
Conheci José Rossi aos 14 anos em 1974, ele me viu jogando pelo infantil do Palestra de São Bernardo no campeonato da cidade e me convidou para participar das escolinhas de Futebol de São Bernardo, criadas, organizadas e desenvolvidas por ele.
As aulas eram no “Estrelão” no bairro de Nova Petrópolis, atual Campo de Futebol Milton Caldeira, administrado pela Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo do Campo, onde ainda hoje, jogo minhas peladas e torneios internos do clube.
As aulas para as crianças e adolescentes nas escolinhas de Futebol tinham uma amplitude infinitamente mais abrangente do que simplesmente técnicas de gestos esportivos, táticas e estratégias do jogo.
Seu Rossi utilizava conceitos acadêmicos e científicos da matemática, física, química, entre outros, para nossas atividades esportivas; aprendíamos a respeitar a natureza, alimentar-nos com comida saudável e agir com respeito e ética em tudo que fazíamos. Era exigente e estimulava todos ao estudo porque, dizia ele, esse era o nosso maior bem e legado na Vida.
Nos campeonatos internos as equipes tinham nomes de pássaros: Andorinha, Sabiá, Bem Te Vi; e de árvores: Mangueira, Pau Brasil, Ipê, Jatobá, despertando-nos para os conceitos ecológicos.
Era tradição, na abertura dos torneios, o plantio de árvores, que até hoje fazem sombra, dão frutos e nos aliviam do calor, nos campos da cidade.
Seu Rossi mostrava-nos que as vitórias, nos campos e na vida, têm significado e valor, quando respei-tadas as regras do jogo e quando vencemos de maneira limpa, pelos nossos esforços e qualidades, sem trapaças, com respeito e ética.
Tratava a todos sem distinção de etnia, cultura, deficiência, situação sócio-econômica, habilidade – tinha sensibilidade para reconhe-cer as individualidades, respeitá-las e fazê-las atuar em prol de fortalecer o coletivo. Nos provocava com desafios fazendo-nos acreditar que era sempre possível sermos me-lhores, principalmente como seres humanos, antes de sermos boleiros ou jogadores de futebol. O mais importante era sermos cidadãos.
Com ele obtive a minha grande conquista esportiva no futebol – Campeão dos Jogos Regionais em Ribeirão Pires, em 1980, vencendo o Santos dirigido pelo Coutinho – parceiro de Pelé naquele fantástico time do Santos F.C. que conquistou o mundo.
“Bola Nos Pés Livro Nas Mãos”, livro de sua autoria, inspirado na sua atuação, excursões e incursões pelo Japão, Cuba, Paraguai, Argentina, Itália, seja com intercâmbio esportivo ou formativo, marcou a carreira e a vida de muitos, ao levar a filosofia de vida e esportiva deste mestre imortal.
Nos anos 1990, já formado Professor de Educação Física, o destino me colocou junto ao mestre novamente – me convidou para atuar com ele na Coordenação das Escolinhas de Futebol da cidade – foram anos memoráveis de realizações que até hoje refletem positivamente.
Em 2003, junto com os professores Benedito Carlos Maragno, José Luiz Jucá e Rubens dos Santos, quando estávamos à frente da Secretaria de Esportes de São Bernardo, denominarmos o campeonato de base da cidade de “Campeonato Municipal José Rossi”, adequando regulamento, colocando objetivos educacionais, como, por exemplo, a punição aos palavrões, a obrigatoriedade de todos inscritos jogarem e principalmente o torneio ser ferramenta de inclusão social.
A cidade diz Muito Obrigado, Eterno Mestre.
Dado Assumpção – integrante da AME (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo)
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