
A delegada do 4º DP de Santo André, Nathalie Murcia Rodrigues dos Santos, na quarta (30), coordenou operação na qual foram apreendidas canetas, muito usadas para fins de emagrecimento, que estavam sendo importadas e manipuladas, de forma ilegal, sem nota fiscal ou prescrição médica, em laboratório de Santo André.
Após duas denúncias anônimas, policiais civis do 4º Distrito Policial compareceram, na tarde de quarta (30), à Rua das Figueiras, nº 765, bairro Jardim, em Santo André, local onde estavam sendo armazenados os medicamentos, de uso proibido no Brasil, e que serve como laboratório da empresa Bras Medical, sob a responsabilidade do sócio Carlos Roberto Soares.
No espaço, foram encontradas canetas de insulina previamente esvaziadas e preenchidas com a substância conhecida como tirzepatida (utilizada no Mounjaro), além de frascos, seringas, kits montados para remessa aos clientes, caixas térmicas e empolas, tabelas de conversão de unidades e kits afixadas na parede, além de etiquetas contendo o nome do princípio ativo, suas dosagens e a inscrição “Made in USA Athenas Labs Inc. + 1 800-495-1026” que, assim, denota a falsidade da informação da procedência e induz consumidores a erro quanto à procedência.
Também foram localizados cadernos com todas as entradas e saídas dos insumos, instruções de manipulação, quantidades utilizadas, com nomes dos clientes compradores, além de folders de instrução de uso e armazenamento. Ainda, foram realizadas diligências no veículo particular do proprietário, Carlos Soares, e foram encontradas na caçamba da caminhonete diversas caixas prontas para remessa postal, contendo os kits com canetas e seringas, além de outros insumos, em condições não condizentes com as normas de armazenamento térmico.
No laboratório, foram localizadas diversas canetas preenchidas originariamente com insulina glulisina Apidra Solostar, do laboratório Sanofi, posteriormente esvaziadas, nas dependências da Bras Medical, para a inserção da substância denominada como tirzepatida. As doses manipuladas e vendidas em cada caneta, pela Bras Medical varia entre 10mg, 7,5mg, 15mg, 5mg, 15mg, conforme anotações no caderno, nas etiquetas, canetas e ampolas.
Uma das caixas de tirzepatida localizada, correspondente ao lote 59500, com validade para 11/26, indicam a procedência como “Fabricado por Indufar Cisa, Paraguay”, contendo, no interior, diversas ampolas correspondentes ao mesmo lote com dosagem de 10mg.
A única fornecedora legal de medicamentos à base de tirzepatida, comercializado sob o nome comercial de “Mounjaro”, aprovados pela Anvisa e outras agências regulatórias, é a Eli Lily, que também não fornece o ingrediente ativo para terceiros, de forma que a procedência da tirzepatida vendida por farmácias de manipulação e congêneres, incluindo plataformas online, é proibida em território nacional, representando riscos à saúde pública, sobretudo porque não se sabe a procedência da substância manipulada e vendida pela Bras Medical.
A Anvisa não permite a venda de Mounjaro manipulado, porque a embalagem registrada na agência regulatória não é fracionada e o medicamento só pode ser vendido com receita. Vale lembrar que farmácias de manipulação não comercializam as chamadas “canetas injetoras”. Seus medicamentos são entregues em frascos-ampola, para aplicação com seringa, sempre mediante prescrição médica.
À Folha, a delegada Nathalie Murcia, falou sobre a operação e os próximos passos. “Foi desafiador e muito gratificante, mas o apoio da equipe foi fundamental nas diligências e na organização da apreensão, devido ao grande volume de materiais envolvidos”, disse.
Carlos Soares foi preso, submetido a exame de corpo de delito e será apresentado, nesta quinta (31), na audiência de custódia. “Na audiência de custódia ele poderá ser liberado, com a imposição de medidas cautelares, para responder ao processo em liberdade, ou terá a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva e aguardará o julgamento preso”, explicou Nathalie.
Adicione um comentário