de alegria. Mas, paralelo a isso, tem um pouquinho de tristeza também, uma certa saudade, porque gosto muito de ser prefeito, me preparei praticamente a vida pública toda para isso.

E já são oito anos. É muito tempo. O nosso cotidiano, o nosso dia a dia está ligado diretamente ao gabinete, às histórias, a esse dia a dia com a cidade. Então, deixa uma certa saudade, sim, mas aquela boa sensação, também, do dever cumprido é algo que nos dá uma alegria muito grande.

FOLHA- Qual foi o momento de maior satisfação como prefeito e a maior conquista para a cidade?

Serra- É difícil falar uma só. Mas, a conquista, na minha opinião, pode parecer até estranho, mas não é uma obra. A maior conquista para a cidade foi o sentimento que a nossa gestão conseguiu resgatar no morador. E esse sentimento é o sentimento do orgulho, do amor, do pertencimento. Essaé a maior conquista de uma cidade. Um viaduto é legal, as dez creches que a gente entregou, 50 unidades de saúde, os 400 km de asfalto, o Banho de Luz, a Av.dos Estados, o Hospital Veterinário,os parques Guaraciaba, Pedroso, os teatros Carlos Gomes, tem muita coisa para a gente falar, obras, entregas, programas, o Moeda Verde, Escola de Ouro, tantos programas de sucesso.

Mas, acho que tudo isso somado, e cada um enxerga e vive a cidade de um jeito, fez com que a cidade recuperasse esse sentimento, essa relação de proximidade. E esse é o maior legado, essa é a maior marca e acho que essa é a maior conquista da nossa gestão, não tenho dúvida.

FOLHA- Em relação aos desafios, qual foi o momento mais difícil do governo?

Serra- Foi o início. Sem dúvida nenhuma, porque era o estado de falência financeira da cidade, a cidade estava com o nome sujo. Então, a gente teve que implementar, o que a gente chamou na época do novo modelo de gestão, que limpou o nome da cidade, a gente vendeu carro oficial, celular corporativo, devolvemos imóveis alugados, fizemos um choque mesmo e foi dando resultado. Asaúde financeira foi se recuperando, mas além da questão financeira, a cidade estava feia, suja, caótica, sem credibilidade e ainda tivemos, logo no início, a queda de duas pontes da Avenida dos Estados. Então, temos R$ 1,5 bilhão de obras entregues em andamento.

É outra cidade, é outra saúde financeira. Mas, naquela época, quando caíram duas pontes, a gente não tinha nem capacidade de fazer a ponte de novo. E uma delas passava o Trólebus. Então, era o corredor ABD que a gente estava interrompido por conta de uma grande chuva que caiu logo no início de 2017. Então, os primeiros seis meses foram muito difíceis.

Agora, não dá também para a gente falar de dificuldades sem citar a pandemia, que não era uma questão de Santo André, foi uma questão mundial, mas também foram anos muito desafiadores.

FOLHA- Faltou alguma coisa que o senhor gostaria de ter realizado?

Serra- Não digo que faltou, mas poderia ter sido realizado algumas coisas que estavam no nosso planejamento e que a pandemia que nos obrigou a replanejar.

Vou dar um exemplo do símbolo da cidade. Está no nosso Plano de Governo recuperar todos os símbolos. A gente recuperou o Parque do Pedroso, o Guaraciaba, recuperamos o Teatro Carlos Gomes, o Teatro Municipal, o Conchita de Moraes, a Av.dos Estados, muita coisa.

Mas a rua Oliveira Lima, o Centro da cidade. A gente fez o projeto, tirou do papel, o Gilvan vai começar, não tenho dúvida, mas a gente não conseguiu evoluir na velocidade que a gente gostaria. Então, é só para dar um exemplo de algumas coisas que a gente teve que replanejar.

Tudo aquilo que a gente pensou, programou, ou a gente entregou, ou a gente iniciou. E só não foi mais por conta desses dois anos. Eu sempre brinco que a gente teve oito anos de Prefeitura, mas de verdade, a gente teve cinco anos. Porque o primeiro ano, já disse aqui, foi o ano da reconstrução. E os dois anos de pandemia a gente ficou focado e não tinha como ser diferente, em salvar a vida humana, em vacinar, no começo em cuidar das pessoas nos hospitais, alimentar as pessoas, porque naquela crise estava tudo fechado, e logo quando chegou a vacina a gente se preocupou em vacinar as pessoas, repor através de educação à distância, fazer todo esse cuidado. Então, esses dois anos também acabaram, de alguma forma, prejudicando um pouco o planejamento, mas mesmo assim a cidade saiu muito bem e os números mostram que a gente evoluiu em todas as áreas.

FOLHA- Qual a marca do seu governo?

Serra- Se a gente for olhar os números, temos um destaque, por exemplo, de uma coisa que não aparece, mas que é fundamental, o saneamento básico. Em Santo André, quando assumimos, tínhamos 27% de esgoto tratado. Hoje, temos 94%. Para nós é um aumento na questão da qualidade de vida, no cuidado das pessoas. Não aparece, porque fica embaixo da terra. Ninguém investe em esgoto. É muito importante. A reciclagem aumentou 150% com o Moeda Verde e com ampliação dos programas. A gente saiu de 32 mil alunos na rede municipal para 42 mil, ampliamos de 20 para 50 a escola integral. Crescemos 315 posições do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e somos, hoje, a cidade que mais alfabetiza na idade certa em toda a região sudeste, são 94% das nossas crianças.

Então, são números que mostram a evolução. A gente aumentou em 30%, um terço a capacidade de atendimento da saúde pública na cidade, com o Poupatempo da Saúde e vários outros equipamentos, além da qualidade que é outra. Os índices de sustentabilidade estão todos melhores. Saímos de 32 câmeras para 3 mil câmeras na cidade. Temos uma cidade toda monitorada. Então, tudo isso fez uma percepção de que a qualidade de vida da cidade melhorava. Agora, se eu fosse destacar um, acredito que essa questão do tratamento de esgoto, saneamento básico, apesar de ser muito essencial e, como o próprio nome já diz, muito básico, é, sem dúvida, um destaque para a cidade.

FOLHA- Tem algum arrependimento no governo em algum momento?

Serra- Acredito que não dá para falar de arrependimento. Algumas coisas a gente faria depois da experiência, porque não dá para comparar a visão que a gente tem de cidade e de gestão, do que a gente tinha em 2017 e o quanto a gente aprende e aprendeu, em oito anos, no dia de hoje. Então, algumas coisas, talvez, eu tivesse dialogado mais para fazer, mas de uma forma geral o saldo é muito positivo.

“Nunca vou deixar de participar em Santo André, de ajudar quem estiver governando”, diz Paulo Serra

FOLHA- O governo do Gilvan será da continuidade do senhor, que tem uma maneira de administrar a cidade, deixou sua marca no governo, mas ele terá o jeito dele também. Até que ponto haverá essa continuidade do governo Paulo Serra e quando vai ser o governo Gilvan?

Serra- Acho que a individualidade, o estilo, isso cada um tem o seu, todos têm. É natural do ser humano e o governo do Gilvan não tem que ser uma cópia. Falei muito isso com ele, ele é um grande parceiro, o Gilvan é produto da nossa equipe. Ele saiu daqui de dentro. A gente foi buscar ele em 2016, ainda quando ele era gerente de mercado, para vir para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Ele foi diretor, foi secretário adjunto, depois foi secretário. Foi para saneamento, saúde, passou em planejamento, passou em várias secretarias. Então, ele é resultado de um modelo de gestão. A individualidade e as características de cada um não se sobrepõem ao modelo.

O grande segredo da continuidade é o modelo e o Gilvan, como ele é fruto desse modelo, se desenvolveu como gestor aqui dentro. Não tenho dúvida que ele vai manter o modelo porque está funcionando. Também a gente tem que respeitar a vontade da própria cidade. Quando a cidade vota, 61% dos votos no primeiro turno, nele que representava esse modelo, a gente tem que respeitar essa vontade da maioria e, justamente, entregar para a cidade a continuidade. Não tenho dúvida que, claro, independente das características que nos diferem, a gente tem muita coisa em comum, mas tem também, óbvio, muitas diferenças de características, mas o modelo está muito consolidado e ele vai continuar.

E temos já o calendário do ano que vem do Gilvan, já tem entrega para caramba, obras importantes. Não tenho dúvida que a cidade vai ser mantida nesse ritmo.

FOLHA- Na área política, o senhor tem um nome forte, não só em Santo André, como fora da cidade, também. Como irá continuar contribuindo para Santo André na área política e, principalmente, com a sua trajetória em 2026?

Serra- Tínhamos como ideia fazer com que Santo André e o ABC o ABC fossem protagonistas e a gente conseguiu. Presidir um partido como o PSDB, para mim, é motivo de orgulho. Claro que o PSDB, hoje, não tem mais o mesmo tamanho, a mesma relevância do que já teve no passado, mas é importante ter essa direção estadual e levar esse modelo que a gente construiu em Santo André para todo o Estado e, quem sabe, para o Brasil.

Vou estar à disposição justamente disso, de continuar na vida pública, de continuar praticando a boa política. Não tenho dúvida que, através de várias prefeituras, fizemos prefeitos aliados, amigos e prefeitos do nosso partido. Vamos conseguir fazer com que esses prefeitos também consigam implementar em suas cidades programas exitosos, como a gente fez em Santo André. E vamos ver o que o destino guarda pra gente também. Não tenho nenhuma obstinação por cargo, por eleição. A política é uma causa. A política pública, essencialmente, deve ser uma causa. O que me move é poder contribuir para melhorar a vida das pessoas. E aí, graças a Deus, a gente deixou muitas portas abertas e vamos continuar atuando. Mas, primeiro, vou cumprir um compromisso fundamental, que é as minhas férias com a Maria. Prometi a ela que neste mês de janeiro, a gente ia tirar férias, de verdade, férias escolares, que ela nunca teve. A Maria, quando me tornei prefeito, tinha um ano de idade.

Mas, até o final de janeiro, devo estar de volta. E vamos continuar na vida pública. Temos muitos projetos pela frente, convites interessantes. E pouco a pouco a gente vai falando.

FOLHA- Em 2028 ou 2032, a população pode esperar um retorno do senhor ou da deputada Ana Carolina como prefeita?

Serra- Está muito longe. Sinceramente, não está nos meus planos voltar à Prefeitura. Até porque é um grupo político, é um modelo.Então, esse grupo vai ser representado pelo Gilvan. Pode ter alternância dentro do próprio grupo, mas não pretendo, não. Pretendo levar essas experiências, quem sabe, no âmbito estadual, no âmbito federal, mas a gente vai estar sempre à disposição da cidade.

Nunca vou deixar de participar em Santo André, de ajudar quem estiver governando, de fazer parte do time, do grupo, de ajudar com as experiências que a gente adquiriu, porque é o quintal da nossa casa. Amo muito essa cidade, não me vejo fora de Santo André, vivendo, morando. A nossa vida está toda aqui e a gente quer sempre continuar contribuindo.

FOLHA- Como o senhor gostaria de ser lembrado como prefeito?

Serra- Um prefeito que ama as pessoas, ama a cidade e cuidou dessa cidade como se fosse cuidar da sua própria família ou de uma grande família que é a família Santo André. 

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