Opinião

Sorrisos de esperança

Muitos meninos ali adoravam jogar bola. Moravam próximo à praia e eram pobres financeiramente, porém, ricos na alma.
Era um povo feliz. A molecada acordava cedo, ia para a escola, nadava no mar, ajudava as mães com tarefas domésticas e, no fim da tarde, se encontravam no campinho – um espaço plano sem qualquer demarcação de linha, cujas extremidades havia dois gols. A bola era um capotão com coloração avermelhada por causa da terra, cujos gomos de couro estavam rotos na superfície. Aquela bola quase descosturada simbolizava alegria e união.
Uma coisa curiosa acontecia no momento da brincadeira. Todos – independentemente de quantos times havia – jogavam com um pé descalço e o outro pé calçado: Algo cultural, até. Uma vez um jogador profissional resolveu visitar aqueles meninos daquela comunidade. Assim que o importante profissional da bola pisou naquele ‘terrão’ foi saudado pelos moleques que logo o reconheceram. O jogador cumprimentou todos e perguntou qual time eles gostavam mais. Todos responderam que torciam para o time em que o tal jogador profissional vestia a camisa.
A assessoria de imprensa do jogador já havia preparado uns presentes a fim de que fossem distribuídos para a molecada. -Tenho um presente para vocês meninos! Anunciou. Nisso ele vai até o parta-malas de seu carro que estava parado ali próximo, abre e veem-se vários embrulhos. Começa a entregar. Nome a nome. Os moleques começam a desembrulhar os presentes como se fossem a coisa mais maravilhosa do universo. E era! Chuteiras novinhas para que pudessem, daqui pra frente, jogar como bons profissionais. Na mesma hora que vestiram, tão logo foram correndo para o ‘campo’ bater uma bola. Agora com calçados novos, a brincadeira seria outra. O jogador profissional se despede e vai embora.
A comunidade era imensa. Havia milhares de garotos que adoravam jogar futebol, mas só tinha aquele campinho, de modo que, dentro do carro, já dirigindo de volta, o jogador profissional avista um grupo de outros tantos moleques correndo em direção ao terrão para também brincarem, porém esses meninos que haviam acabado de chegar ao campinho estavam descalços, e não de chuteiras novas.  O jogador pára o carro e fala para seu motorista: Ué, será que agora vão fazer times ‘chuteiras’ contra os ‘sem-chuteiras? Infelizmente não temos para todo mundo!
Mas ali ocorre uma cena interessante. Todos os meninos sentam ao chão, e os que estavam jogando com as chuteiras novas, tira apenas um dos pés e entregam aos respectivos colegas que haviam acabado de chegar, já que estavam descalços. Resultados: todos agora estão devidamente calçados com chuteiras novas, ainda que apenas com um pé. Os que já sabem amarrar ensinam os que não sabem.
O jogador profissional questiona para um deles que estava ali próximo.”Me fala uma coisa: Por que vocês jogam apenas com um pé descalço?”
 “Mas nós não jogamos com um pé descalço, senhor. A gente joga com um pé calçado.
E o melhor de tudo é que sempre há um sorriso no rosto dessas crianças.