Política

Sindpesp completa 29 anos com primeira presidente mulher

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) completou 29 anos, na última quinta (25). Confira entrevista exclusiva concedida à Folha do ABC, com a presidente, a delegada Raquel Kobashi Gallinati (foto), que nos revelou que a principal missão dos delegados é atuar na pacificação social, que São Paulo paga o pior salário do Brasil para Delegado de Polícia e que só uma Polícia Judiciária forte tem condição de prender o criminoso apresentando provas para que fique preso pelo tempo que a Justiça mandar. Confira a entrevista completa.      

Folha do ABC- A sra. é a primeira presidente mulher do Sindpesp, quais as principais ações desenvolvidas no seu mandato (breve relato)? Há foco especial para as mulheres?

Raquel Kobashi Gallinati- Fui eleita a primeira presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, em 2016, mas nunca havia pensado em ser representante de classe. Amo ser Delegada de Polícia e exerço minhas atribuições com paixão. Somos os primeiros garantidores da legalidade e da justiça. Conseguimos atuar diretamente na pacificação social. Tanto buscando provas para uma condenação ou buscando provas para uma não condenação, fazendo sempre prevalecer a justiça. Sou delegada desde 2012, já trabalhei inúmeras vezes elucidando crimes e, hoje, com todos os diretores do sindicato, defendemos a Polícia Civil, buscando melhorias, o resgate da dignidade do Delegado de Polícia e o fortalecimento de nossas prerrogativas.

Folha-O Sindpesp completou 29 anos, na última quinta (25). Quais as principais conquistas ao longo desses anos? 

Raquel- Cumprimos nossa obrigação. Acompanhamos de perto a situação da classe e cobramos fortemente do Governo do Estado ações em prol da Polícia Civil, da segurança pública e da sociedade.

No Estado de São Paulo, faltam efetivo, estrutura, valorização e apoio para a Polícia Civil. São Paulo paga o pior salário do Brasil para seu Delegado de Polícia, que investiga crimes no Estado mais rico do país. O Governo de São Paulo não repõe as perdas inflacionarias desde 2012.

Há o enfraquecimento das prerrogativas do Delegado de Polícia, que apenas há poucos anos adquiriu legalmente o status de carreira jurídica, mas não teve previsão de garantias funcionais. O Delegado de Polícia do Estado de São Paulo ganha 40% menos em relação às demais carreiras jurídicas.

O Estado de São Paulo deve aumentar consideravelmente seu investimento na Policia Civil. Deve ampliar seu quadro de funcionários, zerando o déficit e criando mais cargos. A Polícia Civil deve ter autonomia institucional, de modo que seu dirigente maior seja eleito pela classe, a partir de lista tríplice.

Só uma Polícia Judiciária forte tem condição de prender o criminoso apresentando provas para que fique preso pelo tempo que a Justiça mandar.         

Folha- Há iniciativas do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo para tentar diminuir ou combater a violência contra a mulher, quais?

Raquel– Sou autora de dois livros que abordam a Lei Maria da Penha, em parceria com outros delegados de polícia, “Lei Maria da Penha – comentários artigo por artigo e estudos doutrinários” (lançado em maio deste ano) e “Combate à Violência Contra a Mulher: Medidas protetivas – Lei Maria da Penha” (ainda será lançado).

Apoiamos também iniciativas que visam a prevenção e denúncia de violência contra a mulher. A Polícia Civil sempre atua neste sentido, com ações voltadas à proteção da mulher vítima de violência doméstica. No próximo dia 31, por exemplo, a 4ª Delegacia de Defesa da Mulher, na zona norte, realizará um dia de exames e palestras que terá como tema “Cuidados com a saúde feminina”, ligada ao “Outubro Rosa”.

Folha- De maneira geral, quais os principais obstáculos que os delegados enfrentam para diminuir os índices de criminalidade do Estado?

Raquel- O delegado de Polícia é quem preside o inquérito policial e organiza as buscas investigativas. Ele coordena o atendimento, orienta a população quanto às dúvidas sobre seus direitos e como defendê-los. A Delegacia de Polícia é um dos únicos órgãos públicos que atende a população 24 horas por dia.

É no inquérito policial que a Polícia Civil produz as provas necessárias para que um suspeito seja condenado sem que haja qualquer dúvida. A Polícia, quando inicia uma investigação, não pretende “prender bandido”, mas descobrir a verdade, afastar a suspeita sobre inocentes e permitir que os reais culpados sejam punidos pelo que fizeram, com base nas provas obtidas.

São recorrentes as situações em que a Polícia Civil desbarata quadrilhas, retira assassinos e estupradores do meio social, identifica fraudadores e corruptos, com a certeza obtida durante a investigação.

Os delegados de polícia são qualificados para o devido esclarecimento de crimes, a identificação e prisão dos autores por meio da investigação dos casos. Cabe, porém, ao Governo do Estado e à Secretaria de Segurança Pública investir na estrutura das delegacias, em ferramentas de tecnologia e contratação de efetivo para que o bom trabalho realizado pelos delegados seja otimizado e, assim, seja possível trabalhar em muito mais casos.