Semana passada falei aqui das festas juninas, uma constante celebração popular em todo o Brasil, das mais ricas e autênticas entre nossas manifestações culturais. Afinal, qual a origem de todas essas festanças que se repetem a cada ano nas escolas, nos clubes, nas ruas, com fogueiras, foguetes e em todos os lugares, o curau, o bolo de milho, balões (que pena, agora proibidos) e o indefectível quentão com pinga ou vinho ? A pesquisadora Lúcia Helena Vitali Rangel nos dá a resposta em excelente estudo sobre o tema: “Festas Juninas, Festas de São João, Origens, Tradição e História” (Ipsis Gráfica Editora-SP, 3ª edição – 2008).
Doutora em Antropologia pela PUC de São Paulo, estudiosa da etnologia indígena, autora de vários trabalhos nessa área, ela estudou o tema e nos informa que tais festividades remontam a um tempo muito antigo, anterior à era cristã. Conta-nos que o mês de junho, tempo do solstício de verão era, no Hemisfério Norte, a época do ano em que diversos povos – egípcios, persas, celtas bretões – faziam rituais de invocação de fertilidade, estimulando a vegetação, promovendo a fartura nas colheitas, implorando as chuvas.
Daí, as festividades passaram a Portugal chegando ao Brasil pela mão dos descobridores. Alguns cronistas registram, segundo essa autora, que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas em junho provocando grande atração entre os indígenas. O período que vai de junho a setembro é de seca em muitas regiões do Brasil, o solo preparando-se para o plantio, aguardando as chuvas, tempo propício para pescar, caçar e dançar. E assim, a autora destaca certa coincidência entre o propósito católico de atrair os índios ao convívio missionário da catequese e as práticas rituais indígenas, simbolizadas pelas fogueiras de São João. E acrescenta: “Talvez seja por causa disso que os festejos juninos tenham tomado as proporções e a importância que adquiriram no calendário das festas brasileiras”. Todos nós sabemos que Caruaru (Pernambuco) e Campina Grande (Paraíba) são as cidades onde se realizam as maiores festanças de São João, comemorado em 24 de junho. Santo Antonio inicia o ciclo em 13, e São Pedro encerra em 29 as festas do mês. O casamenteiro, meu xará Antonio, é o último refúgio das casadoiras e esta quadra poética bem o diz: “Meu Santo Antonio querido/Meu santo de carne e osso/se tu não me dás marido/não tiro você do poço”. O livro da pesquisadora Lúcia Helena Vitali Rangel é uma preciosidade para todos os que se interessam pelas coisas do Brasil, sua cultura, seu folclore, sua gente, costumes e rezas. (endereço da Editora na internet é: www.yoki.com.br / Habilite-se quem quiser).
Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: antoniotitocosta@uol.com.br