14/07/2012
A CUT – Central Única de Trabalhadores, braço sindical do PT, decidiu desafiar o Supremo Tribunal Federal a respeito do julgamento do “mensalão”, marcado para o mês de agosto próximo. Disse seu futuro presidente Wagner Freitas que o julgamento não pode ser político. “Se isso ocorrer – esbrafejou -, nós questionaremos e iremos para as ruas”. Advertido por companheiros, pretendeu recuar dessa bravata lembrando “não ter dúvidas de que será um julgamento técnico”.
Para os que ainda não sabem, o processo sobre o mensalão gira em torno de grave denúncia do Procurador Geral da República sobre uma nefasta prática surgida e aperfeiçoada no governo Lula de contribuir mensalmente com importância em dinheiro para que deputados e senadores votassem a favor das propostas do então presidente da República sujeitas à apreciação do poder legislativo. A denúncia formal levada ao Supremo Tribunal aponta 38 acusados de recebimento desse tipo de propina, formação de bando ou quadrilha, corrupção e outros tipos de crime. O processo tramita há seis anos naquela Corte, envolve vários réus e seus diversos advogados, formando um complexo de dezenas de volumes, cuja apreciação reclama cuidados e especial atenção dos ministros julgadores. E para os que não se lembram, vale recordar que o então presidente Lula chegou ao ponto de pedir desculpas ao povo brasileiro pela gravidade da situação moral que o caso envolvia, declarando-se traído por companheiros.
Houve um tempo, na história sindical brasileira, que o então líder Joaquinzão era tido como verdadeiro pelego a serviço do empresariado. Como os tempos mudam, e com rapidez cada vez maior, surge agora esta veneranda Senhora Cut travestida de uma pelegagem escancarada, agora a serviço do PT e do governo federal, especialmente na era Lula. Sim, porque com a presidente Dilma ela não goza de aproximações maiores.
O que fica desse episódio lamentável de desafio explícito da CUT a um dos poderes do Estado, o Judiciário, é a exposição às claras de certa vocação antidemocrática das nossas esquerdas, sob disfarces de ocasionais manifestações de respeito à Democracia. Mas não nos iludamos: seu autoritarismo nos leva a temer por eventuais maiores avanços desses grupos, a CUT incluída, aos quais o ex-presidente Lula devotava e ainda devota atenções e carinhos especiais. Diz velho provérbio popular: se quiseres conhecer o vilão, ponha-lhe o bastão na mão. O bastão, no caso, tanto pode ser uma arma como a força de um mandato popular cumprindo o papel de degrau para a conquista de poderes ditatoriais.
Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: antoniotitocosta@uol.com.br