Pode ser que eu esteja exagerando. Mas o que penso de braços e pernas e rostos inteiramente tatuados é que seus portadores serão, no mínimo, verdadeiros débeis mentais. Na origem do costume, lá pelos tempos perdidos na História, talvez fosse a maneira de cobrir o corpo, ou parte dele, a fim de preservarem uma certa pudicícia que deve ter nascido juntamente com a origem do homem (e da mulher também, claro).
Para alguns entendidos esse hábito de cobrir o corpo com intenções e desejos os mais diversos revelaria o propósito de impor-se como personalidade dife-rente, ou mesmo rebelde. Para outros, simples adesão à moda do momento, prática que se acentuou por aqui, como se vê à farta nos jogadores de futebol e artistas da TV. Alguns mais discretos, outros nem tanto, inteiramente inebriados e ignorantes dos riscos que as agulhas, o raio lazer e outros instrumentos de tortura produzem em seus corpos, naquela confusão de figuras e palavras nele marcadas. E, para sempre.
Muitos apaixonados (e desavisados) fixam em sua pele no braço ou na perna, ou no pescoço, o nome da pessoa amada. Depois da briga e da separação, com a chegada da “outra”, ou do “outro”, lá permanece a lembrança de antigo amor, dificilmente removível, a provocar o ciúme do parceiro atual e/ou de outros que passem a compor o elenco de suas conquistas amorosas e fugazes.
E há, nessa história, a questão da saúde. Se a pele do corpo é agredida por estiletes, agulhas, ou raio lazer, para a aplicação de tinturas e outras substâncias coloridas que vão sendo absorvidas pelo corpo (ou pelo organismo), quais serão (ou seriam) as conseqüências atuais ou futuras de tão estranha (e ingrata, e selvagem) forma de entregar seu corpo a um momentâneo devaneio de vaidade (e de estupidez, para dizer o mínimo)?
Ao chegar o momento do arrependimento, como fazer-se a eliminação desse entulho? Sabe-se que os mecanismos de ordem técnica para removê-lo, além de caros serão doloridos e nunca chegarão a eliminar por completo os danos na pele e no seu interior chegando, às vezes, até o núcleo da carne. Daí, a provocar, no mínimo, certa alergia será um passo que poderá transformar-se em estado infeccioso, exigindo medicação e cuidados especiais prontos a brigar com essa estranha e perigosa mania de exibicionismo.
Mas há, também, as discretas tatuagens de uma flor no braço ou no pescoço, ou no punho, mero enfeite. E há, até, essa manifestação de erotismo escondida em território mais intimo do corpo, cujo acesso ficará reservado ao alcance de alguns poucos e escolhidos privilegiados.